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O DIÁRIO DE TERESÓPOLIS
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Pedra do Camelo, símbolo de beleza e resiliência

Montanha na área do parque municipal é exemplo de recuperação após forte pressão antrópica

Quem visita a trilha da Pedra da Tartaruga hoje geralmente volta encantado pela beleza da região, facilidade de acesso e manutenção na portaria e caminho até o cume, assim como os que arriscam caminhada até uma formação rochosa vizinha à mais famosa, a Pedra do Camelo. Mas nem sempre foi assim. Nem sempre os visitantes encontraram torneiras com água límpida, gelada e cristalina, bancos e uma passagem aberta e vários pontos que convidam a ficar horas sentado admirando o visual. Antes da criação do Parque Natural Municipal Montanhas de Teresópolis, em 06 de julho de 2009, a situação era muito diferente nessas duas formações rochosas. Muito lixo, pichações, animais soltos e extração de pedras, sendo a última atividade a mais degradante, eram problemas comuns por lá. Oito anos depois, muita coisa mudou para melhor. Mas, mesmo com tantas conquistas, essa região ainda precisa “mostrar” a capacidade de resiliência para enfrentar novos problemas gerados por aqueles que infelizmente não deixam apenas pegadas ao visitar ambientes naturais.

A Tartaruga já foi destaque por aqui algumas vezes. Hoje vamos focar o cume vizinho, 220 metros mais alto. A Pedra do Camelo, também conhecida por alguns da região como “pedra da torre”, por ter em um dos seus pontos mais altos uma grande estrutura de ferro, aparentemente utilizada como base para antena de radioamador em anos passados, nas últimas décadas sofreu bastante com a retirada de pedras.

Tanto que, apesar da existência de uma unidade de conservação há mais de 100 meses, as lembranças do crime ambiental ainda são bem visíveis. Nos antigos acampamentos encontrados em uma das trilhas, que garante acesso ao cume e à localidade de Córrego dos Príncipes, ainda existem amontoados de pedra simetricamente preparados para serem transportados. De longe, a cada metro percorrido em direção ao topo da montanha, a vegetação ajuda a esconder tamanha atrocidade cometida em uma região tão valiosa ecologicamente.

Um antigo caminho

Estive novamente no Camelo cerca de duas semanas atrás. Tal montanha faz parte da minha história no esporte, foi um dos primeiros locais que visitei e me fez nunca mais querer praticar essa atividade. E, nesse retorno ao “embrionário montanhístico”, resolvi passar por uma antiga trilha, abandonada após a Tragédia de 2011 por conta de escorregamentos de terra em dois pontos. Hoje, não há mais riscos, mas muita beleza esquecida após a criação de outras rotas para se chegar ao cume.

Outros criminosos

Se felizmente não acontece mais a extração de pedras e funcionários do PNMMT recolhem resíduos sólidos deixados por alguns frequentadores, além de manter em dia as manutenções da trilha, dos bancos e torneiras que oferecem água de nascente encontrada justamente no caminho do Camelo, a preocupação hoje é com outro tipo de vândalo que tem visitado esse local (e consequentemente também a Tartaruga). Alguns infelizes têm utilizado os enormes blocos de granito no caminho para rabiscar seus nomes ou mensagens, algumas até religiosas, correndo o risco de autuação em flagrante e cadeia de até três anos. A punição é a mesma prevista para os pichadores, assim como a dificuldade de identificação desses criminosos.

Síndrome de Salomith

Ícone do montanhismo brasileiro, falecido no ano passado, Salomith Fernandes foi um dos responsáveis pela abertura do Caminho das Orquídeas, que facilitou consideravelmente o acesso para a Agulha do Diabo, na Serra dos Órgãos. No relato do desbravamento, ele conta que se deparou com lindo bloco rochoso, cheio de beija-flores, e ficou emocionado. Pela beleza da cena e por estar invadindo aquele intocado espaço.

E foi isso que senti ao acessar a antiga trilha do Camelo. Até o ponto final da parte mais aberta, o caminho utilizado hoje, as centenas de rabiscos feitos pelos ignorantes que frequentam tal região, inclusive no acesso de uma pequena chaminé. Na passagem quase histórica, conhecida apenas por quem já visita essa montanha há muito mais tempo, como eu, as paredes intocadas, tomadas pelas centenas de bromélias e marcas feitas pela lenta e perfeita ação do tempo, pela força da natureza e não pela pesada mão do homem, são impactantes. Apesar de meus olhos já terem visto tal cena tantas vezes, foi como a primeira. Fiquei extasiado e, de imediato, torcendo para que tal rota nunca seja explorada popularmente.

Um cume, “a vista”

Apesar de não estar sendo utilizado, tal acesso não está dos piores. Bati um pouco de facão e consegui passar pelo mesmo caminho de quase duas décadas atrás, com pequenas diferenças geradas pelos citados deslizamentos de terra. A trilha segue pela direita, acessando o cume bem próximo da estrutura de ferro, a torre.
O topo da montanha tem 1.400 metros de altitude e, lá de cima, é difícil eleger um lado como mais bonito a se admirar. Descortinam-se diante dos olhos as mais altas formações da Serra dos Órgãos, como Papudo e Pedra do Sino, a região de Santa Rita na outra extremidade, ou em sentidos opostos o imponente Arrieiro (Montanha conhecida também como Avalanche e na área do PNMMT) e o Parque Estadual dos Três Picos.

A trilha é curta, de cerca de dois quilômetros, acessada em aproximadamente 1h30 por conta do desnível do terreno. Apesar da localização em área urbana e diversas comunidades próximas, o cume do Camelo é um lugar para se passar horas contemplando, ouvindo apenas o barulho do vento ou canto dos pássaros. E fiz isso muitas vezes nos últimos anos, admirando tamanhas maravilhas e torcendo que os problemas hoje gerados pelos irresponsáveis que ainda frequentam essa e outras trilhas fiquem no passado, assim como a escabrosa extração de pedras de outrora.

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Edição 23/04/2024
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