Na perspectiva da independência seguimos a vocação luciferiana do abandono a si mesmo, nas tramas do seu orgulho, regido pelo individualismo dos seus interesses. Independentes na existência, retroalimentamos a distância provocada pela Torre de Babel, todo mundo fala, mas ninguém se entende. Não nos entendemos porque nos provemos de cursos de oratória e não percebemos o valor da escutatória em nosso currículo de vida. Vivemos tendo o outro como mero degrau para ascensão de nossos projetos de poder.
Na dependência do existir, mergulhamos em relações tóxicas, dominadoras, manipuladoras. Submetemo-nos ao outro nos tornando coadjuvante em nossa própria história. Tal dependência acena afirmativamente, as vozes autoritárias que o circundam, assim como o Faraó fez aos hebreus orientado os capatazes da seguinte forma: “ Daqui em diante vocês não vão mais dar palha ao povo, para fazer tijolos. Que eles mesmos ajuntem a palha. Mas vocês exijam que eles façam a mesma quantidade de tijolos, nem um tijolo a menos. São uns preguiçosos e é por isso que gritam: “Vamos oferecer sacrifícios ao nosso Deus! ” Façam essa gente trabalhar mais duro ainda e os mantenham ocupados, a fim de que não tenham tempo de ouvir mentiras. ” (Êx 5. 7-9). Aos mantenedores das dependências é insustentável conviver com a autonomia e com os projetos que transitam fora de seus redutos egocêntricos.
Por isso, clamamos pela interdependência entre nós, nesta há a compreensão de que a individualidade precisa ser conservada, pois esta é o conjunto de particularidade que formam o indivíduo. O amor é visto como o exercício das diferenças, só se ama de verdade respeitando a multiplicidade e assimilando-a como aquilo que enriquece os terrenos pessoais. Na interdependência não há a Babel que separa e distancia, mas o Pentecoste que nas diferenças abarca ao todo. Na descida do Espirito, as barreiras de idade, gênero e culturas são postas abaixo, pois a profecia cumprida diz: “Derramarei o meu Espírito sobre todas as pessoas. Os filhos e as filhas de vocês anunciarão a minha mensagem; os moços terão visões, e os velhos sonharão. ” (At 2.17) No exercício do múltiplo, somos um, o mosaico une as peças e a imagem do Cristo é encarnada em nosso ajuntamento, como está escrito: “Porque, onde dois ou três estão juntos em meu nome, eu estou ali com eles. ” (Mt 18.20)