Cada vez mais, serviços de resgate nas ruas e atendimentos de emergência de hospitais são dominados por vítimas de acidentes envolvendo motocicletas. De acordo com o Ministério da Saúde, os homens representaram 67,1% dos atendimentos nas unidades de saúde e as mulheres 50,1%. A faixa etária mais acometida são os jovens entre 20 e 39 anos. Os números fazem parte da pesquisa VIVA Inquérito 2017, realizada a cada três anos pela pasta. A cada dez atendimentos por acidente de transporte realizados em hospitais do Sistema Único de Saúde (SUS), oito são entre motociclistas.
Muitos fatores podem explicar o rápido crescimento dos casos de acidentes de motociclistas, como procedimentos de risco dos próprios condutores, ligados ao fraco preparo e à falta de respeito entre eles e motoristas, as condições das vias e o trânsito sobrecarregado. Os riscos de sofrer um acidente grave no trânsito chega a ser 20 vezes maior para quem está sobre duas rodas. Em 2018, Teresópolis registrou um total de 767 acidentes de trânsito, de acordo com o Corpo de Bombeiros.
Importância do melhor preparo
Até mesmo para quem tem um preparo de atleta de motocross, o perigo é grande, como é o caso dos irmãos Raphael e Philipe Pinho que já levaram o nome de Teresópolis a competições em vários pontos do Brasil e também trabalham como motoboys. Ambos pilotam desde os quatro anos de idade e garantem que a habilidade adquirida no motocross ajuda muito, com maior reflexo e percepção da movimentação do trânsito, uma experiência que ajuda a aumentar a segurança.
Mesmo assim, Philipe sofreu um acidente em pleno centro da cidade, atingido por um automóvel e considera que casos como o dele servem de exemplo para mostrar a necessidade de melhorar a educação para o trânsito. "Nós motociclistas também falhamos em alguns momentos, mas a grande preocupação é com os carros. Muita gente anda sem atenção no trânsito, não deixa espaço para o motociclista e até joga o carro em cima de qualquer jeito, sem dar seta. Eu sofri um acidente na Avenida Feliciano Sodré em que a motorista saiu com o carro da Rua Nova Friburgo sem olhar e me acertou. Eu tive sorte porque ela parou, me deu toda atenção, não me machuquei muito, apenas quebrei um dente e cortei a boca, nada grave. Mas é bem preocupante esta situação. Falta tanto preparo aos motoristas quanto aos motociclistas que às vezes não se preocupam em dar visão ao carro", disse.
Trânsito sobrecarregado
De acordo com o Detran, em Teresópolis há 20.068 motos licenciadas, enquanto em 2009 eram 12.206. Além disse, existe também o crescimento do permanência destes veículo no trânsito, pois com a expansão dos serviços de entregas, a quantidade de motoboys é muito maior: "A gente observa que em Teresópolis a cidade cresceu, mas as ruas não, o fluxo aumentou demais, então os acidentes aumentam. A gente consegue entender esse grande número de acidentes, principalmente no estado do Rio, porque quando você vai tirar a carteira de moto, o que você faz é passar por cones, fazer um oito e empurrar a moto. Dali você sai habilitado para ir para a rua, pegar moto de qualquer cilindrada e sair na rua. O preparo que é cobrado pelo Detran não adianta de nada. Muitas vezes a pessoa precisa de emprego e pega uma moto pra trabalhar sem ter o preparo", alerta Raphael.
Custos ao SUS
Em 2018, os acidentes de trânsito causaram 183,4 mil internações que custaram R$ 265 milhões ao SUS. No ano anterior, o número de internações foi 181,2 mil ao custo de R$ 259 milhões, sendo que mais de 50% das internações envolveram motociclistas. Para reduzir a violência no trânsito, o governo federal lançou a Operação Rodovida 2019. A ação integra órgãos federais, como o Ministério da Saúde, a Polícia Rodoviária Federal (PRF) e o Ministério da Infraestrutura, em articulação com estados e municípios. A operação vai incluir o período de festividades de Natal, Ano-Novo e Carnaval por elevar o fluxo de veículos que circulam nas rodovias federais de todo o país.