Em solenidade com a presença do governador Wilson Witzel, na última segunda-feira (14), o prefeito Vinicius Claussen falou mais uma vez sobre o projeto que tem para o terreno onde hoje existem as instalações da antiga fábrica Sudamtex, na Várzea. Segundo ele, “haverá um novo bairro, nome George March, em homenagem ao principal fundador da cidade, com a nova sede da Prefeitura, com o polo de Educação EducaParque e também um novo parque municipal, ligando o bairro à rodoviária”. Tal situação vem sendo ventilada há algum tempo, mas de concreto se sabe pouco do projeto, havendo muitas dúvidas dos principais interessados na área mais valorizada da região central, os teresopolitanos. Porém, apesar de pedidos feitos para Assessoria de Comunicação da PMT, não recebemos nenhum posicionamento até então. O que sabe de verdade é que a ideia de dar uma destinação diferente para o grande espaço – cuja doação ao município na verdade atende a decisão Judicial – não é nenhuma novidade. Há pelo menos nove anos existe a expectativa que a área da antiga fábrica de tecidos ganhe alguma utilidade. A ideia de 2008, porém, pode-se dizer que “era bem melhor” diante das características e necessidades do nosso município. Idealizado pelo extinto “Nossa Teresópolis” e endossado pelo então prefeito Jorge Mario, recebendo apoio inclusive do então Ministro de Meio Ambiente, Carlos Minc, o projeto previa transformar toda a área em um grande parque urbano, nos moldes do Ibirapuera, em São Paulo, ou mesmo o Central Park, em Nova Iorque.
Idealizado pelo extinto "Nossa Teresópolis" e endossado pelo então prefeito Jorge Mario, recebendo apoio inclusive do então Ministro de Meio Ambiente, Carlos Minc, o projeto previa transformar toda a área em um grande parque urbano
Só para ter uma ideia da grandiosidade do bem falado projeto do “Nossa…”, apoiado também pela ACIAT, a propaganda divulgada à época informava o seguinte: "Parque da Cidade, Parque Fluvial do Paquequer. Eu Quero! Se você ama a sua cidade e se importa com a nossa qualidade de vida, diga ‘sim, eu quero o Parque da Cidade!’. Um espaço para bosques, flores e animais silvestres, perfeito para passear, brincar com as crianças, praticar exercícios e esportes e, acima de tudo, estar junto ao verde. A ser construído bem no centro da cidade, às margens do rio Paquequer, ele vem reafirmar nossa vocação verde. Apoie este sonho, participe assinando o termo de adesão e dê um importante passo para uma Teresópolis melhor, mais bonita e encantadora. Afinal aqui tem, no sentido real e figurado, o Dedo de Deus”. O projeto teve grande apoio da sociedade civil organizada e do governo estadual. Porém, o temporal da madrugada de 12 de Janeiro de 2011 mudou o curso da história do município em diversas frentes. Com a crise política e a cassação de JM, a ideia, que compreenderia uma atenção especial também em grande parte do Paquequer, nunca saiu do papel. No governo seguinte, do também cassado Arlei Rosa, foram realizadas novas conversas com os proprietários da antiga fábrica, com outras ideias de aproveitamento do cobiçado espaço.
Mais sobre o antigo projeto
O projeto da época de JM previa a construção de uma avenida central, que cortaria o parque de um extremo ao outro, permitindo fácil acesso a todas as áreas, e os seguintes atrativos: – Loja de Souvenir; – Restaurante; – Quiosques; – Estacionamento para cerca de 150 veículos; – Concha acústica; – Áreas infantil e de exercícios ao ar livre; – Quadras poliesportivas; – Ciclovia; – Pista de Cooper; – Área gramada para piquenique; – Centro de educação ambiental; – Centro de convenções; – Jardim botânico com bosque de flores, espécies nativas, horto para cultivo de ervas fitoterápicas; – Lago de aproximadamente 8.500 m2 com pedalinho, cisnes e deck com ponto de visitação para a antiga chaminé da fábrica. “O parque é um sonho ambicioso de uma Teresópolis melhor, mais bonita e acolhedora. Vale a pena sonhar, este é sempre o primeiro passo para a concretização de uma grande ideia!”, divulgou o “Nossa…” na época.
Multa milionária gerou doação
No início do ano, o prefeito Vinicius Claussen, acompanhado pelo Procurador Geral, esteve na 1ª Promotoria de Justiça de Tutela Coletiva do Núcleo Teresópolis do Ministério Público Estadual, para assinar os documentos de cessão e de doação ao município de partes do terreno da antiga fábrica de tecidos. Conduzida pelo Promotor de Justiça, Marcos da Motta, a audiência teve ainda a presença do proprietário da Dona Isabel S.A., Ricardo Haddad, e do seu advogado, Sylvio Capanema. A iniciativa é resultado de Ação Civil Pública movida pelo Ministério Público contra os proprietários da fábrica, por conta de danos ambientais acumulados durante alguns anos de atividade. Por orientação do órgão, a compensação pelo não pagamento de volumosa dívida ambiental foi a transformação do débito em benfeitorias para Teresópolis
A história da importante fábrica
No final de 2006 a fábrica de tecidos Dona Isabel S.A., ou Sudamtex, como ficou conhecida por toda população, desligava as máquinas e deixava centenas de pessoas desempregadas e sem perspectivas de receber o que tinham por direito. Em 2011, quase cinco anos depois, a reportagem do jornal O DIÁRIO e DIÁRIO TV teve acesso ao prédio e constatou que os equipamentos continuavam nos mesmos lugares, com o material que estava sendo produzido parado nas máquinas, além de boa parte do estoque ainda em condições de uso. “Porém, apesar da impressão de que basta se apertar alguns botões para as grandes máquinas voltarem a produzir, um possível retorno da fábrica é praticamente impossível devido a inviabilidade econômica e de licença ambiental para o empreendimento. Questões ambientais, aliás, foram motivos de muitas multas ao longo dos anos e reclamações da vizinhança, principalmente dos moradores da Fazendinha”, destacou a reportagem publicada em maio de 2011.
A Sudamtex produziu seu primeiro metro de tecido em 1965, funcionando até 1998. Nesse período, grande parte administrada por um grupo americano, ficou parada por cerca de um ano, em 1978. Nos meses sem atividade, porém, os funcionários não deixaram de receber. No final da década de 90 e início da seguinte, foram quatro anos de portas fechadas. A produção foi retomada em 2002 e aconteceu até 2006, quando trabalhavam no local cerca de 300 funcionários, grande parte vinda da cidade de Guapimirim.
Acompanhados de antigos funcionários, estivemos nos principais galpões da Sudamtex, encontrando muitos elementos que ajudam a contar a história da empresa que, no seu auge, no final da década de 80, chegou a empregar 1.080 pessoas. No primeiro prédio, com cerca de 3.000m2 construídos e dois galpões, encontramos todos os arquivos de documentos da empresa, como registros de funcionários, amontoados em gavetas e mesas. No segundo galpão, à esquerda da portaria, onde chegou a funcionar uma termoelétrica que por anos manteve o funcionamento da fábrica, ainda há muitos rolos de linha e equipamentos antigos jogados pelos cantos.
No prédio principal, com 12.000m2 construídos, funcionavam vários setores, como a preparação para a tecelagem e a tecelagem, o tingimento e a fiação. No galpão da tecelagem, estão 180 máquinas, ainda com os rolos de linha montados. No tingimento, a situação não é diferente. As grandes máquinas Engodenim – 1 e 2 – estão paradas com o material de produção posicionado, como se tivessem sido desligadas em funcionamento. Parte do tecido em estado cru e parte já na tradicional cor azul. Na parede, um calendário mostrava os últimos meses de funcionamento: novembro e dezembro de 2006. No galpão à frente do setor de tingimento, um funcionário deixou mensagem antes de se despedir do local de trabalho: “O choro pode durar uma noite, mas a alegria vem pela manhã”.