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O DIÁRIO DE TERESÓPOLIS
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Líder religioso escapa da morte na Magé-Manilha

Obra de centenas de milhões de reais abandonada desde 2015 faz do trecho a ?Rodovia da Morte? do interior do estado

Anderson Duarte

Uma das principais lideranças religiosas de nossa região foi a mais recente vítima de um caminho hoje proibido para os cidadãos fluminenses. Na madrugada da última sexta-feira dia 23, voltando do município de Campos, onde participou de um culto, o apóstolo Arcélio Luis, do Ministério Colheita, viu-se em uma situação de guerra. Seu carro foi alvejado por dezenas de disparos de arma de fogo por bandidos e por pouco o religioso não foi ferido com gravidade e até fatalmente. Seu testemunho desperta a discussão sobre o local, que já vitimou centenas de famílias teresopolitanas e que continua representando um risco para a população e um exemplo de como o crime da corrupção é fatal para a nossa sociedade. Em entrevista ao Jornal Diário na TV, Arcélio Luis fez um apelo aos amigos da cidade para que não usem o trecho da estrada e que cobrem as autoridades por mudanças e intervenções no espaço.


Batizada como a “Rodovia da Morte” por moradores do entorno e usuários, a BR-493, em seu trecho entre Manilha e Santa Guilhermina (Magé-Itaboraí), é hoje um caminho proibido para muito cidadão, inclusive teresopolitanos que querem chegar a Região dos Lagos e municípios como São Gonçalo e Niterói. Mesmo com centenas de milhares de reais gastos, a obra foi completamente abandonada e os ataques de bandidos transformaram a estrada em uma verdadeira “terra de ninguém”. O local também é conhecido como “Corredor Polonês” por quem precisa atravessar diariamente a rodovia, e acabou ficando proibido para muitos profissionais que temem se tornar mais uma vítima fatal da estrada, infelizmente o que é rotineiro nas redondezas. Traficantes trocam tiros com policiais nas comunidades próximas, acidentes são provocados pelas péssimas condições de conservação da rodovia, e criminosos de oportunidade aproveitam a necessária baixa velocidade para atacar a tiros muitos que ousam cruzar a BR-493 e os relatos de assaltos e acidentes fatais ilustram as redes sociais diariamente.

– Famílias teresopolitanas em risco na Rodovia 

O Apóstolo Arcélio emocionou muita gente com seu testemunho de fé e certeza do poder da oração, em suas palavras “não era para eu estar aqui contando essa história”. Mas o líder religioso fez questão de compartilhar com a população sua experiência, primeiro para pedir que as pessoas não usem a rodovia, e que acreditem no poder da oração e da fé. Como contado pelo Apóstolo em suas redes sociais, um Fiat Uno branco, em determinado trecho da rodovia, ultrapassou o veiculo que seguia o religioso e um pouco a frente parou no meio da pista e os bandidos já saíram disparando contra o carro. Surpreso, e ainda distante dos agressores, Arcélio freou o veículo e fugiu em marcha ré, batendo em outro carro, e sob os tiros avançou em direção a Manilha, em busca de socorro policial.


"Freei o carro bruscamente e dei marcha ré batendo fortemente contra o carro do Claudio Branco, que vinha atrás com Vinícius e Pitter. A seguir continuei de ré enquanto um dos bandidos corria em minha direção atirando. Meu carro bateu forte de ré contra uma pilastra dessas que estão ali há anos para a reforma da pista. De frente fugimos dos bandidos até estarmos de volta em manilha a procura de uma viatura policial. Escapamos ilesos, e nenhum tiro nos atingiu. Cheguei em casa as 6 horas da manhã e meia hora depois estava comemorando o aniversário do meu caçula, Rafael, 10 anos de idade, data que será também de meu novo aniversário, de quando Deus me concedeu a graça do livramento", relatou, alertando sobre o perigo que está aquele trecho da rodovia, que fica próxima a áreas violentas controladas pelo tráfico de drogas.
Outra família de Teresópolis, que seguia para um casamento em Cabo Frio, também escapou por pouco da morte na BR-493. Primeiro, eles levaram uma fechada de uma carreta e saíram da pista próximo ao acesso ao Vale dos Cedrinhos. Foi necessário solicitar ajuda de um amigo para que o veículo danificado fosse rebocado para Teresópolis e um segundo carro emprestado, um Honda Civic, fosse utilizado para continuar a viagem, por volta das 3h. No momento do “resgate”, os teresopolitanos foram abordados pela polícia e alertados que “aquela região estava muito perigosa”. Mal sabiam eles que, minutos depois, seriam vítimas da violência. Em direção a Região dos Lagos, foram emparelhados por um Cross Fox de cor amarela e, ao perceberem que seriam assaltados, pararam e tentaram fuga em marcha a ré. “Quando dei ré eles mandaram tiro. Consegui voltar na contramão e dei sorte que eles não foram atrás. Abandonamos o carro e nos escondemos no mato. Liguei para o amigo que havia me ajudado e ele acionou a polícia, que me deu apoio para trocar o pneu atingido pelo tiro e orientou que seguisse sentido Cabo Frio. Porém, pouco tempo depois o carro ferveu e percebi que outro tiro havia atingido o radiador e o condensador. Tive que parar em oficina para consertar e, no final das contas, nem conseguimos chegar ao casamento”, relata o Técnico em Refrigeração Carlos Eduardo Aguiar.

– Rodovia da Morte e um símbolo dos efeitos mortais da corrupção

De acordo com a Polícia Militar, no primeiro semestre de 2019 o batalhão da região de São Gonçalo que compreende 80% da extensão do trecho Niterói-Manilha registrou 12% e 20%, respectivamente, do total de roubos de veículos e de cargas em território fluminense. O município conta com menos de um policial para cada mil habitantes, índice muito inferior ao previsto pela Organização das Nações Unidas. Os pouco mais de trinta quilômetros da Magé-Manilha tiveram as obras de duplicação iniciadas em agosto de 2014 e tinham previsão de entrega para julho de 2017, entretanto, apenas alguns meses após iniciada, a intervenção foi totalmente abandonada pelo Governo Federal. O consórcio formado pelas Construtoras Encalso, Sobrenco e Ctsa era o responsável pelo empreendimento, mas a exemplo de inúmeros estados brasileiros, o abandono dos pagamentos para essas empreiteiras por parte da União, gerou a falências de muitas destas empresas e grupos, o que culminou na paralisação das obras por todo o país. 
Em 2017 um respiro, e algumas liberações de verbas propiciaram a retomada da obra de duplicação, o que não durou muito. O movimento aumentou muito em virtude do fechamento da Ponte Rio-Niterói para transporte de cargas, o que fez com que a BR-493 passasse a figurar como o principal acesso da Região Metropolitana e do Sul do Estado, às regiões do Norte Fluminense e grande parte do Nordeste do País. O tráfego intensificou os problemas estruturais da rodovia e evidenciou os aspectos calamitosos do local, tais sejam: a falta de acostamento em grande parte do trecho em virtude das intervenções; o piso absolutamente destruído pelo tráfego intenso e falta de manutenção; as travessias urbanas de pedestres e veículos; os riscos impostos pelas ultrapassagens; a baixa velocidade média que virou um convite aos crimes de oportunidade e a atuação de grupos criminosos pela região toda. Em recente fala sobre a rodovia, o Prefeito de Magé Rafael Tubarão, disse que a classe política do estado precisa abraçar essa causa: “É uma causa de todos! O protagonismo é de uma rodovia que mata, compromete e desestabiliza o avanço de toda a região, com custo caro para a população que paga a conta com vidas ceifadas, tormento e desrespeito das autoridades”, explica o Executivo.

– Alternativas para quem não quer se arriscar

Em meados de novembro do ano passado, O Diário publicou reportagem com o título “Qual o melhor trajeto para se chegar a Região dos Lagos?”, tendo como objetivo mostrar outras rotas para que os teresopolitanos pudessem aproveitar o Verão em cidades como Rio das Ostras e Arraial do Cabo, por exemplo, com menos riscos de se tornarem vítimas da violência ao cruzarem o mais tradicional caminho até essas regiões, a Magé-Manilha. Como a situação continua a mesma, ou seja, o extremo risco na rodovia federal que garante acesso à BR-101 continua acentuado, a rodovia permanece praticamente proibida para os fluminenses. Quem precisa ir para Niterói ou São Gonçalo, o melhor mesmo é seguir para o Rio de Janeiro e pela Ponte Rio-Niterói acessar a região, mas para chegar a Rio das Ostras e outros municípios populares no período de Verão principalmente é preciso também buscar alternativas. Um deles é por Cachoeiras de Macacu, onde a distância passa para 205 quilômetros, também percorridos em aproximadamente três horas. É preciso descer a Serra até Parada Modelo, em Guapimirim, pegando então a bonita RJ-122, rodovia com asfalto moderno e excelente vista para as cadeias de montanhas da Serra dos Órgãos e Parque Estadual dos Três Picos. Nesse caminho, são duas possibilidades. Seguir por 35 quilômetros até as proximidades de uma cervejaria e depois pegar a direita, cruzando a RJ-116 e saindo na BR-101 em Tanguá, ou continuar pela Rio-Friburgo até o encontro com a RJ-142, já depois de Lumiar, chegando na 101 nas proximidades de Casemiro.
Outro caminho muito procurado pelos teresopolitanos preocupados com a violência é o que atravessa a Região Serrana, por Nova Friburgo. São 68 quilômetros até o município vizinho, via RJ-130. Depois é preciso pegar a RJ-142, em direção a Lumiar, cruzando esse pequeno e convidativo povoado. Na ida, muita descida até chegar a Casemiro de Abreu, pegando um pequeno trecho na BR-101 para acessar depois Rio das Ostras. Nessa opção, são 179 quilômetros percorridos no mesmo tempo das outras com maior distância, visto que é preciso cruzar trechos urbanos.

 

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Edição 03/05/2024
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