Anderson Duarte
O Ministério da Educação e Cultura, MEC, divulgou esta semana os dados contendo a classificação das escolas de todo o país no Exame Nacional do Ensino Médio, o Enem, no ano de 2018. Em Teresópolis, mais uma vez, as escolas particulares se destacaram e ilustraram a relação entre os mais bem classificados, sendo o melhor colocado entre as escolas públicas da cidade, novamente o Colégio Campos Salles, na Barra do Imbuí. De acordo com os dados divulgados pelo MEC, no geral, incluindo as públicas e privadas, a escola cujos alunos obtiveram os melhores resultados no Enem 2018 foi o Colégio São Paulo, seguido do George March em segundo lugar e do Nossa Senhora do Carmo em terceiro. O top cinco ainda é composto por CESO e Único em quarto e quinto lugares respectivamente, com as escolas públicas Campos Salles, CEJA e o Cia José Francisco Lippi, na sétima, oitava e nona posições, sendo as melhores do âmbito público ranqueadas este ano.
No município do Rio de Janeiro, o maior resultado foi do Colégio e Curso Ponto de Ensino, com nota geral de 741, enquanto nos municípios vizinhos de Nova Friburgo, destacou-se o Colégio São João Batista, com média de 720 pontos e em Petrópolis, o tradicional Colégio Ipiranga, com avaliação de 733. Fato positivo vem do município de Guapimirim, onde uma escola pública, Neli Albuquerque Vivas, obteve nova 665. Em São José do Vale do Rio Preto, o Colégio Cenecista Vale do Rio Preto, unidade privada, ficou com nota 528 e foi o melhor da cidade. O MEC não divulga mais rankings oficialmente, visto que este tipo de índice gerou uma situação de acirrada concorrência entre as escolas de ensino médio, levando algumas a preparar alunos especificamente para a prova. Assim, o Ministério resolveu parar de divulgar o ranqueamento geral do país, estados e municípios, mas continua divulgando os dados de forma genérica no portal do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira, INEP, que organiza o Enem.
O exame possui muitos objetivos diferentes e com público alvo diverso para cada um deles. Por exemplo: se o aluno já concluiu o ensino médio ou vai concluir em 2019, pode utilizar a nota no Enem para, por exemplo, inscrever-se em programas de acesso à educação superior, programas de bolsa de estudos e de financiamento estudantil, entre outros programas do Ministério da Educação. A prova também pode ser feita pelos “treineiros”, ou seja, aqueles estudantes que ainda vão concluir o ensino médio depois de 2019 ou que não tenham concluído esta etapa do ensino, nem estejam cursando. No caso dos treineiros, os resultados individuais servirão somente para auto avaliação, sem possibilidade de concorrer a vagas na educação superior e bolsas de estudo, e esses participantes deverão declarar ter ciência disso já no ato da inscrição. O participante “treineiro” estará submetido às mesmas regras que os demais, exceto quanto à divulgação dos resultados, que por ser para fins de auto avaliação de conhecimentos, serão divulgados sessenta dias após a divulgação dos resultados do Enem. As populares medidas liminares para matrículas e ingressos não mais são permitidas por decisões jurisprudenciais pacificando a questão.
O ranking de Teresópolis, segundo valores absolutos e brutos divulgados pelo Ministério da Educação mostram as escolas de Teresópolis com o seguinte resultado:
1º – Colégio São Paulo – 668;
2º – George March – 649;
3º – Nossa Senhora do Carmo – 615;
4º – CESO (colégio do Unifeso) – 598;
5º – Único – 587;
6º – CENA – 549;
7º – Campos Salles (Estadual) – 547;
8º – CEJA (Estadual) – 524;
9º – Cia José Francisco Lippi (Estadual) – 523;
10º – Espaço e Vida (particular) – 523;
11º – Euclydes da Cunha (Estadual) – 523;
12º – Higino da Silveira (Estadual) – 523;
13º – CEEB (Estadual) – 515;
14º – Fany Niskier (Estadual) – 504;
15º – Lions Club (Estadual) – 494;
16º – Presidente Bernardes (Estadual) – 487;
17º – Colégio Serrano (Particular) – 476;
18º – Cetepro (Particular) – 468.
– Abismo entre privadas e públicas aumenta a cada ano
Como se sabe, o Enem é a principal porta de entrada para a universidade pública no país e por isso tem sido o objetivo a ser alcançado pelos estudantes, ele é adotado como vestibular em praticamente todas as universidades federais, instituições estaduais e também para programas de financiamento do ensino privado. Segundo especialistas no exame, as informações do Enem por escola podem trazer informações relevantes sobre o desempenho da escola, mas não devem ser o único critério para avaliar ou escolher uma escola, ou seja, são critérios muito subjetivos e que acabam não refletindo a hegemonia que um ranking por si só traduziria. Os dados de 2018 continuam revelando um quase intransponível abismo entre a rede privada e a pública e o impacto do nível socioeconômico dos alunos no sucesso escolar. Aquela máxima de que universidade pública era apenas para quem estudava em escolas particulares parece muito difícil de ser contradita ainda hoje. Pelo país, diversas entidades dividiram o desempenho das escolas por faixas de nota, e infelizmente a realidade continua sendo a de escolas privadas, onde estão os alunos mais ricos, protagonizando o topo da lista, enquanto do lado oposto estão unidades públicas, e os estudantes mais pobres, superando as dificuldades óbvias do dia-a-dia.
Só para ilustrar bem essa hegemonia do ensino privado, o jornal Folha de São Paulo produziu um recorte entre as instituições mais bem colocadas e em 10% delas, um recorte de 460 unidades, 85% são privadas. Entre as públicas desse grupo predominam unidades federais, técnicas estaduais e colégios de aplicação, que em geral têm sistema de seleção de alunos. Ainda segundo a Folha, esse retrato muda significativamente entre as 10% piores colocadas, onde só há escolas públicas, e, além disso, 83% desse grupo de escolas têm alunos entre os níveis socioeconômico mais baixos. Do top 100, apenas nove são públicas, e todas federais, colégios de aplicação ou militares. Ao considerar escolas de todos os portes, incluindo, dessa forma, unidades com poucos alunos, a tabulação da Folha com os dados do Enem 2018 resultou em 11.212 escolas. A consulta disponibilizada pela Folha considera todas as escolas, a partir dos critérios mínimos de participação no Enem, mas independentemente da quantidade de alunos. Também é pertinente lembrar que toda e qualquer comparação entre escolas pertencentes a contextos diferentes sem a devida ponderação entre o desempenho e os diferentes fatores, tais sejam intra e extra escolares, a ele associados é considerada indevida, por isto, o governo federal não divulga os dados de média geral das provas em um formato de ranking.
Os resultados do Enem tem evidenciado a cada ano um verdadeiro abismo entre as notas das escolas públicas e privadas. Unidades particulares têm melhores resultados em geral, mas a situação entre elas também é desigual, mesmo quando atendem alunos de mesmo perfil. Com relação a este abismo, os especialistas indicam que toda essa disparidade tem se colocado como um dos principais pontos que reforçam a necessidade de se reformar o ensino atual no Brasil. Mesmo que os números confirmem aquilo que todo mundo já sabe, ou seja, quanto maior o nível socioeconômico do aluno, melhor é o desempenho, em uma perspectiva social exige que a abordagem com relação ao prejuízo causado aos que mais necessitam seja motivadora de mudanças reais. Pelas redes sociais a pergunta é sempre a mesmo nesta época onde são divulgados os resultados: por que o cidadão tem que arcar com o ensino superior de quem pode pagar? Já que continuam sendo os mais abastados os aprovados para as instituições públicas. E por outro lado, não seria mais justo melhorar as condições de ensino nas escolas públicas para tornar os alunos deste setor mais competitivos no exame? Por certo a dificuldade na resolução desta equação está entre as mais difíceis do Enem, e até mesmo os bem preparados alunos da rede privada teriam dificuldades severas para solucionar tal problema.