Marcello Medeiros
Um dos bairros mais afetados na maior catástrofe ambiental do país, a Tragédia de 12 de Janeiro de 2011, Campo Grande sofre até hoje com problemas gerados pelos escorregamentos e enxurradas que tomaram proporções nunca imaginadas. Muitos dos que sobreviveram àquela madrugada retornaram para essa comunidade por não aceitar as condições propostas pelo governo estadual ou simplesmente porque não foram atendidas pelos programas sociais. E os que foram obrigados a reconstruir suas vidas no ponto mais distante da Estrada José Gomes da Costa hoje se deparam com situação de abandono quase total e, além disso, ainda aguardam a realização de obras previstas há mais de oito anos. Uma delas, as barragens de contenção de cheias. Mas essa, pelo visto, nunca vai sair do papel. Apesar de vários projetos apresentados nos meses após o histórico temporal, o que se vê sendo executado hoje em Campo Grande é completamente diferente: No lugar de sistemas de controle de cheias, que permitiriam segurar grandes volumes d´água e sua liberação aos poucos, estão em construção sistemas de barreiras flexíveis. Ao custo de R$ R$ 4.470.522,99, o empreendimento consiste na instalação de colunas de ferro, cabos de aço e telas para segurar pedras e troncos de árvore, entre outros, em caso de novos escorregamentos.
O valor chama bastante atenção, sendo apontados como agentes realizadores o governo federal e o Instituto Estadual do Ambiente (INEA). A placa indicando detalhes do empreendimento indica como prazo final para conclusão das barreiras flexíveis o dia 25 de julho de 2019. Porém, tal data não deve ser cumprida. Segundo vizinhos da obra, há mais de um mês a empresa responsável pela questionável obra não manda funcionários para Campo Grande. O motivo: Não estaria recebendo os valores previstos em contrato. Nesta quinta-feira entramos em contato com a Assessoria de Comunicação do INEA. Porém, até o fechamento desta edição não recebemos nenhuma resposta em relação ao problema.
Obra era bem diferente…
No início de 2012, O DIÁRIO entrevistou engenheiro contratado pelo Instituto Estadual do Ambiente, que explicou que, para contribuir com a diminuição dos efeitos causados pelos temporais a solução encontrada era a construção de três barreiras no final da Estrada José Gomes da Costa Junior, na cabeceira e outros dois pontos do rio dos Príncipes. “Elas são muito importantes no controle de inundações. Elas vão nos dar condições de controlar a descida da água durante fortes chuvas, pois as barreiras recebem toda água e vão liberando gradativamente”, explicou o engenheiro à época, mostrando um projeto totalmente diferente do que está sendo executado atualmente.
Parque também ficou no papel
Outra solução apresentada para evitar novas perdas materiais e de vidas ao longo de um dos cursos d´águas mais afetados na madrugada de 12 de janeiro de 2011 nunca saiu da etapa dos projetos. O sonhado Parque Fluvial, que atenderia as comunidades da Posse e Cascata do Imbuí, impedindo a reocupação das margens do rio Príncipe e garantindo áreas de lazer para tão sofridas regiões, ficou na história. O primeiro anúncio da grande intervenção aconteceu no final daquele mês, feito pelo então secretário estadual do Ambiente, Carlos Minc, que falava em R$ 190 milhões para obras em Teresópolis, Petrópolis e Nova Friburgo. – O objetivo dos parques fluviais é impedir que a população volte a ocupar as margens dos corpos hídricos, ao mesmo tempo em que poderá usufruir de uma área de lazer com atrações como ciclovia – afirmou Minc, ao lado da presidente do Instituto Estadual do Ambiente na ocasião, Marilene Ramos.
Rio assoreado e esquecido
Após o temporal de 2011, o pequeno curso d´água que nasce em Campo Grande e deságua no Paquequer, na Cascata do Imbuí, ficou extremamente assoreado e tomado também por restos de imóveis afetados pela enxurrada. Todo material foi retirado, algumas pontes reconstruídas e, posteriormente, teve início a polêmica obra do INEA. O rio foi canalizado. Transformado em uma espécie de grande canaleta em vários pontos, ignorando os danos ambientais contra diversas espécies de fauna e flora que vivem no fundo e margens de um curso d´água. Tal serviço causa também o aumento da velocidade da água, aparentemente resolvendo o problema nessas localidades, mas aumentando o risco nos bairros seguintes. Nos pontos onde não houve a concretagem, as laterais e fundos receberam grandes pedras e telas. Ou seja, em nenhuma das opções é viável um serviço de drenagem eficiente e, a cada chuva, moradores dessas regiões ficam bastante preocupados.