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O DIÁRIO DE TERESÓPOLIS
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Números da segurança pública são reflexos do empobrecimento

Estudo do IPEA aponta que onde o emprego formal reduz, crescem a pobreza, a desigualdade e principalmente a violência

Anderson Duarte

Novamente a discussão acerca da sensação de segurança em Teresópolis volta à tona quando é divulgado no país pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada, o IPEA, e também pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública, o Atlas da Violência 2018, cujo trabalho desenvolve um mapeamento das mortes violentas nos municípios brasileiros com mais de cem mil habitantes. A base dos dados desta nova edição do trabalho é o ano de 2016 no Sistema de Informações sobre Mortalidade do Ministério da Saúde e mostrou Teresópolis ligeiramente abaixo dos excelentes índices apresentados um ano antes. Mas, o estudo ilustra também a relação entre o desenvolvimento humano e as mortes violentas nestas localidades, com a análise de importantes indicadores de educação infanto-juvenil, pobreza, gravidez na adolescência, habitação, mercado de trabalho, e vulnerabilidade juvenil. Apesar de estar bem ranqueada no estudo com relação aos índices gerais, dados isolados mostram que Teresópolis precisa avançar não no combate a criminalidade, mas sim na geração de emprego e renda.
Que nossa Polícia Miliar é diferenciada e que nossa sensação de segurança é muito superior a imensa maioria dos municípios brasileiros, quase todo teresopolitano não tem dúvidas, mas ainda assim, insegurança, violência e desocupação econômica acabam por influenciar no contexto da violência. Desde 2014, o Brasil perde mais de um milhão de postos de trabalho com carteira assinada por ano e em 2018, apenas no primeiro trimestre, apresentou índices superiores aos 13%, segundo dados do IBGE. Essa foi a maior taxa de desemprego trimestral do país, que nos levou a um impressionante montante de 13,7 milhões de pessoas desempregadas. E segundo o estudo do IPEA, quando o emprego formal desaparece, a pobreza, a desigualdade e a violência avançam. Teresópolis não passou alheia a este contexto de desproporção na geração de emprego e renda, e colecionou índices negativos de empregos formais. 
Segundo o Atlas da Violência 2018, nossa renda per capita entre aquele percentual dos 20% mais pobres é de apenas R$ 254, valor que representa quase a metade do que foi identificado na cidade mais bem posicionada no ranking deste ano, a Catarinense Brusque, que ostenta um índice per capita de R$ 505. Os valores de Brusque já não são considerados muito positivos, imagine metade desse valor. A situação é ainda mais grave quando analisamos o município paulista de São Caetano do Sul, onde esse valor é ainda maior, de R$ 546. Esse recorte do estudo deixa claro que a relação entre valor per capita e situação da violência acabam se confundindo. A comparação dos índices sociais analisados pelo Atlas, aponta igualmente para extremos, sugerindo que paz ou violência se alimentam de fatores como escolaridade, saneamento básico e ocupação de jovens adultos.
O IPEA trabalha com a percepção de elementos como o percentual de crianças pobres, ou em situação de vulnerabilidade, e até pessoas que estão vivendo em domicílios sem água encanada nem esgoto adequados. Nestas situações, por exemplo, os municípios que possuem melhores sensações de segurança, apenas 0,5% moram nessas condições, enquanto onde há violência acentuada, são 6% das pessoas, portanto, até mesmo as condições de moradia fazem diferença. Segundo o IPEA, em Teresópolis, o percentual de crianças pobres é de 14,1%, e o de crianças vulneráveis à pobreza de 38,2%. Como comparação direta, Brusque, Santa Catarina, estes índices são respectivamente de 1,8% e de 7,2%. Da mesma forma que em São Caetano do Sul, os índices são de 0,9% e 7,5%. Não por acaso, estes municípios encontram-se em situações mais favoráveis e há uma clara correlação entre as condições de desenvolvimento humano e as taxas de mortes violentas.
O desemprego massivo é, possivelmente, a maior fonte de angústia do brasileiro e o abismo social, econômico e de infraestrutura que separa os dez municípios brasileiros que têm as menores taxas de homicídio do país, daqueles dez que concentram os maiores números de assassinatos do Brasil deixam claro que a resposta contra essa escalada da violência pode estar justamente nas ações afirmativas de desenvolvimento e geração de emprego e renda. Os 123 municípios mais violentos do país concentram 50% dos homicídios brasileiros. O que nos leva a outro índice preocupante de Teresópolis, dos jovens “nem-nem”, aqueles que nem estudam nem trabalham, na faixa de 15 a 24 anos. Nos municípios com menos mortes, há 4,3% deles desocupados, já naqueles onde mais se morre e se mata, eles são 14% do total desta faixa etária. Teresópolis apresentou os seguintes índices neste recorte: a taxa de desocupação de 15 a 17 anos, de 23,8% e na faixa de 18 a 24 anos, de 15,4%. Mais uma vez comparado com o município de Brusque, líder do ranking no país, esses índices são bem menores: 8,7 e 3,8%, respectivamente.
Uma dica para a nova gestão Vinicius Claussen que está prestes a assumir o município, é concentrar as atenções nas comunidades onde esse quadro de desigualdade é acentuado. O Atlas mostra que o número de homicídios de jovens de 15 a 29 anos no Brasil cresceu 23% de 2006 a 2016, quando atingiu o pico da série histórica, com 33.590 vítimas nesta faixa etária. Com isso, em uma década, o Brasil enterrou 324.967 jovens assassinados, quase sete vezes o número de soldados americanos mortos em ação durante os vinte anos de duração da Guerra do Vietnã, entre os anos de 1955 e 1975. Bolsões de pobreza, baixa perspectiva de trabalho, formação escolar abaixo do desejado, são elementos que perceptivelmente e pelo senso comum se atribuía aos índices de criminalidade elevados, entretanto, com o advento do Atlas e sua preocupação em dimensionar essas variantes, aquilo que era apenas impressão, passa a ser dado científico, estatístico e estratégico para uma gestão que deseja mudar essa realidade.

 

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Edição 21/12/2024
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