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Pacientes e profissionais de saúde protestam no Rio contra manutenção

Pacientes e profissionais de saúde mental realizaram um protesto hoje (18), no centro do Rio, contra a permanência de instituições manicomiais, locais que ainda tratam doentes psiquiátricos baseados em segregação social e contenção química. A manifestação foi organizada para marcar o Dia Nacional da Luta Antimanicomial.

Por Vladimir Platonow – Repórter da Agência Brasil  Rio de Janeiro

 
Pacientes e profissionais de saúde mental realizaram um protesto hoje (18), no centro do Rio, contra a permanência de instituições manicomiais, locais que ainda tratam doentes psiquiátricos baseados em segregação social e contenção química. A manifestação foi organizada para marcar o Dia Nacional da Luta Antimanicomial.

O psicólogo Manoel Ferreira, de Niterói, explicou que a Lei da Reforma Psiquiátrica, de 2001, propõe uma outra forma de cuidado com as pessoas com transtorno mental, que não é mais os manicômios. Um dos pilares da lei são os Centros de Atendimento Psicossocial (CAPS), que atendem durante o dia ou em casos de emergência, evitando que os pacientes fiquem segregados em hospitais, clínicas psiquiátricas ou manicômios.

“O cuidado que se dá dentro de um hospital psiquiátrico oferece muito mais doença do que cuidados. Pois o isolamento não é um cuidado para aquela pessoa, produzindo um sofrimento maior ainda do que ela está tendo”, disse Manoel.

Outro problema levantado pelo psicólogo é a carência dos CAPS, tanto em estrutura física, quanto em número de profissionais. “A rede precisa ser ampliada. Em Niterói não tem nenhum CAPS 3 [de atendimento 24 horas]. É importante que se faça concursos públicos, pois os trabalhadores têm vínculos precários e temporários. Na Baixada Fluminense e São Gonçalo é pior ainda. As pessoas com transtorno mental são largadas às piores formas de tratamento possível, em abrigos e até cadeia”, disse Manoel.

Para a psicóloga Melissa Oliveira, do Movimento Nacional da Luta Antimanicomial, houve avanços nos últimos anos, com o fechamento de muitos leitos em manicômios e a abertura de CAPS, mas ainda há muito a se avançar.

“Hoje estamos vivenciando uma realidade muito dura, de sucateamento desses serviços, dos CAPS, de [Clínicas de] Saúde da Família e de centros de convivência. Ficamos meses sem receber medicamentos fundamentais na rede de saúde mental. Sem infraestrutura para fazer oficinas, sem condições para atividades de trabalho e renda. Faltou comida, tem CAPS que ficou sem almoço por dois anos”, destacou Melissa.

Desinternação total
A enfermeira residente Yasmin Sampaio, que trabalha no CAPS Manoel de Barros, na Colônia Juliano Moreira, em Jacarepaguá, também reconheceu que a situação deve melhorar, principalmente com a contratação de profissionais de acompanhamento terapêutico. Segundo ela, apesar das dificuldades, o modelo baseado em CAPS ainda é o melhor para a saúde mental do paciente.

“O CAPS é o dispositivo que onde a gente acolhe os casos graves, que precisam de uma atenção mais intensiva e em crise, no lugar do hospital, para evitar a internação. É possível uma desinternação total, investindo em residências terapêuticas e CAPS. É um processo que demanda um tempo e um trabalho intenso. Mas eu acredito que este é o caminho”, disse Yasmin.

Para o paciente Hugo Antônio, que vive com sua família e se trata no CAPS Herbert de Souza, em Niterói, a questão da desinternação é positiva, mas tem que ser vista caso a caso. “Isso é uma coisa que tem de ser feita com muito cuidado. Tem que se ver aonde os pacientes podem ser melhor alojados e não simplesmente fechar os locais. Enfim, tem que haver uma coisa criteriosa. Depende das condições da pessoa, depende da disponibilidade e boa vontade dos familiares e se o ambiente oferece condições”, disse Hugo, que edita, com outros pacientes, o jornal O Centro, com textos produzidos por eles próprios, abordando vários assuntos.

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