Marcello Medeiros
Quem entra na Unidade de Pronto Atendimento não sabe se vai sair com vida. A afirmação é de pacientes ou familiares daqueles que têm necessidade do serviço prestado na porta de entrada do SUS em Teresópolis. De responsabilidade do governo municipal, a unidade hospitalar enfrenta um verdadeiro caos diariamente, com problemas que acontecem de forma amiúde sem que nada de efetivo seja feito para pelo menos mitigar o sofrimento do teresopolitano que não pode bancar um convênio particular. Nas últimas semanas, principalmente, notícias catastróficas sobre a UPA têm sido comuns em redes sociais, com destaque para o grande número de vidas que podem ter sido perdidas pela falta de estrutura e pessoal para atendimento adequado.
Nesta quinta-feira, 10, conversamos com Betânia Lourenço Santos, que há cerca de um mês acompanha o drama da mãe Neide Lourenço, internada na sala amarela enquanto aguarda vaga no HSJ ou HCT. Ela relata ter presenciado várias famílias chorarem a morte de seus familiares e a tentativa dos poucos funcionários manterem um atendimento digno diante da falta de equipamentos e medicamentos – sem esquecer que médicos, enfermeiros, técnicos e pessoal de apoio convivem ainda com a falta de pagamentos e benefícios como férias e abonos.
“Minha mãe precisa de transferência urgente, seu caso é gravíssimo, está piorando cada dia mais. Já recorri a todos os meios e não sei o que fazer mais. Estou direto com ela, acompanhante dia e noite, e vejo que os funcionários fazem mais que podem, mas estão igual aos pacientes, ou seja, em condições desumanas. Não tem salário, não tem condições de trabalho. Querem fazer, mas não tem como. Hoje uma enfermeira até se se ofereceu para olhar minha mãe para eu ir em casa tomar banho, vejam só. Enquanto minha mãe precisa de vaga em hospital, aqui só vejo óbitos, óbitos, óbitos.. E nada! Convidei candidatos a prefeito para vir e até agora nada”, enfatiza.
Um dos grandes responsáveis pelo caos instalado na Unidade de Pronto Atendimento é o modelo de gestão escolhido, as Organizações Sociais, OSs que têm denúncias de corrupção e outros problemas em todo o país, mas que continuam sendo as preferidas dos prefeitos. No catastrófico governo Tricano, mantido por mais de dois anos por força de liminar, houve a tentativa de contrato milionário por um período de apenas seis meses. A suspeita negociação parou na Justiça e não aconteceu. A liminar do STF do empresário do ramo hoteleiro e imobiliário também caiu e, assim, a bomba chamada UPA ficou totalmente sob a responsabilidade da secretaria municipal de Saúde.
Além da impossibilidade de regularização e manutenção de salários, e impedimento de cumprimento de calendário de férias por conta do entra e sai de OSs, por exemplo, faltam medicamentos diversos e os poucos equipamentos e mobiliários que ainda funcionam parece que em breve terão o mesmo destino que muitos pacientes que passaram pela UPA nos últimos meses. “É uma total ausência de recursos. Não tem nada mesmo. Não têm desinfetantes sequer, os banheiros vivem sujos… A pessoa da limpeza sem salário. Eles (os funcionários estão fazendo mais que conseguem, mas uma hora vai parar de vez”, enfatiza Betânia, que até o fechamento desta edição não havia conseguido a transferência da mãe.
Posição da PMT
No final da manhã, estivemos na secretaria municipal de Saúde, no bairro da Tijuca, para tentar um posicionamento do responsável pela pasta, secretário interino e reaproveitado de outras funções na própria unidade. Segundo informado por outros funcionários, ele tinha na agenda reuniões na Procuradoria Municipal e Ministério Público para tentar resolver o grande caos deixado pelo governo Mário Tricano. Em nota divulgada pela Assessoria de Comunicação da Prefeitura, foi informado que “O prefeito Pedro Gil assumiu interinamente o mandato na noite do dia 4 de abril, quando o problema da falta de pagamento já estava instalado. Desde que tomou conhecimento da demanda, envidou todos os esforços para saná-los. Tanto é que nesta quarta-feira, 09/05, liberou o pagamento relativo a março, normalmente pago no dia 20 do mês subsequente ao vencido. Ou seja: 20 de abril. Quanto ao pagamento referente ao mês de abril, que venceria em 20 de maio, o mesmo está sendo processado para ser quitado antes da data anteriormente praticada”. Também de acordo com o documento “A Prefeitura busca entendimentos com o Judiciário para que a diferença salarial seja quitada e, inclusive, foi feita alteração na Lei Orgânica do município para atender essa questão”. Em relação às denúncias de falta de medicamentos e equipamentos adequados, não houve resposta.