Débora Brito – Repórter da Agência Brasil
O ministro da Defesa, Raul Jungmann, informou, por meio do Twitter, que 950 homens das Forças Armadas e dez blindados participarão do cerco a criminosos na Rocinha, no Rio de Janeiro, nesta tarde. Mais cedo, Jungmann, havia informado, em entrevista coletiva, que 700 militares do Exército participariam da ação.
O pedido para que o Exército participasse da operação foi feito pelo governador do Rio de Janeiro, Luiz Fernando Pezão.
Os militares fazem parte do efetivo do Comando do Militar Leste, que dispõe de cerca de 30 mil homens no Rio de Janeiro. Jungmann anunciou a participação das Forças Armadas no cerco após reunião com o presidente Michel Temer no Palácio do Planalto.
O deslocamento dos militares de suas bases para a Rocinha deve ocorrer nesta tarde. Segundo Jungmann, o objetivo é que eles façam um cerco ao redor da Rocinha para que o policiamento local possa subir e entrar na comunidade.
O ministro ressaltou que o “Exército não substitui polícia” e que, apesar de urgente, a ação pode ter efeitos estruturais no combate à violência. “Estamos agindo emergencialmente, mas também estruturalmente”, declarou.
"Estado paralelo"
Jungmann disse que o presidente Temer reiterou o apoio das forças federais ao Rio de Janeiro e disponibilizou todos os recursos necessários para as operações de reforço da segurança no estado. Segundo o ministro, nos próximos dias Temer deve anunciar um amplo pacote na área social para compor as ações de inteligência, segurança e Justiça no Rio de Janeiro.
Mais cedo, Jungmann se reuniu com a procuradora-geral da República, Raquel Dodge, para buscar apoio na criação de uma força-tarefa federal, composta por procuradores, juízes e policiais federais para atuar no combate ao crime organizado e ao “estado paralelo” de instituições que foram “capturadas pelo crime organizado” no Rio de Janeiro.
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Comunicação nos presídios
Questionado sobre a fragilidade da segurança dos presídios, de onde teria partido a ordem de um dos traficantes que deu estopim à recente crise no Rio de Janeiro, Jungmann disse que a responsabilidade é dos estados que administram as unidades. Ele lembrou que durante as vistorias realizadas pelos militares nos presídios, os agentes constataram que um a cada três presos está armado dentro das unidades prisionais.
“Nós encontramos lá celulares, rádio transmissor, fio de televisor, tudo o que vocês imaginarem, o que quer dizer que boa parte do nosso sistema penitenciário é uma peneira. Mas, esses sistemas não são de responsabilidade do governo federal, essas atribuições competem aos governos estaduais, nós nos colocamos à disposição e fizemos as varreduras. Agora, mantê-las limpas é evidentemente um trabalho dos estados”, disse.
Segundo Jungmann, a procuradora Raquel Dodge chegou a sugerir durante o encontro de hoje que sejam colocados parlatórios dentro dos presídios para restringir a liberdade de comunicação entre os presos e seus advogados, familiares e outros visitantes. A medida foi defendida pelo ministro, apesar das resistências que tem encontrado, principalmente entre advogados criminalistas. Ele disse que conversará com o presidente da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) sobre o assunto.
“O contato do criminoso, o chefe da gangue com seus advogados, com seus familiares, livremente, faz com que o crime organizado consiga comandar de dentro da prisão, que se transforma no home office do crime organizado, o crime nas ruas. E eu venho pedindo legislação pra acabar com isso.”, afirmou.
Conflito na Rocinha
A comunidade da Rocinha, a maior do Rio de Janeiro, é alvo de operações diárias da Polícia Militar desde o último domingo (17), quando houve confrontos entre grupos criminosos rivais pelo controle de pontos de venda da comunidade. Na manhã de hoje (22), houve intenso tiroteio entre criminosos e policiais.
O comandante da 1ª Divisão do Exército, general Mauro Sinott, informou – após reunião com o secretário de Segurança do estado do Rio de Janeiro, Roberto Sá – que as Forças Armadas ajudarão também no controle do trânsito das ruas do entorno e no tráfego aéreo sobre o morro da zona sul da cidade do Rio de Janeiro. “[Vamos atuar] a fim de liberar os contingentes de polícia para ações mais específicas de polícia”, disse o general.
Tiroteio
Na manhã de hoje, houve um tiroteio intenso entre policiais e criminosos, que provocou o fechamento da Auto-Estrada Lagoa-Barra, que liga o bairro de São Conrado à Gávea. Cinco escolas e três unidades de educação infantil da prefeitura fecharam as portas, deixando quase 2.500 alunos sem aulas.