Wanderley Peres
Quem passa pela avenida Rotariana percebe que trabalhadores estão mexendo no pórtico de entrada da cidade, o portal do Soberbo. Obra feita no improviso, sem sinalização de custo ou de quem está realizando o serviço. Placa de engenheiro responsável não tem e os funcionários não trabalham uniformizados ou com os necessários equipamentos de segurança. Nem mesmo a necessária sinalização para o trânsito tem no local, caindo à própria sorte os veículos em desnível no pavimento, situação de risco de acidentes quando o trânsito flui em velocidade pelo local quando da paralização do serviço.
Mas, o que está ocorrendo não é a obra do “pórtico com características relacionadas à colonização Europeia provocando mais atratividade aos turistas”, como andou prometendo o prefeito Vinicius Claussen, construção que teve até autorização da Câmara Municipal para ser feita. Longe disso. “É mais um espaço público adotado por meio do projeto Adote Terê, do Programa Terê Tão Bela”, informou essa semana o governo municipal, anunciando ainda que “tanto a revitalização quanto a manutenção do local serão feitas pela empresa adotante”, não informando que empresa adotou o mobiliário urbano nosso, de responsabilidade da prefeitura.
A substituição do pórtico da entrada da cidade por outro, ou de construção um outro pórtico, afinal eram apenas elucubrações, fazia parte do projeto apresentado ao cônsul geral britânico, Mr. Simon Wood, que recebeu em sua casa, no Rio de Janeiro, comitiva com o prefeito Vinícius e séquito de secretários, além de entusiasmados empresários do setor, quando se discutiu a valorização e reconhecimento da cultura inglesa na colonização do município.
De fato, foi enorme a interferência da cultura britânica no processo de formação cultural da nossa cidade, especialmente no período da Fazenda Santa Ana do Paquequer, entre 1818 e 1845, quando se desenvolveram, também, as fazendas Piedade, do inglês John Taylor; e Constância, de Richard Heath, além da fazenda Soledade, dos irmãos Albert e Constatin Fischer, suíços nacionalizados ingleses que lutaram pela Inglaterra contra Napoleão Bonaparte e aqui viviam do plantio de aspargos, alcachofras, uvas e couve-flores. Sucessores nestas propriedades, originadas nas sesmarias doadas no tempo do Brasil Colônia, March, Taylor e Heath interferiram especialmente com seus costumes em nossa primitiva formação. Iniciaram à sombra da Serra dos Órgãos hábitos estrangeiros como o do veraneio e as práticas da agricultura de seu país, tornando-se as suas propriedades em laboratórios para a introdução das espécies estrangeiras em nossa terra, daí a pujança da agricultura no município.
Mas, de pouco adianta a nossa tão pouco conhecida história ou do interesse pela memória e a redescoberta das nossas origens. Em entrevista na tevê, o ex-prefeito Tricano colocou a pá de cal no projeto do prefeito, que já vinha apanhando nas redes sociais pela sua invencionice. “Esse rapaz deve estar com dinheiro sobrando. Quer gastar 1 milhão e 700 mil na construção de um novo pórtico. Era só pintar o que já tem na entrada da cidade, e que foi eu que fiz”, disse em tom de deboche, mas falando o que o povo quer ouvir, afinal às pessoas de mentes pequenas pouco importa o benefício que essa caracterização inglesa pudesse representar, até porque não conseguem enxergar isso, daí ter-se percebido ser um desastre político a empreitada do Inglaserra, que poderá resultar mesmo somente na realização de mais um evento de cerveja, quando a pandemia passar.
Embora o prefeito venha evitando falar do assunto depois que ele virou motivo de deboche, e a prefeitura ignore em suas publicações o empenho que teve pela “inglezação” do município, tanto que procurou o consulado britânico com esse intento, a proposta de construção de um pórtico inglês, de fato, existiu. Está no parágrafo segundo do artigo primeiro da Lei 4016, aprovada, por unanimidade, pela Câmara Municipal e publicada em 2 de julho do ano passado, onde o poder executivo foi “autorizado a contratar operação de crédito com o Banco do Brasil no valor de R$ 20 milhões e 760 mil para a construção e revitalização da Feirarte, da rodoviária e construção de um novo pórtico no Soberbo, além de aquisição de equipamentos e veículos para manutenção de vias públicas e limpeza urbana”. Pela lei, o pórtico da avenida Rotariana R$ 1.560.000,00, e seria instalado “com características relacionadas à colonização Europeia provocando mais atratividade aos turistas, principalmente os que passam pela BR-116”.