Marcello Medeiros
Depois de Teresópolis e Petrópolis, foi a vez do município de Guapimirim mostrar seu descontentamento com o processo de concessão do Parque Nacional da Serra dos Órgãos, nos moldes que tem sido sustentado pelo governo federal, através do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade, o ICMBio. Em evento organizado pela Federação de Esportes de Montanha do Estado do Rio de Janeiro, a FEMERJ, foi realizado no último sábado, 06, mais um “abraço simbólico ao parque” como forma de protesto diante de um procedimento considerado impositivo e obscuro, que, segundo apontado pela instituição, pode representar um futuro negativo para a conservação ambiental e visitação do terceiro mais antigo e um dos mais importantes parques do país. Além de representantes do município de Guapimirim, um dos locais onde o PARNASO tem sede, participaram da solenidade realizada no local conhecido como “Santinha”, às margens da rodovia Rio-Teresópolis, entidades do setor turístico, montanhistas e integrantes de clubes que trabalham a manutenção e história desse esporte, como o Centro Excursionista Brasileiro (CEB), Centro Excursionista Rio de Janeiro (CERJ), o CNM (de Niterói), o Centro Excursionista Teresopolitano (CET), o Centro Excursionista Petropolitano (CEP), entre outros. Waldecy Mathias, representante da FEMERJ, conduziu o “abraço” e destacou que o processo realizado pelo ICMBio, desde o governo anterior, “mais parece querer transformar o Parque Nacional em um shopping”.
O experiente montanhista, também profundo conhecedor e escritor sobre a história desse esporte e consequentemente de todo o caminho para a criação do PARNASO, reforçou a importância da participação popular e a necessidade de se interromper o atual processo de concessão e a realização de estudos por pessoas que tenham realmente expertise no assunto para que se tenha um sistema que realmente atenda às necessidades do parque e interesses da comunidade que o frequenta. Foram citados exemplos negativos do que pode se tornar o Serra dos Órgãos, entre eles o modelo de concessão aplicado no Parque Nacional de Aparados da Serra, no Rio Grande do Sul, onde o ingresso passou para quase R$ 100 e o movimento turístico na região caiu drasticamente. Dois deputados estaduais prestigiaram o movimento e prometeram convocar, via Alerj, audiências públicas para que a população fluminense possa debater o assunto.
“Tudo às escuras”
Há meses as principais entidades de representação do montanhismo no Estado do Rio de Janeiro, a FEMERJ, e do país, com a Confederação Brasileira de Montanhismo e Escalada, têm se posicionamento contrárias ao projeto de terceirização de serviços no Parque Nacional da Serra dos Órgãos. Está em andamento a concessão de toda a área de visitação do PARNASO, onde uma empresa vai gerir por 30 anos todo o patrimônio cultural do montanhismo do Parque, abrangendo todas as trilhas e escaladas, como a Travessia Petrópolis x Teresópolis, e até as montanhas que têm acesso por fora das portarias e onde nunca sequer havia sido cogitada a cobrança de ingresso, como o Dedo de Deus, Cabeça de Peixe e Escalavrado.
Através das redes sociais, a FEMERJ (Federação de Esportes de Montanha do Estado do Rio de Janeiro) tem destacado que se trata de “um processo sem transparência, sem um verdadeiro debate com a sociedade, conduzindo por pessoas que não conhecem o parque e a cultura do montanhismo”. Na mesma publicação, é frisada a necessidade de se suspender o atual processo de concessão, iniciar um novo procedimento com mais transparência e efetivamente participativo e garantir a diversidade das oportunidades de visitação além do turismo de massa.
Outros tópicos destacados pela FEMERJ são: – Evitar a turistificação (degradação do espaço pelo turismo); – Retirar as zonas primitivas da área de concessão; – Considerar as contribuições elaboradas pela Câmara Temática de Delegação de Serviços e a a nota técnica dos servidores do PARNASO; – Respeitar os valores, a ética e as boas práticas do montanhismo, conforme os documentos da Federação de esportes de montanha do Estado do Rio de Janeiro (FEMERJ) e da Confederação Brasileira de Montanhismo e Escalada (CBME).
Também através das redes sociais, os representantes do esporte no estado do Rio tem tentado angariar apoio de praticantes e interessados na gestão da unidade de conservação. “Apoie a proteção da integridade do ambiente de montanha, com sua biodiversidade e fragilidade. Apoie a preservação do montanhismo, por uma autêntica experiência em montanha. Não deixe que o PARNASO seja transformado em um SHOPPING CENTER, se oponha ao atual processo de concessão”, frisa o texto. Mais informações e colaborações podem ser feitas nas páginas de Instagram @femerj e @cbme.montanhismo
Posição do ICMBio
Em nota encaminhada para a redação do jornal O Diário e Diário TV, o ICMBio informou que “considera as manifestações do conselho gestor do Parque Nacional da Serra dos Órgãos, bem como dos servidores que, por meio de um Grupo de Trabalho, acompanham o processo” e que “é importante ressaltar que haverá novo chamamento de propostas e a metodologia a ser adotada será construída de forma participativa, a fim de tomar a decisão mais adequada”, destacando ainda que “o processo segue ditames legais, considerando os princípios da isonomia, transparência, publicidade, moralidade e legalidade. O ICMBio firma seu compromisso institucional com a gestão participativa e transparente das Unidades de Conservação Federais”.