Wanderley Peres
Liberada a licitação para a venda da água de Teresópolis, depois que o prefeito conseguiu na Justiça, no dia 26 passado, que fosse derrubado o artigo 99 da Lei Orgânica, onde está prevista a necessidade de autorização dos vereadores para o início do processo, já no dia seguinte, 27, o prefeito Vinícius Claussen criou a “Comissão de Avaliação da Concessão do Serviço de Abastecimento de Água e Coleta e Tratamento de Esgoto de Teresópolis”, composta de agentes políticos ligados ao prefeito: os secretários municipais Flávio Luiz de Castro Jesus, secretário de Meio Ambiente; Fabiano Claussen Latini, de Fazenda; Lucas Guimarães Homem, de Trabalho, Emprego e Economia Solidária; Gabrielle Guimarães de Souza, de Administração; Ricardo Luiz de Barros Pereira Júnior, de Obras Públicas; Lucas Teixeira Moret Pacheco, de Governo e Coordenação; e o procurador-geral Gabriel Tinoco Palatinic, que passaram a assessorar a Comissão Permanente de Licitações da Secretaria Municipal de Administração. E, na última sexta-feira, 5, foi marcada a realização de audiência e consulta pública da minuta de Edital, que será realizada dia 19 de maio, às 10h da manhã, no Youtube. Ou seja, em horário de trabalho, quando o trabalhador teresopolitano não poderá parar o trabalho para assistir, entender e opinar sobre o assunto. Apesar do horário impróprio, e o forma inadequada, porque já passou a pandemia, inclusive, o prefeito postou nas redes sociais “a importância de ampla participação popular, não apenas durante a transmissão acima mencionada, mas com envio de contribuições e dúvidas com o fim de enriquecer o procedimento futuro a ser realizado”, disse, “divulgando” o DO da mesma sexta-feira, 5, ainda, a realização de uma Consulta Pública, que começaria no dia seguinte, sábado, 6, procedimento que vai até o dia 5 de junho, por meio de formulário eletrônico, no site da Prefeitura, e da qual também não há divulgação em nenhuma mídia de alcance, seja busdor, anúncio em jornal, tevê ou rádio.
Agora, nesta terça-feira, 9, em reunião ordinária, os vereadores comentaram a retomada do processo de venda da água, e a forma como está sendo feito o processo, como já informado pelo DIÁRIO, valendo destacar as falas dos vereadores Dr. Amorim e Leonardo Vasconcellos.
Audiência secreta
“Ficamos sabendo, não sei como, que vai ter uma audiência pública para a venda da água, só que a audiencia vai ser online, e durante o dia, às 10h da manhã, quando as pessoas estão trabalhando. Mas quem está trabalhando não vai ficar assistindo celular e ligando para dar opinião, porque a hora é de trabalhar no emprego, da dona de casa fazer a comida, é a hora mais imprópria possível. É grave o que está acontecendo. O prefeito vai pegar os funcionários publicos, os pot, os apaniguados e garantir que fez a audiência, e vai afirmar que fez tudo dentro da lei, mas não está fazendo não. Audiência pública tem que ser com o público, porque o que está em jogo é coisa grande. Se o prefeito acha mesmo que é bom, que faça essa audiência no Pedrão, e que ele chame a população a participar, e que discurse sobre as vantagens da venda da água e convença o povo que é o dono da água e vai ser prejudicado. Estive na audiência pública do auditório da Educação, aquela lá atrás, e que está valendo como realizada. Eu tive que sair porque não aguentei aquela nojeira. E a audiência do Pedrão foi do mesmo jeito, porque não explicaram nada, e quando alguém falava, se é que alguém escutava, o executivo não ouvia ou dava resposta ou atenção. O prefeito tem que convencer as pessoas, com o Pedrão lotado, para então vender a água, de outro jeito não está certo, porque o chefe do executivo deve satisfações ao povo. Agora, com essa queda do artigo da Lei Orgânica, aí que o prefeito está com a corda toda, e acha que vai fazer o que quer e bem entende. Audiência pública online é um absurdo, e mandando os funcionários públicos ligar, senão vai ter punição, então, é igual a plateia paga que vimos na praça, lamentável”, disse Amorim, que não acredita que a conta da água vai ficar mais barata como o prefeito vem dizendo. “É mentira que vai ficar mais barato. Vai ficar 200, 300 por cento mais caro. Não tem uma cidade em que a conta baixou de preço depois da água privatizada. E os prefeitos estão reclamando da venda da água em suas cidades. Não os que privatizaram, e não estão mais na prefeitura, porque estes que saíram depois de privatizar estão muito bem porque foram bem remunerados”, disse, lembrando, ainda, que não é a Cedae que vai ser privatizada. “É a nossa água que está sendo vendida. E quem tem a sua água de borracha vai ter que pagar também”, concluiu.
Arrematando a falação, lembrando que alguns vereadores não quiseram meter a mão na cumbuca por conta de o tema ser espinhoso, ou promissor, sabe-se lá o que estão pensando alguns representantes do povo tão quietos diante do que está em jogo, o vereador presidente da Câmara fez coro com o vereador Amorim, quanto a falta de povo nessas audiências, sabidamente fajutas, lembrando que a primeira atitude como presidente da Câmara, foi retornar as sessões para a noite.
Para o público
“As reuniões da Câmara, todos lembram, eram feitas de manhã, em horário de trabalho, e voltaram para as 19h assim que eu assumi a presidência, para que as pessoas pudessem participar. E passamos a transmitir, pela tevê [Diário] e pelo Youtube, para que o máximo de pessoas pudesse assistir, e participar do que estamos fazendo, afinal estamos aqui representando o povo. O vereador doutor Amorim tem razão, isso de audiência pública pela internet em horário de trabalho é tudo menos uma audiência pública. Pode ser uma sacanagem pública, uma putaria organizada, e não é outra coisa senão isso. Audiência pública tem caminho, tem forma, tem critério, e tem que ter público de verdade participando, tanto que ela é exigida nos processos de concessão, porque é o povo que concede alguma coisa que é dele, e é inadmissível que sejam criados subterfúgios para evitar a participação do povo”.
Lembrando que tudo vem sendo feito na informalidade, ultimamente, na Prefeitura, o vereador Leonardo disse que o município está à deriva, que nem o Titanic. “Tem muita gente acreditando que esse barco não afunda, mas já está afundando. Tenho que usar a voz como repulsa a quem não trabalha, a quem bate bumbo e tambor, para se fazer visto, mas não tem uma bandeira para levantar”, disse.
Ambulâncias
“Às vezes, vemos certas coisas que ofendem a moral. Veja essa questão das ambulâncias, que o governador veio fazer a entrega. Foi um evento bonito, bem organizado, com boa estrutura, digno da importância que foi o presente dado à cidade. Mas tiraram pessoas dos seus postos de trabalho para bater palma para maluco dançar. Todo mundo uniformizado, pago com dinheiro público, para aplaudir as promessas do prefeito. De povo ali não tinha ninguém, só servidores, em horário de trabalho, e fazendo política. Eu estava lá e me senti mal porque enquanto toda aquela gente estava ali a prefeitura estava parada porque maluco precisava de público para dançar. Eu parabenizo o governador, o secretário de Saúde, e em nome do povo de Teresópolis agradeço pelas ambulâncias que vão ser muito úteis à cidade. Agradeço ao prefeito, a secretaria de saúde, a quem tiver ajudado nessa conquista, mas da mesma forma eu repudio a forma como foi feito porque estão sapateando em cima da vida daqueles que mais precisam”.
Prédio vazio
“A Câmara paga aluguel há mais de um ano, no Rio de Janeiro, para que fosse feita a Casa de Acolhimento na cidade do Rio de Janeiro, reduzindo as dificuldades das pessoas, um projeto muito importante, daí o investimento do dinheiro público. Quantos já passaram por lá até lá hoje? Ninguém. Porque até hoje não colocaram a Casa para funcionar, por pura incompetência. Se não colocarem para funcionar logo vamos ter que romper o contrato, porque não tem como a Câmara estar a mais de um ano pagando aluguel de um imóvel mobiliado, e com tudo preparado, e a prefeitura não correr os procedimentos para fazer funcionar, minorando os problemas das pessoas que poderiam estar usando essa Casa de Passagem que é tão útil quando está em funcionamento”.
Sem gestão
“Os ônibus amarelinhos estão parados no pátio, e vans também, e a gente descobriu que os veículos não estão carregando passageiros porque não tem motoristas para a direção. Daqui alguns dias essas vans do Samu que Teresópolis recebeu não vão rodar, pelo mesmo motivo, e aí não adiantou nada o presente, o investimento”.