Nina Benedito
@ninabenedito
Bernardo Monteverde era filho de imigrantes europeus, nascido em Santa Catarina. Desde os 13 anos de idade trabalhou em diversas áreas, até o momento que, em 1939, abriu uma empresa de terceirização de serviços de mão de obra, a Monteverde, sistema que a época não existia ainda no Brasil. Tratava-se de uma empresa pioneira em Brasília também, entregando inclusive a Juscelino Kubitschek os prédios da Alvorada para que pudessem ser inaugurados com o Congresso, os Parlamentos. Por aqui, o espaço onde hoje se encontra o Centro Cultural Bernardo Monteverde, no Alto, foi doado por Bernardo Monteverde em 08 de fevereiro de 1994 à Prefeitura de Teresópolis. Situado na Avenida Oliveira Botelho, 210, sobreloja, o Centro Cultural foi inaugurado em julho de 1998 e no local acontecem palestras, conferências, aulas de piano, canto, violão, bordado, tricô, exposições de artes plásticas além de possuir uma biblioteca informatizada. Em entrevista ao “Programa da Nina”, na Diário TV, o neto de Bernardo Monteverde, o advogado Roberto Monteverde falou sobre a trajetória de vida do avô e de sua doação ao município em prol da comunidade. “É um prazer poder falar da obra e da trajetória do meu avô aqui na cidade de Teresópolis , em especial o Centro Cultural Bernardo Monteverde. Ele sempre foi uma pessoa ligada a filosofia, a logosofia, o estudo da vida, ele era um logosófico, então, é um orgulho muito grande poder ser neto dele, muito contente também pela trajetória que muito nos orgulha”, destacou Roberto.
Bernardo Monteverde chegou à inauguração de Brasília quando esta passou a ser a capital do país. Em 1939 ele fundou a Monteverde Engenharia Comércio e Indústria, que além do serviço de terceirização, também trabalhava como construtora, tendo feito diversas obras em todo o Brasil, aeroporto em Cuiabá, escolas pelo Brasil inteiro, Parque de Itatiaia, entre outras. “Meu avô era residente do Rio de Janeiro, sempre vinha a Teresópolis nos finais de semana, inclusive ficava no Hotel Alpina, na época da saudosa D. Erna e Sr. Bela. Ele tinha uma casa no Quitandinha em Petrópolis e passaram a vir a Teresópolis, foi uma paixão a primeira vista, e aqui ele decidiu adquirir uma casa de veraneio, tornou-se residência do meu pai, e atualmente eu resido com minha família. A gente tem um grande amor por Teresópolis e também pela nossa casa”, relata o neto.
Um altruísta por natureza
Bernardo Monteverde já frequentava a cidade desde a década de 70 e sentiu a necessidade de contribuir com Teresópolis também. “Toda obra que meu avô entregava no Brasil, seja um prédio de um banco, um aeroporto como foi em Cuiabá, com o lucro da obra, ele sempre deixava um posto de saúde ou uma escola para a comunidade, sempre alguma coisa em prol da sociedade, algo que ele trouxe da logosofia, é você fazer o Bem. Ele tinha uma frase muito bacana ‘ Na vida, a felicidade, ou se compartilha, ou se perde, porque ninguém pode ser feliz sozinho’, então ele sempre deixou um legado por onde passou, e em Teresópolis não foi diferente”, conta o neto orgulhoso. “Ele sentiu que a cidade era carente dessa parte cultural, principalmente para os mais carentes, para a população de baixa renda que não poderia pagar por um curso de música, de canto, aos próprios artesãos, aos artistas de Teresópolis que não tinham um local para exposição de suas obras. Sendo assim, em 1994 ele decide doar um imóvel onde funciona atualmente o Centro Cultural, em prol da comunidade, para a Prefeitura Municipal de Teresópolis. Infelizmente, como tudo no Brasil é difícil, muito burocrático, ele não viu esse sonho realizado, tendo em vista que ele faleceu em 1997, e o Centro Cultural foi inaugurado no ano seguinte. Contudo, a família vem tomando conta para que a Prefeitura mantenha aquilo com o objetivo pelo qual meu avô deixou em testamento, que fosse realmente voltado para a cultura e para os ensinamentos aos menores e a toda a população de Teresópolis”, explica Roberto.
Burocracia como um empecilho
“A vontade do testador, o doador, era que aquele espaço, que com certeza tinha um valor patrimonial alto, onde poderia muito bem se instalar um magazine, uma loja, ele simplesmente abdicou disso em altruísmo, pensando na coletividade, doou. O primeiro encalço foi a inauguração, que levou quatro anos para que fosse feita, por questões burocráticas, por conta de que a doação para o ente público, depende de uma série de requisitos legais, mas a burocracia emperrou um pouco isso. Até hoje, a burocracia nos atrapalha, fizemos há pouco tempo a doação de um aparelho de som para que fossem feitas as aulas de música, e o protocolo na prefeitura é difícil”, conta o neto do doador.
Desvirtuamento da finalidade
“O outro problema que aconteceu foi com relação ao desvirtuamento da finalidade cultural, durante um determinado mandato, transformou-se o Centro Cultural em um depósito da prefeitura, e em gabinete para secretário. A sala onde funcionavam as exposições permanentes de artistas locais, estava sendo usada como gabinete de secretário. A sala onde hoje funciona a biblioteca com mais de cinco mil livros, funcionava um almoxarifado da prefeitura, onde se guardava de tudo, de vassoura a produtos de higiene, um absurdo total, inclusive estava-se degradando o espaço”, conta Roberto.
Ação judicial contra a prefeitura
Segundo Roberto, por essa razão, a família Monteverde achou conveniente promover uma ação judicial em face da Prefeitura, cujo objetivo era um só: Que se fizesse a vontade do testador, Bernardo Monteverde. “Minha avó, a época representando a família, ingressou com uma ação que tramitou na Comarca de Teresópolis, em que foi feito um acordo com a Prefeitura para que a mesma exercesse como donatária, aquilo para que o imóvel foi doado, que não se desvirtuasse a finalidade do imóvel, não transformasse o espaço num almoxarifado de luxo ou num gabinete de secretário, porque durante essa época, a população não ia ao Centro Cultural”, conta Monteverde.
Ainda segundo o neto do doador, com muita dificuldade, e a morosidade de um processo judicial, após quatro anos foi feito um acordo e o Juízo determinou que fosse feita a vontade do doador, e desde então, a família nunca mais teve problema quanto a isso.
Parceria com o Instituto Villa Lobos
O Centro Cultural Bernardo Monteverde tem uma parceria com o Instituto Villa Lobos e desde 2016 se tornou o polo avançado da escola de música, onde diversas bolsas de estudo são dadas as pessoas mais carentes do município. “A gente tem sempre na lista de presença do Centro Cultural, pessoas de todo país, de todos os estados e até de fora, sempre deixando o seu carinho, seu elogio, e isso nos deixa muito felizes”, enfatiza o orgulhoso advogado. O Centro Cultural Bernardo Monteverde fica localizado na Avenida Oliveira Botelho, 210, sobreloja. O telefone para contato é o (21) 3642-1061.