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O DIÁRIO DE TERESÓPOLIS
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Agulha do Diabo, umas das escaladas mais bonitas e cobiçadas do mundo

Imponente montanha, outrora conhecida como Penhasco Fantasma, foi o último grande desafio da Serra dos Órgãos

Marcello Medeiros

A história da escalada brasileira está intimamente ligada a Serra dos Órgãos, sendo considerada a conquista do Dedo de Deus o marco inicial desse esporte no país. O feito realizado em abril de 1912 por José Teixeira Guimarães, Raul Carneiro e os irmãos Oliveira (Alexandre, Américo e Acácio) ecoou Brasil a fora e atraiu para essa região esportistas de várias partes país e até do exterior. A dificuldade de chegar ao cume do Dedo de Deus, ação que só foi repetida quase 20 anos depois, acabou sendo o diferencial para esse referencial histórico – mesmo com importante desbravamento do monte Olimpo, no Paraná, cerca de 30 anos antes. E, depois que os moradores de Teresópolis mostraram “que era possível chegar ao topo do Dedo de Deus”, visitar a Região Serrana virou rotina. Mais antigo clube do país, o Centro Excursionista Brasileiro, criado em 1919, conquistou diversas outras formações rochosas. Mas uma em especial demorou um pouco mais para ser vencida, o Penhasco Fantasma. O nome era justificável diante da sua dificuldade de acesso e seu formato peculiar. O gigante de granito que depois foi batizado como Agulha do Diabo só foi conquistado em 1941, pelo próprio CEB, e, até hoje, é considerada a montanha mais imponente da Serra dos Órgãos. Sua escalada, mesmo com o grande avanço dos materiais utilizados nesse esporte, ainda é considerada desafiadora por vários motivos, entre eles a exposição em relação à altura. Tanto que, no início dos anos 2000, uma revista americana especializada no assunto a colocou na lista das 15 escaladas mais espetaculares do mundo.


O acesso – e cerca de 90% de sua trilha – ficam em Teresópolis, através da sede do Parque Nacional da Serra dos Órgãos no município. Boa parte do caminho é feito pela trilha do Sino, até as proximidades do local conhecido como Cota 2000 (Para quem não conhece a rota via Paredão Paraguaio). Dali em diante, o Caminho das Orquídeas leva até o Mirante do Inferno, de onde se tem uma excelente vista para a montanha, e depois o vale da geladeira. Hoje, uma pessoa “comum” leva cerca de quatro horas só para chegar até o local onde se inicia a escalada. Mas, nos primeiros 17 anos após a conquista a situação era muito pior. Era preciso subir pelo duro e longínquo vale entre São João e Santo Antonio, cruzando por diversas vezes o Paquequer. Em meados dos anos 60, Salomyth Fernandes, Thier Meirelles e Raymundo Minchetti criaram a rota hoje utilizada – mas isso é assunto para uma coluna inteira.

Vista de fora, a “unha” e o início do lance do cabo de aço – equipamento que só foi instalado cinco anos após a conquista

Após vencer a difícil caminhada, lances de trepa pedra e pontos escorregadios, a escalada em si tecnicamente não é difícil, mas acaba desafiadora pela logística necessária e exposição em relação à altura, principalmente do meio para cima. O lance conhecido como “Cavalinho”, uma fenda diagonal que pode ser vencida com meio entalamento de corpo ou se escalando pelas bordas, conhecidas como arestas, é o grande desafio. Se passar por ele, é preciso escalar um lance em chaminé, dentro do local conhecido como “unha”, e depois enfrentar o cabo de aço na estreita ponta final, todos lances onde o final do vale é tão longe que gigantes árvores mais parecem pés de brócolis…
Mas vale todo e qualquer esforço para se chegar aos 2.050 metros de altitude, cume onde pisaram em junhho de 1941, após três anos de investidas e muitos desafios vencidos, Giusepe Toseli, Roberto Menezes de Oliveira, Raul Fioratti, Gunther Buchheister e Almy Ulissea. O relato dessa conquista é espetacular e também merecia um grande destaque por aqui. Porém, como o espaço é curto, veja no box um dos trechos desse grande e importante feito na história do montanhismo brasileiro.

O famoso lance do “cavalinho”, que pode ser feito escalando pela aresta ou através de entalamento de meio corpo. Abaixo, um intimidador abismo

História da Conquista
Manhã de 20 de Junho de 1941. Giuseppe Toselli começa a deslizar pelo musgo traiçoeiro e pede aos companheiros auxilio da corda. Cautelosamente, retrocede até o grampo anterior, firmando o pé. São 11:10hs. Sem se intimidar, inicia então a perfuração da rocha para fixar mais um grampo, sem o qual seria impossível vencer a última etapa. Feito o orifício, Toselli não se detém para cravar o grampo e, apoiado na própria broca, parte para o lance final, atingindo o estreito cume da Agulha do Diabo às 11:35hs. Palmas ecoam da Pedra de São João, de onde três companheiros observam o desenrolar da conquista. A seguir, sobem os outros integrantes da cordada: Roberto Menezes de Oliveira e Almy Ulysséa. Abraçam-se emocionados e fincam no vértice do rochedo a bandeira brasileira e a flâmula do CEB. Estava vencido o colosso de granito!
A história, entretanto, começou cerca de três anos antes, quando Almy Ulysséa se deparou com fotografias da Serra dos Órgãos num exemplar de uma revista. Entre as fotos destacava-se a do “Penhasco Fantasma”, tal como era conhecida a Agulha na época. Almy encantou-se pela montanha de 2.050 metros de altitude. Acompanhado por Günther Buchheister, Raul Fioratti e Giuseppe Toselli, passou a empreender uma série de explorações na região. Subiram a Pedra de São João, depois a de São Pedro, estudando as possibilidades de aproximação. Finalmente concluíram que um acesso viável seria pelo colo entre estas duas pedras, margeando o Mirante do Inferno. Por ali, o inseparável grupo chegou à base da escalada e outras explorações se sucederam.
Em 24 e 25 de agosto de 1940, numa investida feita por Toselli, desta vez acompanhado por Edmundo Braga e Antônio Samarão o platô da Agulha foi atingido e dois lances foram equipados com cabo de aço visando agilizar as próximas tentativas. Duas semanas depois, em 7 e 8 de setembro, Toselli, Günther e Fioratti venceram a fissura horizontal situada após o platô, subiram a Chaminé da Unha e fixaram um grampo no seu final.
Os meses se passaram, chegou o ano de 1941. Günther e Fioratti encontravam-se afastados do grupo devido a compromissos pessoais, porém Toselli e Almy continuaram o trabalho de conquista. No mês de Junho empreenderam três investidas em fins de semana consecutivos, sendo que na terceira Roberto Menezes foi convidado a anexar-se ao grupo. Concluíram que com mais uma investida chegariam ao cume. De fato, no quarto fim de semana, em 29 de junho, Toselli, Almy e Roberto partiram para o ataque decisivo e completaram com êxito a conquista do penhasco, trazendo para o CEB um dos sucessos mais notáveis do montanhismo brasileiro. A Agulha é, ainda hoje, um desafio, mesmo para os mais experientes alpinistas. Uma curiosidade: a denominação “Agulha do Diabo” surgiu de uma proposta de Günther Buchheister, ao constatar que onde existe Santo Antônio, São João, São Pedro, Dedo de Deus, Dedo de Nossa Senhora, Frade, Sino, Órgãos e Cruz, a presença do Diabo deve estar concretizada na forma daquela desafiadora Agulha. (Fonte: Boletim do Centro Excursionista Brasileiro – CEB de junho de 1991).

Edição 23/11/2024
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