Marcello Medeiros
O Dedo de Deus foi conquistado em 8 de abril de 1912, quando José Teixeira Guimarães, Raul Carneiro e os irmãos Acácio, Américo e Alexandre Oliveira, contando ainda com a ajuda logística do menino “João Dente de Ouro”, mostraram para o Brasil inteiro que não era impossível vencer o gigante de granito da Serra dos Órgãos, como pintado por europeus poucos meses antes. O grande feito mudou o rumo do esporte no país, mas somente 21 anos depois uma mulher pisou naquele cume pela primeira vez, Luiza Caracciolo. Já a primeira teresopolitana a escalar o Dedo de Deus só teve essa alegria em 1949, mais precisamente no dia 17 de julho daquele ano, data nunca esquecida pela então menina Lilia Montanha, que tinha 15 anos. Atualmente o cenário é outro e as mulheres não precisam esperar tanto tempo assim para mostrar que são capazes de realizar os mesmos feitos dos homens, ou ainda mais difíceis e espetaculares. Porém, com uma cultura machista e infelizmente ainda recheada de ações que seguem totalmente na contramão da evolução humana, muitas delas não se sentem confortáveis para se aventurar em alguns esportes e situações, como no montanhismo e escalada. Pensando em mudar esse quadro e mostrar que o mundo está ali para ser cor de rosa, azul, verde, amarelo, do jeito que cada um achar melhor, a Fisioterapeuta e Montanhista Letícia Monclaro, de Teresópolis, tem realizado excursões tendo como foco atender principalmente o público feminino.
“Como mulher, assim que iniciei no montanhismo me vi cercada por muitos homens e muitas amigas questionavam sobre ‘coragem de ir só com homem’. Aos poucos fui montando um grupo de mulheres e acabou ficando grande e incentivando que eu criasse a empresa para mulheres terem lugar seguro par praticar esporte tão maravilhoso que é o montanhismo. Então já há algum tempo a gente vem com essa pegada de dar atenção a mais para as mulheres, lógico que não excluímos os homens, mas realizando esses eventos voltados para as mulheres elas se sentem mais confortáveis nesses locais acolhedores. Também temos como foco ajudar quem tem alguma dificuldade, está sedentário, que acha que não consegue, que não tem capacidade… Aquelas que têm vontade, falam sobre ao ver fotos e ficam sonhando em também chegar a esses locais. É importante mostrar que não precisa ser um super atleta, que é um processo que permite essa democratização do esporte”, pontua Letícia.
Cada vez mais longe
Com a facilidade de acesso à informação, essa ideia de que o montanhismo e escalada são esportes tipicamente masculinos têm felizmente mudado ao longo dos tempos. São cada vez mais comuns notícias de mulheres conquistando cumes dificílimos e extremamente técnicos, como o Everest, o “teto do mundo”, onde algumas brasileiras já marcaram seus nomes – como Aretha Duarte e Karina Oliani, entre outras. “Vejo até algumas colegas que iniciaram na mesma época que eu e hoje estão fazendo grandes projetos, fazendo alta montanha, grandes picos, e isso é muito legal. Por aqui também tem crescido bastante a procura, uma sempre busca inspirar e ajudar a outra e não deixar que estereótipos atrapalhem esse crescimento”, atenta Letícia.
Os roteiros
Cercada de montanhas, muitas protegidas pelas três unidades de conservação com sede no município, por vezes mesmo que ainda tecnicamente estejam em territórios vizinhos, mas acessadas por aqui, Teresópolis têm um grande número de possibilidades para a prática do montanhismo e escalada. Assim, é difícil dizer qual é a “mais legal” ou “mais bonita” para se começar. Mas uma dica é buscar aqueles mais conhecidos e que consequentemente podem despertar o interesse em buscar caminhos mais longos, difíceis e também belos e inesquecíveis.
“A gente trabalha principalmente na região de Teresópolis, clássicos como Pedra do Sino, Mirante do Inferno, Pedra da Cruz, Travessia Petrópolis x Teresópolis, além de roteiros na região vizinha com Friburgo, como a travessia Vale dos Frades x Vale dos Deuses, Cabeça de Dragão, Três Picos… Sem esquecer o rapel da Pedra da Tartaruga, no Parque Natural Municipal Montanhas de Teresópolis”, detalha a guia. Para saber mais sobre esses e outros roteiros, acesse o Instagram @cadenaexpedicoes ou entre em contato pelo telefone (21) 97562-9283.