Wanderley Peres
Estamos a duas semanas da Primavera, estação das flores, que segue ao inverno e rapidamente traz o calor do verão, quase no meio dela, vindo junto o período das chuvas fortes, que chega na Região Serrana em fins de outubro, indo até abril. É tempo de sabiás nos ninhos, de cantoria de pássaros, de folhas mais verdes e cores em abundância. Mangueiras, ipês, abacateiros… As árvores começam a esbanjar seu vigor, e se colorem, como se estivessem se embelezando para a estação.
Foi nesse instante mágico da Natureza que Teresópolis perdeu um de seus mais apaixonados moradores, interessado cidadão que tantas árvores plantou enquanto viveu entre nós, colhendo boas amizades, ainda prezadas por quem ficou no mundo para admirar as cores que deixou. Radialista e apresentador de tevê, o plantador de árvores Tião Corrêa tinha programa na tevê Diário, onde falava de sítios e fazendas, indústrias e fábricas, flores e jardins. E contava sobre pessoas que faziam diferença na cidade, afinal “A vida é um show”, e o show de programa que fazia há vários anos também ficou marcado para a história.
A indesejada das gentes chegou para o Tião já tem três anos. Estava fazendo o que mais gostava, mexendo com terra, plantando árvores e limpando o mato, em 6 de setembro de 2020, quando o coração encrencou de parar. Socorrido às pressas, não havia o que ser feito, estava o ciclo da vida consumado para ele, saindo dela para a história da nossa cidade.
Embora não fosse empregado da prefeitura, Tião Corrêa era dedicado servidor da secretaria de Serviços Públicos por quase vinte anos, responsável pela manutenção das praças e logradouros. Fez do abandonado Horto Municipal amplo jardim e celeiro de plantas quando lá esteve; organizou o Cemitério Caingá ao ser chamado para a difícil função; livrou das pragas as enormes árvores das nossas avenidas, passando com louvor pelos últimos governos, de Tricano, Petto, Arlei e Catão, sendo muito admirado pela sua coragem e dedicação à coisa pública. O parque ecológico que criou nas culminâncias da Fazendinha, ambiente de sol rareado pelos angicos que buscou em Dona Euzébia, Minas Gerais, são o melhor exemplo de sua persistência. Tião transformou uma árida cabeça de morro num lugar agradável de passar manhãs e tardes, debaixo daquelas árvores de sombras tão generosas; meio ambiente que gestou no pensamento enquanto conversava com quem iria pagar pelas árvores, quando fazia a viagem de ida e volta ao estado vizinho, sombras que construiu ao regar as plantas e livrá-las das pragas, ao cultivar a beleza que as árvores são em toda a nossa existência, mesmo na infância e adolescência.
Na imprensa, o mineiro Tião Corrêa, de Patrocínio do Muriaé, fez programa de rádio, nas emissoras Teresópolis e Geração, escreveu no jornal O DIÁRIO, e apresentou programa na Diário TV, onde cultuava as belezas da região e o trabalho rural. Não tem quem não admirasse sua gentileza e sorriso aberto e, especialmente, sua enorme capacidade de trabalho e amor à cidade que fez mais bela com o plantio de inúmeras mudas de plantas e árvores espalhadas às centenas. Das graciosas quaresmeiras, resedás e cerejeiras que tanto gostava aos vetustos angicos que fez de uma centena e meia deles imponente floresta no entorno do mirante da Fazendinha, Tião Corrêa deixou seu legado, por isso merece ser lembrado, e homenageado.
