Marcello Medeiros
Iniciadas em junho de 2022, as obras de contenção e drenagem de encostas nas localidades do Jardim Féo e Espanhol, executadas pela Construtora Medeiros Carvalho de Almeida, contratada através de licitação pelo governo estadual, deveriam ser entregues para a população dessas localidades em breve. Porém, há pelo menos duas semanas os funcionários de tal empreiteira não têm sido vistos na região e ainda há trechos a serem contemplados pelo importante serviço – que vale frisar ainda visa resolver problemas que se arrastam desde a maior tragédia natural do país, a de 12 de Janeiro de 2011. Buscamos um posicionamento oficial sobre o assunto, entrando em contato com representante do governo Cláudio Castro. Em nota, encaminhada para a redação do jornal O Diário e Diário TV, foi informado que ”a Secretaria de Habitação de Interesse Social esclarece que as obras de contenção foram executadas, mas que, por causa de novas ocupações irregulares, precisou rever o projeto”. Também de acordo com o documento, “assim que as adequações forem finalizadas, a pasta iniciará o processo para realizar as intervenções de drenagem”. Não foi informado nenhum prazo para retomada da parte final do importante serviço, o que preocupa moradores diante do período de chuvas fortes que se aproxima.
O investimento do governo do estado neste projeto é de R$ 37 milhões. Tais obras estão sendo realizadas nas ruas Américo Berlim, Abílio Diniz e Servidão Francisco Mendes no Jardim, ou Loteamento Féo, e na Rua Nossa Senhora das Graças, no Espanhol, pontos considerados mais críticos e que representavam maior risco de deslizamento, preocupando sobreviventes da catástrofe de 12 anos atrás. Para viabilizar o acesso de equipamentos e operários, uma rua foi aberta entre as duas comunidades onde antes havia apenas uma trilha utilizada pelos moradores para acessar suas casas, muitas delas ainda interditadas pela Defesa Civil.
Áreas de risco sendo retomadas
Não foi informado o número de ocupações irregulares, quais os locais, se são imóveis que estavam interditados desde 2011 ou novos construídos em áreas onde houve grandes escorregamentos de terra. Porém, mesmo empiricamente é fácil compreender que a redução do número de ações e fiscalizações nos anos posteriores à Tragédia, por parte dos governantes em todas as esferas, permitiu que locais que devido ao seu histórico não deveriam mais ocupados voltassem a ser de “interesse habitacional”. Soma-se a isso a falta de programas que contemplem quem não tem moradia e estamos construindo uma história nova com uma enorme semelhança com a que já vivemos e nada aprendemos. Não é só no Espanhol que casas ou áreas afetadas pelas enxurradas de 12 de Janeiro de 2011 voltaram a ser ocupadas. Caleme, Posse, Vila Muqui, Caleme… Há relatos de invasões em todos os bairros, muitos em imóveis que estavam demarcados para serem jogados no chão e que simplesmente passaram a ser ignorados pelos gestores que assumiram cargos ou funções públicas nos anos seguintes à fatídica catástrofe natural. Os números e siglas pintados pela Defesa Civil nas paredes que sobraram naqueles inesquecíveis meses foram apagados e novamente há dezenas de famílias em situação de risco, cada uma com sua fé e crença de que não irá se repetir o volume de chuva que mudou os rumos da Região Serrana mais de uma década atrás.