Isla Gomes
Fundada há mais de 15 anos, a Feira Agroecológica Tradicional de Teresópolis reúne um grupo de agricultores, produtores, artesãos e músicos com a missão de nutrir e conscientizar a sociedade, levando saúde, abundância e conhecimento em forma de alimentos saudáveis produzidos na região, além de propagar e viabilizar a agricultura orgânica em nosso município, o que gera emprego e renda para pequenos produtores. Porém, apesar de tamanha importância, há alguns anos a feira tem sido deixada de lado pelo poder público, com promessas de realocação e melhorias, que nunca se cumprem efetivamente. A cada ano que passa os trabalhadores perdem mais espaço e a dores de cabeça só aumentam. No mês de abril mais um transtorno veio à tona, o de uma possível demolição de um imóvel no local onde ela funciona hoje e que pertence à Sudamtex, o que segundo os organizadores afeta diretamente o funcionamento da feira. No sábado (04) os feirantes e visitantes tiveram uma nova surpresa infeliz, eles se depararam com um grande avanço no processo de demolição. Apesar disso, eles alegam que o tombamento proíbe a destruição da estrutura da feira antes da transferência oficial.
Em abril, após a compreensível indignação com o início repentino da demolição, o governo municipal, através das secretarias municipais de Agricultura, Abastecimento e Desenvolvimento Rural, Governo e Coordenação e de Projetos Especiais se reuniu com lideranças da Associação Agroecológica de Teresópolis (AAT). Na ocasião a PMT disse que “vem realizando, desde o ano passado, reuniões consecutivas com as lideranças da Associação Agroecológica de Teresópolis sobre realocação da Feira Orgânica até que o município tenha o seu futuro Mercado Municipal” e que “foi promovido mais um encontro com os expositores para tratar deste assunto. Em pauta, foi estudada a possibilidade de transferir a feira para um novo local, atendendo a sugestão dos próprios participantes da Feira”.
Desamparados
Um dos fundadores do espaço, o Engenheiro Agrônomo Beto Selig relatou o seguinte ao Diário: “Cada vez que a nossa feira perde estabilidade, os trabalhadores perdem a estabilidade também. Nossa grande tristeza é ver que nossa vida de agricultura ecológica está sendo colocada em risco, com nosso espaço maltratado, ameaçado e jogado de lado. São 15 anos de atividade, construindo credibilidade, atravessando tragédias, para sermos ameaçados dessa forma como estamos sendo agora. Eu acho que há falta de clareza do poder público com a gente, como se a gente fosse um nada, como se fossemos pouco importante. A demolição está avançando e a gente não sabe o quanto isso vai nos afetar, não fomos devidamente avisados e amparados, não temos garantia nenhuma e o poder público está inacessível”, desabafa.
Mais um depoimento
Emerson Ferreira é guia de turismo, ele tem consciência da relevância da Feira Agroecológica para o município de Teresópolis. Como frequentador e admirador, Emerson nos detalha sua insatisfação diante dos fatos. “Eles estão demolindo um tombamento, isso é inadmissível. Estamos tentando impedir que esse crime aconteça, os produtores e feirantes estão completamente abalados com essa situação. Nesta segunda-feira (06) estive no local e vi os funcionários da Prefeitura trabalhando na demolição. Eu como visitante e admirador, me sinto triste em ver os trabalhadores da Feira totalmente impotentes diante dessa situação toda. Eu acredito que devemos todos nos juntar para fazer uma denúncia e levar ao Ministério Público, para que sejam tomadas as devidas providencias diante desse crime”, relata.
O que está por trás da demolição?
A prefeitura e proprietário do terreno da antiga fábrica Sudamtex vêm tentando desalojar a feira do local há bastante tempo, para que seja aberto o acesso entre as ruas Tenente Luiz Meirelles e Nilza Chiapeta, necessário à mobilidade urbana depois que a prefeitura, sob o pretexto da implantação da passagem de integração, impediu o fluxo no sentido Rodoviária-Prefeitura, obrigando os motoristas a seguirem pelas ruas Waldir Barbosa e Delfim Moreira, até a Olegário Bernardes, onde se alcança a Reta, acessada de forma mais rápida e fácil pela ponte da Rodoviária. A dificuldade criada pela Prefeitura, verdadeiro nó no trânsito, seria resolvida de forma fácil, desfazendo a despropositada mudança, ou da forma difícil, a escolhida, de abertura de uma rua para a cidade que interessa muito mais aos oligarcas íntimos do prefeito e ligados, em diversas tramas, ao governo municipal. O Diário buscou novamente um posicionamento da “gestão”, que mais uma vez optou pelo silêncio.