Nesta quinta-feira (27), a reportagem do Diário conversou com a empreendedora Cláudia de Freitas Benevides, que nos últimos dias teve sua vida – e da família – totalmente modificada depois de ter os produtos que comercializava apreendidos e destruídos em operação realizada pelo governo municipal. Aproximadamente três mil ovos, que eram vendidos em ponto na Rua Alfredo Rebello Filho, Alto, foram apreendidos pela prefeitura e enterrados no lixão do Fischer – apesar de o espaço estar interditado há mais de um ano. A alegação, falta de certificação para o comércio de produtos de origem animal. Porém, na conversa realizada em nossa sede, ela contou que sua família já estava nesse ponto há quatro anos, tendo sido iniciado o comércio pelo irmão, que há três lhe deu uma oportunidade de assumir o espaço e garantir renda para a família.
“Nesse período nunca tive problema nenhum, trabalhei muito, fiz clientes, amigos, pessoas que nesse momento estão deixando palavras positivas, de força. A gente trabalha de forma honesta, a produção é do meu irmão em São José do Vale do Rio Preto, sei da qualidade dos ovos que eu vendo, até mesmo antes eu cuidava para ele de três mil galinhas, sei da forma que é feito. De repente essa situação, a indignação, que causou revolta dos clientes nessa por ver os três mil ovos jogados no buraco. Eles conhecem a qualidade, sabe que são ovos frescos, fiquei revoltada com isso. Tem também o custo, o trabalho que dá. Não compro para revender, meu irmão produz, tem o custo para isso. Eu ficava no ponto ficava de terça a domingo, fazendo sol ou chuva”, pontua Cláudia.
Ela questionou também a maneira que ocorreu a apreensão, três dias atrás. “De repente te dão cinco minutos para apresentar tudo que estavam pedindo, saindo escoltado de polícia. Eu me senti como se fosse bandida e a verdade não é essa. Estava simplesmente trabalhando honestamente”, disse, falando ainda que a documentação exigida está sendo providenciada. “Quero me legalizar, peço que me ajudem para conseguir o alvará do ponto, para continuar trabalhando, que meu irmão consiga o selo de certificação, que já está em andamento. Queremos sair para trabalhar sem essa preocupação de ser pegos de surpresa. Hoje passei pela cidade e vi todo mundo vendendo ovo, só eu que não estava lá”, completou.
Sem dinheiro entrando
Cláudia Benevides também relatou ao Diário que depende do negócio familiar e que não está, em nenhum momento, interessada em transformar sua causa em causa política: “Sem vender, eu fico parada. É meu ganha pão, meu irmão me estendeu a mão. Trabalhei 30 anos na lavoura, nunca tive carteira assinada, então ele meu deu esse ponto para trabalhar e tem sido assim. Sempre falo, tem sido uma benção na minha vida. Não estou aqui para criticar prefeito, vereador, nada, eu só estou querendo trabalhar. Agradeço a cidade de Teresópolis por três anos sem nenhum problema, é só isso que preciso”.
Apoio da população
Diante dessa situação, se é que se pode dizer que houve uma coisa positiva foi o grande apoio prestada à empreendedora. “Eu não tenho palavras para agradecer tantas mensagens que tenho recebido. Hoje custei sair de casa de tanta mensagem que recebi no celular. São palavras positivas, gente me dando incentivo, força para que eu possa prosseguir. Tem sido benção na minha vida. Não sei nem como agradecer, mas primeiramente a Deus e a cada um que tem me dado palavra de ânimo, que tem me dado força”, enfatizou.
O que diz a prefeitura
Em nota distribuída quando o caso começou a ter repercussão, a prefeitura informou o seguinte: “A Vigilância Sanitária de Teresópolis vem a público esclarecer sobre a recente ação de fiscalização realizada em resposta a denúncias de venda irregular de ovos na cidade. Durante a fiscalização, foi constatado que os ovos comercializados não possuíam o selo de inspeção sanitária (SIF), o que impede a comprovação de sua procedência e segurança para o consumo”.
Sobre o descarte, foi destacado que “de acordo com as normas sanitárias vigentes, produtos alimentícios que não apresentam o selo de inspeção sanitária são considerados irregulares e sem garantia de qualidade e segurança. Dessa forma, esses produtos devem ser descartados para proteger a saúde da população. A ausência do selo impede a doação dos mesmos, uma vez que não é possível assegurar que estão próprios para o consumo”.
A Vigilância Sanitária esclarece ainda que a empresa responsável pelos ovos é de São José do Vale do Rio Preto, sendo a legalização e fiscalização dessa empresa de responsabilidade da prefeitura daquele município. “A Vigilância Sanitária de Teresópolis atua conforme suas atribuições locais e colabora com os órgãos competentes de outras regiões, quando necessário”, justifica a PMT, dizendo ainda que estão sendo tomadas medidas para evitar que situações como essa voltem a ocorrer. “A comunicação com comerciantes e produtores será intensificada, com o intuito de garantir que todos estejam cientes das exigências legais para a comercialização de produtos alimentícios”, finaliza o documento.