Wanderley Peres
No tempo antigo, quando ainda se votava na cédula de papel, e mesmo antes disso, em tempo mais antigo ainda, quando a cédula para a urna era a carta do candidato nas mãos do eleitor, os políticos da cidade temiam os candidatos que tinham acesso aos eleitores do interior do município. Quando chegavam os votos “da roça”, a eleição se definia, ampliando a vitória do candidato que já estava ganhando, ou mudando o rumo da apuração que passava a favorecer a outro.
Os tempos mudaram e o interior se desenvolveu, e nem de roça se chama mais o interior porque o desenvolvimento na zona rural e a riqueza que a agricultura produz para a cidade elevaram o status dos dois distritos interurbanos, segundo e terceiro, que se somam ao primeiro, a cidade, na organização do município.
Apesar do desenvolvimento flagrante, e da tecnologia que nos une cada vez mais, o interior continua repetindo o voto, em algumas regiões votando completamente diferente da cidade, que também não pensa tão homogeneamente, registrando-se, aqui e ali, uma penetração maior de um que de outro político, sinal de que existem núcleos culturais distintos, mesmo na zona urbana. São as culturas localizadas, formas diferentes de viver e entender as coisas, que nem sempre são as mesmas, de um bairro a outro, daí as alterações de preferências políticas.
Nas urnas do interior, no entanto, em alguns locais, os votos têm sido muito diferentes aos da cidade, bastando lembrar a eleição extemporânea de 2018, que se houvesse uma urna a mais “da roça” em vez de uma urna a mais “da cidade” seria Luiz Ribeiro o prefeito e não o Vinícius, que ganhou por apenas 22 votos de diferença, facilmente tirada em qualquer uma das seis urnas de Água Quente, onde até em eleição que não se vota para vereador o vereador Fabinho Filé tem voto.
Nas terras de Fabinho Filé, em 2018, o candidato Luiz Ribeiro, que vinha perdendo por pequena margem em quase todas as urnas da cidade, ganhou fôlego enorme, e o derrotado só não ganhou a eleição porque as urnas de Água Quente logo acabaram. Luiz Ribeiro fez 918 votos contra 107 de Vinícius em Água Quente. Eram seis urnas, e o resultado dos dois candidatos nelas foi de 169 a 16, 152 a 34, 109 a 21, 165 a 15, 155 a 11 e 168 a 10, representando a margem de 9 por 1.
Agora, na eleição de 2024, em que o candidato de Guapi Júlio estava ganhando a eleição até cerca de 50% das urnas apuradas, quando entraram as urnas do interior é que o candidato de fora foi passado a segundo e terceiro, alternando com Tricano essas posições, e estabelecendo a dianteira de Leonardo. Leonardo ganhou em várias localidades do Segundo e Terceiro Distrito. Acima dos 25,18% que fez, contra 24,78 de Julio e 24,11 de Tricano.
Além de ser o mais votado em alguns bairros da cidade, como Meudon (26,59%), São Pedro (29,83%) e Fonte Santa (30,55%), e mesmo em Albuquerque, que é reduto de Tricano e, ainda assim, fez 27,01%, em Vieira foi de 31,45% a vantagem do prefeito eleito; em Vargem Grande 38,09%, Bonsucesso 41,71%. Nas 7 urnas do Fabinho, 3 na escola Alcino Francisco e 4 na escola Alfredo Inácio Jorge, a vantagem definiu a eleição. Em Água Quente, Leonardo fez mais votos que todos os demais candidatos juntos. Apesar da força de Tricano no interior e do asfalto eleitoreiro jogado pelo governo do estado na região, o resultado geral foi de 834 votos para Leo (115+ 126+126+ 138+ 99+ 113+77); Tricano 395 votos (61+ 65+74+62+ 43+ 39+ 51); Alex 211 votos (32+ 35+ 46+30+ 15+ 25+ 28); Júlio de Guapi 13+ 4+ 14+ 5+14+ 17+ 17) e Beique San 4 votos (1+1+2).
Segunda região onde Leonardo fez mais votos, 41,71%, nas 10 urnas das escolas Francisco Maria Dalia e Mariana Leite Guimarães, em Bonsucesso o prefeito eleito fez 1.145 votos contra 742 de Tricano, 666 de Júlio e 169 de Alex, e Beique 22.
Agora, então, com a reeleição de Fidel Faria (1.732 votos), Bruninho (1.521), Fabinho Filé (1.648), Dudu do Resgate (1.528) e Diego Barbosa (1.174), e a eleição dos novatos Vitinho (1.397) e Caio (815), independente do que fizerem esses sete vereadores do interior na nova Câmara, ninguém vai duvidar mais da relevância dos votos do interior para definir as eleições.