Marcello Medeiros
@mochileiro_marcello
Qual o tamanho do seu sonho? Ele chega aos 8.848 metros de altitude, como o promontório da montanha mais alta do mundo, o Everest? Ou quem sabe o coração bate mais forte nos 1.692 metros do cume do Dedo de Deus, marco do montanhismo nacional? De repente, você pode fazer apenas uma analogia a essas importantes formações rochosas, e as dificuldades para se chegar aos pontos mais altos desses lugares, para trabalhar o necessário para tirar o que pode estar te mantendo vivo do campo do imaginário. Mas, no caso da Professora de Educação Física aposentada Maristela David do Santos, a concretização de um sonho tem exatamente ligação com essas duas montanhas. E, cerca de um mês atrás, após um longo período de intensa dedicação, ela pisou no cume mais famoso da Serra dos Órgãos e mais importante para a história da escalada brasileira. “Esse sonho apareceu porque sempre tive para o Dedo de Deus um olhar de respeito com a natureza, de superação… Já havia feito outras montanhas, mas sempre o venerei. Um dia pensei que poderia usa-lo em comparação com o Everest. Queria ter algo grande para superar, um grande símbolo que marcasse minha vida no montanhismo”, relata Maristela que, com o feito realizado aos 57 anos, talvez diante dos olhares desconfiados de alguns incautos, espera inspirar outras pessoas a viverem as grandiosas experiências tanto anseiam.
Localizado na cordilheira dos Himalaias, entre Nepal e Tibet, o Monte Everest foi conquistado em 29 de maio de 1953 por Edmund Hillary e Tenzing Norgay. Em 08 de abril de 1912, portanto 41 anos antes, um grupo de determinados moradores de Teresópolis realizou feito tão grandioso quanto pisar no topo do mundo. Desafiados pela falácia de um grupo de escaladores europeus, derrotados pelo Dedo de Deus e com a ideia de que “se eles não fizeram, ninguém mais faria”, José Teixeira Guimarães, Raul Carneiro e os irmãos Acácio, Alexandre e Américo de Oliveira mostraram que era possível realizar o dito impossível. Para a Professora Maristela, outra data vai ficar na memória eternamente: 13 de setembro de 2021. Nesse dia, após um longo período de treinos e sonhos, ela pisou no mesmo cume onde estiveram o ferreiro Teixeira e seus amigos 109 anos atrás. A via escolhida foi a Face Leste, através da desafiadora variante “Maria Cebola”.
A preparação
Mas, para realizar tal façanha, que mesmo com o avanço das técnicas de escalada ainda é um grande desafio físico e psicológico, devido à exposição em relação à altura, ela fez um longo período de treinamentos. Ela já havia tido outras experiências em montanha, inclusive com pequenas escaladas, mas optou em intensificar os treinos antes de partir para o Dedo. “Depois que se deixa a elaboração, o campo do desejo, entra a consciência que é fundamental estar preparado para alcançar seu sonho. Então trabalhei todos os aspectos físicos, parte muscular, de resistência, aeróbico, aprender e treinar as técnicas de escalada para fazer isso com segurança, os nós, o rapel, tudo… Para isso é fundamental procurar profissionais competentes, pessoas que também tenham essa conexão com a montanha, para vencer com segurança e confiança esse desafio. Outro ponto importante é trabalhar o psicológico, para não deixar nada atrapalhar na realização”, destaca Maristela, que teve como professor o escalador local Fabrício Vieira, o “Fininho”, que, curiosamente, tem parentesco com os irmãos Oliveira – os mesmos que participaram da primeira incursão brasileira que chegou ao cume do Dedo de Deus.
No topo do mundo
O ponto “mais alto do mundo” não precisa ser necessariamente o Everest. Pode ser qualquer lugar ou situação que você tenha o desejo de estar ou vivenciar. No caso de Maristela, foi o Dedo de Deus. “A gente até treme quando chega. Para mim, foi como se estivesse chegando ao Everest, por isso digo que é o ‘meu Everest’. Foi uma conquista muito grande, um marco na minha vida, um corte, uma renovação interior de energia, de tudo. Pisar naquele cume renovou minha vida emocional e física, como se fosse um renascimento”, pontua.
Novos sonhos
Na maioria das vezes, a realização de algo tido como impossível, para você mesmo ou para quem observa de fora sem conhecer a sua essência, pode servir de gatilho para coisas muito maiores. Pode motivar sonhos que você sequer sabia que tinha, como ocorreu com Maristela. “Daqui para frente quero atingir algumas montanhas um pouco mais difíceis em termos técnicos, montanhas que nunca havia pensado em ir, como a Agulha do Diabo. Ela será meu próximo passo, tem mais dificuldade técnica e física, inclusive para se chegar a base da escalada, um mundo que estava restrito e agora foi expandido em minha mente”, enfatiza a Professora. Para ver mais sobre esse bonito projeto, acesse a rede social de Maristela no Instagram (/mardosmares).