Um dos mais importantes profetas do Antigo Testamento é o criador de gado e agricultor, Amós. Isso mesmo, não era um cara de status ou um professor renomado de uma famosa universidade, era gente como todo mundo, porém no meio de seu rebanho, não se condicionou a reproduzir discursos ou atitudes, mas se indignou frente ao sistema portador de aguda hipocrisia e que provocava uma série de injustiças aos excluídos.
O próprio Amós dizia que não se considerava profeta e nem tinha realizado nenhuma matrícula em um seminário para tal função, mas se encontrava ali no meio do povo, pois Deus havia lhe solicitado isso: “Vai e profetize a Israel”. Amós traz sossego de forma anacrônica, a preocupação de Martin Luther King: “O que me preocupa não é o grito dos maus e sim o silêncio dos bons”. Amós respondeu: Eu não me calarei frente aos impostores e ilusionistas do capital.
Preste atenção no que esse profeta denuncia: “Ouçam, vocês que pisam os pobres e arruínam os necessitados da terra, dizendo: “Quando acabará a lua nova para que vendamos o cereal? E quando terminará o sábado para que comercializemos o trigo, diminuindo a medida, aumentando o preço, enganando com balanças desonestas e comprando o pobre com prata e o necessitado por um par de sandálias, vendendo até palha com o trigo? ”O SENHOR jurou contra o orgulho de Jacó: “Jamais esquecerei coisa alguma do que eles fizeram. ” (Amós 8:4-7)
O povo de Israel sempre foi intrinsecamente religioso. Tais como as culturas que os circundavam, eles sempre fundiram seus caminhos políticos, sociais e econômicos com a pauta da religião. Portanto, a acusação de Amós parte do princípio, que essas pessoas iam até seus lugares de oficio religioso, desempenhavam suas liturgias à risca, comemoravam de maneira dedicada os dias santos, todavia, ficava a espreita no final das celebrações, para assim, voltar ao seu comercio de injustiças.
Como assim? Você vai ao seu templo, aguarda o final do sermão ou da palestra, para continuar pisando no outro? Usufruindo do seu próximo como animal de carga? Sugando seu irmão até o osso para experimentar o tutano?
O texto, do relutante profeta, denuncia que os comerciantes da época compravam o pobre com um bocado de prata e o necessitado com um par de sandálias, contextualizando, isso cai como uma luva para os processos políticos de nossa época. Homens que se levantam para “favorecer” aqueles que com eles fazem uma aliança.
Ora, ora caro aliado do sr. Politico! Não pense que o que lhe forneceu o “par de sandálias” pensará duas vezes quando for lhe vender palha junto com trigo, sacos de feijão com remessas de pedra dentro. Não pense que o que te deu prata naquele dia, arcará com suas contas vencidas e os mantimentos que não chegam a sua dispensa. Como já dizia minha mãe: “Quem mistura com porco, farelo come.”
Continuo na empreitada de conclamar nosso povo para as mudanças urgentes em nossa sociedade. O incômodo gerado em nosso peito, não pode ser anestesiado pela crítica como fim em si mesmo.
Como quem coloca a mão no arado e não pode olhar para trás, caminhemos frente aos desafios profetizados por Amós e, no confronto com o hoje, ousemos nas atitudes que se alimentam de uma palavra viva e atual que antecipa um mundo que foi prometido: “Trarei de volta Israel, o meu povo exilado, eles reconstruirão as cidades em ruínas e nelas viverão. Plantarão vinhas e beberão do seu vinho; cultivarão pomares e comerão do seu fruto.” (Amós 9:14) Substitua o nome de Israel por Brasil e seus olhos brilharão com a esperança desse mundo possível.