Luiz Bandeira
A Praça de Esportes Radicais Brian Santos, em Teresópolis, completa 21 anos em 2025. Mais do que uma pista de skate, ela é um verdadeiro símbolo da cultura urbana e da resistência esportiva no município. Com uma história rica e plural, a praça já foi palco de grandes campeonatos nacionais, revelou talentos locais para o cenário internacional e se consolidou como ponto de encontro para expressões culturais como grafite, dança, poesia e batalhas de rima. Apesar de toda essa bagagem, o espaço hoje vive uma realidade de abandono e negligência.
Nomeada em homenagem ao ciclista Brian Santos — atleta local que chegou a disputar o mundial na Alemanha e lutou ativamente pela construção e permanência do espaço — a praça é também o reflexo de uma luta coletiva. Desde sua inauguração, ela foi palco de eventos de grande porte, como o campeonato da Qix Internacional em 2007, o Tour da DC, seletivas para campeonatos brasileiros e a primeira oficina de jurados de skate do Brasil. Em 2006, a pista foi destaque na capa da revista ‘Guia de Pistas’, considerada a melhor do país e uma das maiores da América Latina.
Esses eventos colocaram Teresópolis no mapa nacional do skate, movimentaram a economia local, lotaram hotéis, aqueceram bares e restaurantes, e levaram cultura para toda a cidade. A praça não era apenas uma pista, mas um catalisador de transformação social e econômica. “A pista fomentava a cidade inteira. Quando tínhamos seletivas nacionais, vieram skatistas de todo o país, e isso impactava diretamente o turismo, a cultura e a autoestima da juventude local”, lembra Yago Chiapetta, produtor cultural e esportivo, além de skatista há quase duas décadas.

Corrosão ao longo dos anos
No entanto, o tempo passou e, com ele, vieram os sinais de desgaste — que não foram acompanhados de um cuidado à altura de sua importância. Rachaduras no solo, trincas nos obstáculos, corrimãos danificados e peças metálicas soltas tornaram o espaço perigoso para os frequentadores. “Não é só uma questão de desgaste natural, é descaso mesmo. A manutenção sempre foi paliativa, nunca houve um projeto sério de conservação. Se a gente tivesse tido atenção desde os primeiros sinais, o problema não teria se agravado tanto”, denuncia Yago.
A situação atual compromete o uso da praça para treinos de alto rendimento. “O skate evoluiu muito nos últimos anos. Hoje é um esporte olímpico, com duas participações históricas do Brasil nas Olimpíadas, medalhas, visibilidade internacional. Mas aqui, em vez de acompanhar essa evolução, a estrutura está em decadência”, afirma.
Grande importância
Mesmo com todas as dificuldades, Teresópolis conseguiu colocar skatistas locais em quatro edições seguidas do campeonato brasileiro, com atletas ficando à frente até de nomes que hoje integram a seleção brasileira. “É um feito imenso para uma cidade do interior. Se houvesse mais incentivo e estrutura, poderíamos estar formando ainda mais atletas de alto nível, representando nossa cidade no Brasil e no mundo”, acredita o skatista.

Cultura urbana
Além dos aspectos esportivos, há um forte apelo cultural e urbano na praça. Oficinas de grafite, rodas de poesia, batalhas de rima e apresentações de dança já ocuparam o espaço, que tem um potencial pouco explorado pelo poder público. “A praça é uma ebulição de cultura urbana. Ela pode ser muito mais do que é hoje, mas precisa de políticas públicas sérias, que entendam seu valor”, reforça Yago.
Uma das sugestões feitas por ele é abrir a praça para o uso contínuo da população, transformando-a em um espaço público de livre acesso, como outras praças da cidade. “O muro na frente esconde a grandiosidade do espaço. Quem passa por fora não tem ideia do tamanho que ele tem. Se aquele muro fosse retirado, abriríamos a praça para a cidade — para a população, para os jovens, para os turistas. Poderia ser um espaço de convivência, com eventos noturnos, piqueniques, encontros culturais. Um verdadeiro ponto de integração entre esporte e sociedade.”



Eventos podem ajudar
Yago também sugere iniciativas como o “Sábado na Pista”, inspirado em projetos como o “Domingo no Parque”, que promovem saúde e lazer em praças da cidade. “É comprovado que cada real investido em esporte gera economia na saúde pública. A prática esportiva é uma ferramenta poderosa de inclusão, prevenção e transformação. Se conseguirmos estruturar esse espaço corretamente, todos saem ganhando: o praticante, a cidade, o turismo, a saúde.”
A Praça de Esportes Radicais Brian Santos é um ativo valioso para Teresópolis. Ela é, ao mesmo tempo, símbolo do passado, palco do presente e uma promessa para o futuro. Mas, sem diálogo com o poder público e sem uma política de manutenção séria, seu potencial continuará sendo desperdiçado.
A hora de agir é agora. A cidade tem talentos, tem história, tem vocação — só falta vontade política. E, como sempre foi na cultura urbana, é da base que parte a transformação. Nesta sexta-feira (01), cobramos um posicionamento do governo municipal sobre previsão de reforma do local, mas não obtivemos nenhuma resposta até o fechamento desta edição.