André Braga *
A atual situação causada pela Covid-19 expôs várias e enormes feridas dentro da sociedade brasileira. Uma das principais está relacionada com a desigualdade social, que esta pandemia não criou, mas a expôs e a acentuará. Em suas variadas faces, este desequilíbrio econômico e social fica bastante evidente em três cenários: no acesso ao sistema de saúde, na capacidade de subsistência de si e de familiares e no acesso à educação. Quero dedicar as próximas linhas me debruçando sobre o último dos itens descritos.
Antes da pandemia ninguém estava satisfeito com o desempenho da educação pública brasileira, as reclamações eram constantes em relação a estrutura física dos colégios, a falta de material didático, a desmotivação de alguns professores, a violência dentro das unidades escolares entre tantas outras. Nestes casos, apenas medidas paliativas eram realizadas para sanar tais dificuldades, a saber: ar condicionado em sala, televisões em sala, pinturas das unidades escolares, ou seja, medidas de caráter estético ou ambiental.
Contudo, quero chamar atenção para um problema absolutamente grave, mas que não é percebido como central por parte dos(as) educadores(as), que é a quase insignificante capacidade de nossas instituições serem, de fato, um instrumento de crescimento humano, social e econômico para os nossos(as) jovens.
Das 24 horas de um dia, o(a) estudante passa 8 horas dormindo, 5 horas no colégio (quando chega a tanto) e restam 11 horas livres para esta pessoa fazer o que bem entender. Ora, caros(as) leitores(as), não nos enganemos, da forma como está, as ruas são muito mais prazerosas do que o ambiente escolar. Nessa disputa, nós perderemos quase sempre. Com isso, as poucas horas de estudo diário, somado a pouca estrutura pedagógica da maioria dos colégios públicos e com o fato do professor não poder se dedicar exclusivamente aos seus alunos, pois com os atuais salários precisam se deslocar para várias escolas num mesmo dia, temos uma “máquina sem engrenagem”. Portanto, é nítido que a escola pública atual é ineficiente e empurra para a informalidade e insegurança material uma enormidade de jovens que poderia produzir muito para o país, aperfeiçoando suas habilidades das mais variadas naturezas.
É preciso, portanto, lutar pelos corações e mentes dos(as) jovens em idade escolar. Ressignificar o papel da escola, transformando-a em um ambiente além de produção de conhecimento, mas de vivência social e de inserção no mundo do trabalho. Quantos potenciais medalhistas olímpicos não ficam no meio do caminho porque não consegue praticar seus esportes preferidos? ; quantos grandes músicos não deixam de surgir? ; ou quantos grandes possíveis químicos, físicos, engenheiros e médicos, não se formam porque suas escolas não lhe deram o suporte necessário para iniciar seu caminho rumo ao seu sonho? A cura do câncer ou do HIV poderia estar sentada numa carteira escolar neste exato momento, mas diante do cenário atual, é bem mais provável que este aluno passe o resto dos seus dias num emprego que lhe dê pouca segurança material e satisfação pessoal.
Neste sentido, é preciso retomar o discurso sobre educação pública, principalmente nos meios políticos. Não é possível que governantes se elejam com discursos sobre o tema, que durem 30 segundos. Finalizo aqui propondo um tema para o debate: sem ensino integral nunca teremos educação pública de qualidade. O que vocês acham?