“Temos, então, dois agentes que se comunicam: de um lado, as empresas com o discurso de sustentabilidade desacreditado e, de outro, uma população que, em sua grande maioria, também não pratica aquilo que cobra diariamente.” Uma pesquisa recente organizada pela Ipsos, chamada “360”, trouxe um dado alarmante. Foi constatado que 62% dos brasileiros não creem no discurso verde das empresas. Ao contrário, veem-no apenas como uma ferramenta de marketing e boa aparência (greenwashing).
Além disso, a sustentabilidade dos produtos nem sempre é o principal fator de escolha antes da compra. O fator principal são os preços. Isso demonstra que grande parte da população não interage com o discurso sustentável na esfera da mudança efetiva de hábitos. Por outro lado, estudos também indicam que não há, por parte da população, hábitos eficazes de sustentabilidade. Podemos notar isso, por experiência, pelos baixos índices de reciclagem e separação dos materiais descartáveis — o tradicional “lixo”.
Não existe ainda, em nosso país, a cultura da sustentabilidade. A educação ambiental engatinha na formação das crianças. De fato, o fator preço é o que define o hábito de consumo do brasileiro. Como podemos verificar, existe um abismo entre as exigências para com as empresas e os hábitos pessoais. O fator meio ambiente acaba reduzido a uma mera narrativa, seja ela político-ideológica ou de propaganda. Vale lembrar, ainda, que o meio ambiente faz parte do discurso religioso, nas diversas tradições. É visto como parte integrante da criação divina e, portanto, digna de cuidados por todos.
O Brasil segue, assim, com mais um tema que exige convergência de esforços. Essa convergência deve ir desde a ponta de cima — fornecendo estrutura e fiscalização —, até a parte de baixo — com a consciência do dia a dia e na cobrança por melhores condições e educação ambiental.




