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O DIÁRIO DE TERESÓPOLIS
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Cadê os líderes

Todo ser humano, mesmo sem consciência plena do fato, em qualquer tempo histórico, vive entre dois pólos: o passado, que constrói a sua memória, e o futuro, que orienta suas escolhas no presente. Como a sociedade é formada por seres humanos, é possível considerá-la sujeita ao mesmo processo.
O que foi o passado da sociedade brasileira, se olhado pelo prisma da política? A nossa experiência com a democracia é nenhuma. Para confirmar, basta passar os olhos pela História.
O primeiro presidente da república, Deodoro da Fonseca, renunciou por não conseguir governar dividindo o poder com o povo. O segundo presidente, Floriano Peixoto, deu uma rasteira na Constituição que acabara de nascer e governou como ditador. Getúlio Vargas saiu-se bem como ditador e, submetido à democracia, preferiu dar um tiro no peito. Jânio Quadros renunciou por ter índole autoritária e tivemos os generais. Eles perseguiram cruelmente o único presidente democrata, Juscelino Kubitschek.
Imaginemos, só para fazer um contraponto, que a partir de 1988, o Brasil, com uma nova Constituição Federal, tenha passado a viver uma experiência democrática. Mas, quanto tempo durou incólume aquela Constituição? Há quem diga que ela ainda está valendo. Como assim? Ela foi elaborada pelo povo com 250 artigos. Já tem ais emendas do que artigos originais.
Então, está clara a ausência da democracia. Pode haver controvérsias, claro, mas dificilmente, alguém apresentará argumentos incontestáveis a favor da existência de um ambiente favorável à democracia e aos democratas de fato.


Por quê? Não será possível uma travessia? Sim, será, se houver quem lidere o processo.
Liderar não é apenas administrar o presente. É organizar o sentido da travessia entre o passado e o futuro, porque sempre há decisões a tomar, expectativas a alinhar, promessas a sustentar e um caminho a propor — mesmo quando esse caminho ainda não está completamente visível.
Nas instituições humanas — Estados, parlamentos, escolas, igrejas, empresas, partidos — a liderança cumpre uma função insubstituível: ajudar pessoas e organizações a saírem de onde estão para um lugar onde nunca estiveram antes.

Sem liderança, não há travessia segura. O Brasil político está à deriva.
Uma distinção é essencial: liderança não é sinônimo de cargo. Há pessoas em posições formais de poder que não lideram. E há lideranças reais que surgem antes, durante — ou apesar — das estruturas formais.
A liderança emerge quando alguém lê corretamente o momento histórico, compreende os limites do presente e propõe um horizonte que faça sentido coletivo. Isso exige coragem intelectual e política, porque liderar é, muitas vezes, contrariar o conforto do agora.
O líder não é aquele que repete o que todos já sabem. É aquele que organiza o que muitos sentem, mas ainda não conseguem formular.


Nenhuma liderança nasce no vácuo.
Toda sociedade carrega uma memória — de acertos, erros, traumas, conquistas e frustrações. Ignorar essa memória é um erro estratégico e moral. A memória explica medos, revela resistências e define limites invisíveis. Um líder que despreza a memória coletiva costuma repetir erros antigos com novas palavras.
Mas é preciso um cuidado fundamental: a memória não é nostalgia. Não é ficar preso ao passado. A função da liderança não é celebrar o que foi, mas dar sentido ao que foi, para que o futuro com a democracia seja possível. Liderar é reconhecer o passado sem se submeter a ele.


Toda liderança verdadeira é, em alguma medida, uma promessa.
Não uma promessa vazia, eleitoral ou retórica, mas uma promessa de direção. As pessoas não seguem os líderes porque eles sabem tudo. Seguem porque acreditam que o caminho que ele propõe aquele faz mais sentido do que a inércia. O futuro, por definição, é incerto — e é exatamente por isso que a liderança é necessária.
Liderar é dizer, com clareza: “não controlo todas as variáveis, mas sei que ficar parado é pior do que avançar, mesmo que o avançar seja um risco.
As pessoas não seguem cargos, nem siglas, nem discursos bem escritos. Seguem quem ofereça direção.
Ora, o eleitor já sabe que a situação é difícil. Já sente o peso da ineficiência, da insegurança e da frustração. O candidato não está ali para repetir diagnósticos óbvios. Está ali para dizer: eu entendo o problema — e sei o que fazer com ele.


Quem apenas descreve a crise não lidera. Quem propõe direção, lidera.
Todo candidato carrega um passado: experiências, escolhas, erros e acertos. Não adianta tentar apagá-lo. O eleitor percebe incoerência com rapidez. A pergunta correta não é “como esconder o passado?”, mas “como dar sentido a ele?”.
Trajetórias bem assumidas demonstram aprendizado, responsabilidade e capacidade de evoluir. O eleitor costuma perdoar erros. Não perdoa arrogância nem negação da realidade.
Quanto ao futuro, ele precisa ser compreensível, possível e desejável. Não se promete o impossível; promete-se o necessário. Dizer com clareza o que pode ser feito agora, o que exige tempo e o que depende de alianças e recursos gera confiança. Promessa vazia gera rejeição silenciosa.

Jackson Vasconcelos

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