Há dias que a dor equivale a um instrumento perfurante no corpo. Como dizem: “Parece que enfiaram uma faca na minha cabeça!” Não tenho dores constantes, mas quando elas se achegam me desorientam. Aprendi que ao falar das dores passamos a ter lugares em comum uns com os outros, uma relação de sentimentos e terrenos partilhados. Não são apenas nossas alegrias que devem ser comunicadas, na realidade é na dor que nos irmanamos.
Quem não sente dor está morto ou sofre de uma doença rara chamada de analgesia congênita, esta por sua vez, causa insensibilidade à dor. Acredita-se que menos de 50 pessoas no mundo inteiro sofra com essa doença, uma dessas pessoas é Marisa Toledo, brasileira, moradora do município paulista de Angatuba. Quando perguntada sobre a doença disse: “Eu caí, bati minha cabeça… Uma vez cortei minhas costas, mas nem chorei. Mas minha mãe nunca me levou no médico. Só depois que ela morreu que fui ao médico.” A dor é, portanto, uma dádiva. Não senti-la é colocar a vida em constante perigo. Na dor a vida continua, sem ela pereceríamos.
Receio daquelas pessoas que não sentem dores, pois são indiferentes, como mortos que não movem nenhuma palha ou como aqueles que sofrem da patologia acima referida, ambos não se mobilizam frente a um beliscão nem perante altas temperaturas. Gente indiferente não assimila a vida. Não cuida do coração do outro. Não aquece no frio, não acarinha na tormenta, não se coloca a disposição para curar feridas, todavia, deseja aumentar as feridas já provocadas.
Os tais indiferentes têm aparições inesperadas. Sabe aquela pessoa que você devotou cuidado, tempo empenhado, cujos caminhos se cruzaram em tempos de tormenta? Então, pode ser daí que venha sua maior decepção. Quando pegos no ato do descaso, os indiferentes preferem contabilizar créditos e débitos, ao invés de se comoverem diante da dor alheia. Pontuam que não sentem nada, porque suas demandas não foram totalmente atendidas. Cabe-lhes aqui o adjetivo de parasitário.
Para que fique mais claro, o também apóstolo Tiago em sua carta quando ensinava sobre o se sensibilizar com as necessidades de alguém escreve: “Você crê que Deus é um só? Faz muito bem! Até os demônios creem e tremem.” O escritor dessa carta nos faz acreditar que quem crê em Deus, mas não age em amor como tal, passa a ser irmanado ao modus operandis diabólico. Guarde seu coração e não se deixe influenciar. Não te endemoninharás.