Provavelmente você já tenha ouvido o termo: Lei de Talião, mas sabe o que de fato isso propõe? Para começo de conversa, Talião não é uma pessoa, nem um livro com uma série de regras ou mandamentos que regulariam o comportamento social. O termo “talião” vem do latim “talis” (tal) que significa “idêntico” ou “semelhante”. Portanto a pena para os crimes aos quais se aplica essa lei não é uma pena equivalente, mas idêntica.
Esse princípio legislativo se encontra no Código de Hamurabi, um escrito da Mesopotâmia de 1700 a.C., portanto, também anterior ao escrito Mosaico. Algumas leis que constam no Pentateuco bíblico estão escritos no código referido acima. Moisés, formado pela academia egípcia, teria acesso a vários escritos, inclusive textos de grande preponderância para o mundo antigo, como esse. As 281 leis, baseadas na pena idêntica e não equivalente ao crime, foram talhadas numa rocha de diorito de cor escura, e em seguida, copiadas e espalhadas pelo rei Hamurabi. Este Código tinha como objetivo principal unificar o reino através de um código de leis comuns.
A lei do Talião na Bíblia se encontra no texto de Deuteronômio capitulo 19, versículo 21: “O teu olho não perdoará; vida por vida, olho por olho, dente por dente, mão por mão, pé por pé.” Portanto, a base para a execução das penas estava clara para os habitantes de qualquer parte do Mundo Oriental Antigo.
Entretanto, Jesus no Sermão da Montanha faz uma releitura desse texto e, ao invés de amplificar a voz corrente até então, ele inutiliza e anula tal comportamento. A proposta muda tanto de tom que chega as provocar distorções aos ouvidos. Jesus anuncia que quando alguém bater na face direita devemos oferecer a outra. Creio que aqui muitos reivindiquem, com muita propriedade: “Mas, assim viramos um saco de pancada!” Será que era isso que Jesus estava a propor?
Acompanhem-me nessa caminhada aqui proposta. Qualquer circuito vigente e bem estabelecido, só o é assim, pois tem sido constantemente alimentado. Quando a manutenção do mesmo deixa de ser feita, o circuito passa a falência. Agora o que isso tem a ver com a proposta de Jesus? Bem, o que ele está querendo ampliar em nossas consciências, é que, quanto mais violência nesse mundo, mas a gerência de nossas vidas se torna dependente dessa atitude.
Nos tempos atuais, no meio cristão, tem se discutido sobre a pena de morte. Essa pena capital se justifica na pauta da extinção dos atos daqueles que premeditariam os crimes passiveis a essa punição. Entretanto, o que de fato assumimos nesse caminho é nossa incapacidade de propor preventivos. E, esses preventivos demandam um olhar que enxergue e um ouvido que ouça, ou seja, alguém que de fato se debruce diante das necessidades daqueles que nos rodeiam.
Como diria Mahatma Gandhi: “Olho por olho e o mundo acabará cego”. A política de não-violência estabelecida por Gandhi na Índia expressa o pensar e o agir de Cristo. Não foram balas na cabeça que apartaram os ingleses, mas sim as profundas dores na consciência. Quem atinge de dentro para fora tem muito mais eficácia e eficiência.
Por vezes, nossas casas estão abarrotadas de compensações e no estabelecimento da violência verbal, material, física ou emocional que gera assim um circuito que parece irrefreável, todavia, o anúncio de Jesus é que quem serve de barreira ao sistema estabelecido, toma consciência de que a vida só prevalece na vivencia interdependente. Quando homens e mulheres, não alimentam sistemas corrompidos e violentos, mas embarreiram essas forças, a partir de uma realidade de confronto que estabeleça paz e justiça na terra. Aqueles que não retêm a vida que lhes alcançaram, mas se tornaram a extensão desse favor alcançado.
