A vida tem seus ciclos e não sabemos lidar muito bem com o término deles. Cada qual com suas implicações, as dores que acarretam, os resquícios que insistem em se perpetuar em algum terreno fértil de nossa alma cansada, decepcionada, desacreditada de novos rumos. Por isso, não é incomum perceber que nos acostumamos muito mais fácil com aquilo que é negativo do que com o que é positivo.
O positivo requer deslocamento de nossa parte, um desenraizamento do que nos faz mal, entretanto, tal como uma mulher que sofreu com constantes abusos verbais e até mesmo físicos, e que após uma medida protetiva se distanciou do algoz que lhe fazia mal, mas que pouco tempo depois o recebe em casa com suas juras de amor e, infelizmente, endossa os casos de feminicídio. Essa mulher não é o que insensivelmente chamam de “sem-vergonha”, ela apenas está condicionada as palavras destrutivas do algoz que invadiram sua alma e lhe convencera que não há vida após esse relacionamento. Há! Acredite que há vida sim!
Condicionamos nossas vidas aos mundos criados por aqueles que se comprometeram com seus próprios interesses de status e de sucesso pessoal. Muitas vezes nos tornamos peças do projeto megalomaníaco de alguém que simplesmente nos usa para sua conquista. Acontece assim com alguém que está atrás do “velho da lancha”, mas também e, cabalmente, com o “velho” que expõe ao seu lado a “novinha” que lhe rende o currículo de altos índices de testosterona naquele encontro dos amigos da faculdade, turma de 1950. Obs.: Nada contra os amores sinceros.
Enquanto o positivo é um projeto reacionário, o negativo é estacionário. Na inércia há um pseudo descanso. Não fazer nada nem sempre é dar tempo a alma para se recompor, na maioria das vezes, a paralisia é sinal de acomodação, da falta de desejo de mudar, já que a mudança parte primeiro de si e não apenas do ambiente, como tentamos justificar: Meu inferno são os outros! Os terrenos são compartilhados. Céu ou inferno dependerá das adições e contribuições que levamos ao unirmos nossos territórios.
Não insista no que te desumaniza. Nosso processo de mudança pessoal contribuirá na transvaloração do ambiente, na construção de um novo céu e uma nova terra, porém, se o entorno ainda persiste no ódio, mágoa, rancor, negatividade, repense diante do espelho se há um selvagem em formação ou um humano em transição para uma franca produção de vida.
Um diagnóstico pode te ajudar na realização de uma escolha que pacifique sua alma. Só podemos nos tornar humanos em contato com um ambiente humanizador, pessoas e ambientes que promovam essa construção do humano. Ao empreitar sua mudança de dentro para fora, perceba, honestamente, se o que lhe rodeia te tornou uma besta-fera, se assim ocorreu, encerre o ciclo e siga em frente.
Dores? Você as terá, porém lembre-se do seu primeiro choro na existência, ao nascer longe da zona confortável da barriga de sua mãe, a vida lhe sorriu e lhe deu boas vindas, não escondendo todas as contradições e incertezas que lhe aguarda. Crescer dói! O término de um ciclo machuca por conta das raízes nocivas que invadiram nossa alma, e por serem “raízes” habitam nossas profundezas, porém, há no fim um início, não se condicione aos espaços de selvageria.