Pelo menos nas últimas décadas, a pressão por um certo padrão de beleza inalcançável concentrou-se no público feminino. No início deste século, vivemos o auge da “ditadura da magreza”, onde o corpo feminino era subjugado a moldes rigorosos que ignoravam a subjetividade e a saúde. Hoje, esse fenômeno atravessa o gênero e encontra no homem um novo alvo: a dismorfia corporal.
Nas redes sociais, o valor do homem tem sido deslocado de seu caráter ou da funcionalidade de seu corpo para a estética pura. Criou-se uma métrica perigosa onde a “virilidade” é medida pelo volume muscular e pela definição. O físico deixou de ser um veículo para a vida e tornou-se o objetivo final.
O capitalismo, atento a essa vulnerabilidade, transformou a insegurança masculina em lucro. Através de uma rede de influenciadores “fitness”, vende-se não apenas suplementos e dietas restritivas, mas a promessa de aceitação social. O corpo torna-se uma mercadoria; a busca pelo “shape” perfeito alimenta uma indústria bilionária que lucra com a eterna insatisfação.
A gente se esquece, mas precisamos resgatar o que é cuidado e o que é escravização. A prática de atividade física é vital para a saúde e para um corpo funcional, ou seja, aquele que nos permite mover, trabalhar e viver com autonomia. No entanto, quando o treino se torna uma punição e o espelho um tribunal, a saúde mental é sacrificada no altar da estética. Precisamos de corpos que nos sirvam para viver, e não de vidas que sirvam apenas para manter um corpo de vitrine.




