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O DIÁRIO DE TERESÓPOLIS
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Os especialistas em tudo estão dominando o mundo?

Vivemos uma época marcada pela ilusão do saber, em que multidões se autoproclamam especialistas em qualquer assunto, de política a ciência, de religião a economia, sem jamais se dedicarem à busca sincera do conhecimento. A retomada da Feport é um exemplo claro disso, todo mundo entendia de orçamento público, de prioridades constitucionais e até de organização de eventos. Não faltaram soluções e posicionamentos inquestionáveis sobre o que se deve ou não fazer. Essa proliferação de opiniões vazias, que circulam em grupos de WhatsApp e redes sociais, ecoa de forma perturbadora a advertência de Sócrates: “só sei que nada sei”. A humildade socrática diante do desconhecido, que deveria ser ponto de partida para o aprendizado, foi substituída por uma arrogância ruidosa que confunde opinião com verdade.

Nietzsche, por sua vez, já alertava para a “vontade de verdade” como um impulso muitas vezes superficial, onde o ser humano prefere certezas confortáveis à dúvida produtiva. O que se vê hoje é exatamente isso: discursos simplistas, fórmulas rápidas e julgamentos imediatos que circulam como se fossem sabedoria, mas que não passam de sombras, como na alegoria da caverna de Platão. As pessoas se contentam em compartilhar reflexos de ideias, em vez de se levantar para enxergar a luz da reflexão crítica.

Hannah Arendt lembrava que a banalização do mal pode nascer da incapacidade de pensar profundamente. Nas redes, essa incapacidade se revela na indiferença para com a responsabilidade da palavra: disseminam-se frases, “verdades prontas” e opiniões que não apenas carecem de fundamento, mas que, muitas vezes, alimentam desinformação e intolerância. É um excesso de fala e um vazio de pensamento.

Se em Aristóteles a virtude está no meio-termo, no equilíbrio entre ignorância e conhecimento, hoje vemos um desequilíbrio grotesco: o excesso de confiança e a escassez de estudo. O verdadeiro especialista não é aquele que grita mais alto, mas aquele que mergulha profundamente na realidade, estuda, pesquisa e, sobretudo, reconhece os limites do próprio saber.

Assim, o fenômeno atual de “especialistas de WhatsApp” e “mestres de opinião instantânea” revela uma crise ética e intelectual: falamos demais e pensamos de menos; opinamos com convicção, mas sem fundamento; propagamos frases de efeito, mas não produzimos nada de bom ou duradouro. A filosofia nos convida a inverter essa lógica — trocar a pressa pela reflexão, a vaidade pela humildade e a opinião ruidosa pela busca silenciosa do conhecimento real. Até a próxima!

Anderson Duiarte

ANDERSON DUARTE

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Edição 27/09/2025
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