Luiz Bandeira

Um resgate realizado no último fim de semana no Escalavrado, uma das montanhas mais emblemáticas da Serra dos Órgãos, voltou a chamar a atenção do país para os riscos das atividades de montanhismo mal planejadas. A operação, conduzida pelo Corpo de Bombeiros do 16º Grupamento de Bombeiro Militar (16º GBM), contou com o apoio de dois escaladores voluntários experientes e resgatou com sucesso dez pessoas que ficaram presas na trilha, já no período noturno. Participaram da ação os militares Tenente Felipe Amaral, Subtenente Alexandre – com mais de 20 anos de experiência em salvamento em montanha, além dos soldados Estorque e Lourenço. Também atuaram no resgate os guias de montanha Seblem Mantovani e Fabrício Vieira, voluntários e profundos conhecedores do Parnaso. Embora a situação pareça pontual, o Tenente Felipe Amaral alerta que episódios como esse têm se tornado cada vez mais frequentes na região. “Não é uma situação isolada. Teresópolis é conhecida como a capital nacional do montanhismo. Temos mais de cem picos na região, incluindo o Dedo de Deus e o próprio Escalavrado, que atraem turistas do mundo inteiro. Mas muitos vêm sem preparo, sem equipamentos adequados ou sem guias, colocando a própria segurança em risco”, afirmou, em entrevista à Diário TV.
Segundo o Tenente, “mais de 80 operações de resgate foram realizadas nos últimos cinco anos nas áreas de montanha da cidade.” E a tendência, segundo ele, é de crescimento: “A atividade de montanha está ganhando cada vez mais espaço no Brasil. No próprio sábado, dia do resgate, enquanto nos deslocávamos para o Escalavrado, vimos várias pessoas subindo a trilha já à noite. A região vem sendo muito divulgada na internet, o que aumenta o fluxo de visitantes, mas também o número de ocorrências”, explicou.

Mais procura e problemas
A área com maior número de acionamentos, segundo Felipe Amaral, é o Parque Nacional da Serra dos Órgãos. Mas um fator agrava os resgates: muitas trilhas se iniciam fora da área do parque, o que impede o controle e a identificação prévia dos visitantes. “As pessoas iniciam trilhas sem dar ciência ao parque, sem deixar contatos ou indicar se estão com guia. Isso dificulta muito o nosso trabalho”, pontuou.
A trilha do Escalavrado, em especial, exige técnicas de escalaminhada – uma forma intermediária entre caminhada e escalada – e equipamentos específicos. Segundo o Tenente, “muitos turistas subestimam a dificuldade do percurso”, o que os deixa vulneráveis em caso de mudanças climáticas, exaustão física ou acidentes. “Alguns trechos exigem uso de capacete, corda, lanterna de cabeça, cadeirinha de escalada. É comum iniciarmos a trilha de dia e só conseguirmos sair à noite, como aconteceu com esse grupo. A queda de temperatura também foi um agravante. Por isso, sempre orientamos: é essencial levar casaco, alimentação e estar bem hidratado”, reforçou.

Treinamento para salvar vidas
Apesar de não ser um grupamento especializado, o 16º GBM de Teresópolis é referência no estado em salvamentos de montanha. Muitos dos seus militares buscaram, por conta própria, especializações em técnicas de escalada e resgate em altura. “O Corpo de Bombeiros do Estado do Rio de Janeiro possui grupamentos específicos para essa atividade, como o GSFMA, mas aqui em Teresópolis, pelo volume de ocorrências, vários bombeiros buscaram se especializar. Hoje, temos um efetivo preparado e experiente”, afirmou o Tenente.
Para manter o padrão técnico, o quartel conta com uma torre de exercícios usada com frequência. O treinamento constante, segundo ele, é essencial: “É o que garante que possamos prestar o melhor socorro possível à população. Além disso, conhecer a região faz toda a diferença”, concluiu.
O caso mais recente serve de alerta: o montanhismo é uma atividade desafiadora e encantadora, mas deve ser feita com responsabilidade, preparo e, sempre que possível, com o apoio de guias certificados.

Passeio na montanha sem preparo adequado acabou em resgate noturno, mobilizando bombeiros e guias de montanha credenciados para o Escalavrado no último fim de semana. Foto: 16º GBM

DICAS PARA EVITAR PROBLEMAS NAS TRILHAS

• Conheça o local: Antes de iniciar qualquer trilha, informe-se sobre o percurso, nível de dificuldade e condições climáticas. Respeite os limites do seu preparo físico.
• Cuidados essenciais: Leve itens básicos, como água, lanche, kit de primeiros socorros, lanterna, agasalho e celular com bateria carregada.
• Não acenda fogueiras: Evite acender fogueiras em áreas naturais. Use fogareiros portáteis e siga as normas de segurança.
• Descarte responsável: Leve seu lixo de volta. Não deixe resíduos na trilha ou na montanha.
• Comunique-se: Informe a alguém sobre sua trilha planejada e o horário estimado de retorno.
• Em caso de emergência, ligue para o Corpo de Bombeiros (193).