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O DIÁRIO DE TERESÓPOLIS
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“A nova política não aprovou”, diz Petto em entrevista a O DIÁRIO

Ex-prefeito avalia como muito ruim o governo municipal e fala do seu tempo na Prefeitura

Wanderley Peres

Prefeito de Teresópolis por dois mandatos, por mais de cinco anos, entre 2003 e 2008, último prefeito eleito que não foi retirado do cargo à força, o médico Roberto Petto deu entrevista a O DIÁRIO nesta terça-feira, 9, quando fez uma análise dos problemas da cidade e dos problemas causados à população pela má administração municipal, quando lembrou, ainda, das realizações de seu governo, tempo em que Teresópolis era referência no Esporte, com o futsal; no turismo, com a decoração de Natal, e as obras, principalmente na Educação, mostraram a pujança do município, que viu quatro grandes escolas serem construídas. A entrevista com Roberto Petto abre série onde outros nomes relevantes da política local serão entrevistados, entre eles o ex-prefeito Tricano, que já aceitou falar ao jornal sobre o seu governo e a situação atual da cidade.

Vice-prefeito eleito em 2000, depois de ter sido candidato a prefeito bem votado na eleição de 1996, Roberto Petto assumiu a Prefeitura em 23 de dezembro de 2003, depois de ficar quase um ano secretário municipal de Saúde, concorrendo à reeleição em 1º de outubro de 2004, quando venceu o pleito com grande margem de votos. Depois de ocupar a Prefeitura por cinco ano e uma semana, menos tempo que o atual prefeito já tem de mandato [cinco anos e 6 meses], o político voltou ao seu trabalho, de médico legista concursado da Polícia Civil, disputando duas eleições, como candidato a deputado em 2010 e candidato a prefeito em 2018.

Entrevista para Diário TV também está disponível no Youtube

Petto lembra o reconhecimento que sempre teve com o servidor, que teve em seu governo plano de saúde, 14º salário integral, e abono como complemento de salário para os que ganhavam menos, benefício que foi vilipendiado e passou a ser conhecido como vale coxinha. O ex-prefeito relembra a compra da Casa de Saúde NS de Fátima, pela Prefeitura; as obras de grande porte, o apoio ao turismo, e a saudável relação do governo com a legalidade. Provocado pelo repórter Marcello Medeiros, fala, também, da venda da água, do projeto de saneamento que vai colocar uma nova conta nos lares teresopolitanos, das dívidas da Prefeitura com os hospitais, dos precatórios impagáveis que pagou a metade dos que herdou em seu governo, e ainda, da “nova política”, que segundo ele precisa ser extirpada da Prefeitura porque foi um modelo de enganação, que não deu certo. “Se a nova política é isso, precisamos mudar de rumo, porque não foi aprovado pela população, que cada dia está sofrendo mais com a tal nova gestão”.

PRECATÓRIOS

“Durante o meu governo, não deixei de pagar ninguém, nem se constituiu dívida que virasse precatório. Os precatórios que existiam, aliás, eram dois apenas, e grandes, de um terreno transformado em Apa no Soberbo, que paguei as últimas parcelas da enorme dívida e a impagável dívida da Praça Olímpica, que fizemos um acordo no TJRJ, conseguindo 50% de desconto, e parcelamos em 5 anos o restante. Paguei ainda algumas parcelas, mas nos governos seguintes o acordo foi descumprido a Prefeitura perdeu o desconto. Sem os pagamentos, a dívida aumentou exponencialmente, e outras dívidas, por outros motivos, foram sendo geradas, inviabilizando a administração municipal. Esse ano, tomamos conhecimento que a dívida da Prefeitura é de R$ 1 bilhão, esse é o saldo da incompetência, e da falta de compromisso com a boa gestão”.

PLANO DE SAÚDE

“É um escárnio oferecer o décimo quarto salário no valor de 1% ao servidor” destacou Roberto Petto

“A situação ficou tão ruim para o servidor, que hoje se vende a ideia de que o pagamento dos salários em dia seja um favor, ou conquista do atual governo. Faltou tanto respeito com o funcionário público, ao longo dos últimos anos, que o prefeito vira ídolo porque paga o servidor em dia, como se isso fosse alguma benesse, quando a gente sabe que o funcionário, ao longo dos anos, vem perdendo uma série de vantagens que conquistou, muitas delas no meu governo, como a concessão do plano de saúde, que tirou mais de 10 mil pessoas da rede pública de saúde, desafogando o sistema, e a população passou a ser muito melhor atendida. O vale alimentação também criamos na nossa época, e também foi uma questão técnica, para prestigiar o funcionário. Os primeiros sete níveis da prefeitura ganhavam nominalmente menos que o salário mínimo. Na época não poderia dar aumento para esse grupo, porque se atingia prefeitura como um todo, antes de se criar o plano de carreira. Então foi criado o vale alimentação, uma forma de atender como um todo. O plano de saúde foi o mesmo caminho. E a prefeitura conseguiu uma tabela tão baixa que permitiu que o funcionário contratasse para sua família e pagasse com seu salário o plano dos dependentes. Foi uma grande perda para o servidor o fim do plano de saúde. Um funcionário bem tratado pela prefeitura representa um bom atendimento para a população”.

Ex-prefeito Roberto Petto durante entrevista na Diário TV com Marcello Medeiros

1% DE 14º SALÁRIO

“É um escárnio oferecer o décimo quarto salário no valor de 1% dele, e a justiça já decidiu que deve ser pago por inteiro, porque é um direito do servidor público. E deve ser pago integral porque o próprio nome já diz que é um salário, então tem que ser no valor do salário, e não percentual. Se o nome fosse abono, não seria problema. No passado, pagávamos salário inteiro e de lá para foi se delapidando a prefeitura e chegou a essa vergonha que é hoje”.

SERVIDORES PÚBLICOS

“Não entendo o que acontece com a Justiça hoje. Na nossa época, o Tribunal de Contas questionava qualquer contratação que fazíamos, tanto que o último concurso público foi na minha gestão. E de lá para cá ninguém fez nada, para substituir os servidores que vão aposentando, ou deixando a Prefeitura. Na nossa época eram quatro mil funcionários, hoje deve ter pouco mais de dois mil ativos, sendo o restante todos nomeados. A cidade cresceu e tem uma demanda maior de servidores públicos, aí se resolve o problema com essas nomeações políticas”.

EXCESSO DE POTs

“Estão usando o POT como quebra galho, causando prejuízo para a Tereprev, para o servidor e para o próprio contratado, que não tem férias, décimo terceiro, ou garantia nenhuma. Assim, o programa não cumpre a função social, de ajudar quem passa necessidade financeira. A Prefeitura beneficia hoje pessoas que não deveriam estar no projeto, inclusive. Tanto é verdade que o prefeito usou como máquina de negociação política com a Câmara, e a gente percebeu isso quando ele brigou com alguns vereadores, e demitiram vários POTs. Então, a nomeação se usa para fazer política, o que é um absurdo”.

NÃO FUI CASSADO

“Fui o último prefeito a cumprir o mandato integral. De lá para cá foram afastados, cassados… Talvez a Justiça esteja preocupada que esse também saia cassado, daí não se move sobre essas barbaridades que o governo municipal tem aprontado. Será que ninguém está enxergando isso? Estão rasgando as leis e jogando fora, e ninguém faz nada.”

QUATRO ESCOLAS

“A última escola construída em Teresópolis tem mais de dez anos, foi feita pelo Arlei, em Bonsucesso. No meu mandato, eu fiz quatro grandes escolas, sete ou oito creches, e vários postos de saúde. De lá para não se fez mais nada. Hoje se tem apenas projetos, todos muito bem desenhados e bonitos, mas não termina, e a maioria nem começa a ser executado, como se a promessa deles já fosse a obra feita”.

REFERÊNCIAS

Quando se fala de carnaval, nosso governo foi referência de respeito ao evento e aos foliões, e às agremiações carnavalescas. Quando se fala de esportes, nosso governo é referência, porque a participação de Teresópolis era forte, seja no futsal, no jogo de campo, e nas escolinhas, inserindo os jovens, tirando-os das ruas e do perigo delas. Quando se fala do nosso tempo na Prefeitura, se lembra do Natal da Edna Petto, que não ocupava cargo, mas deu destaque à cidade com a decoração de Natal que fazia com tanto carinho, e tinha ainda a Primeira Dama importante participação da questão social, indo ela mesma, direto nas comunidades, conversando de igual para igual com as donas de casa. Essa relação de respeito, e de empatia, é que mais precisamos hoje, porque ninguém é melhor do que ninguém, e a cidade é feita de muito mais gente simples e que vive com as suas dificuldades que de pessoas bem-sucedidas financeiramente, que é quem mais interessa a esse governo.

CASA DE SAÚDE

“O SUS paga muito mal. É natural que os hospitais São José, Beneficência e HCT não queiram atender o SUS. Com essa visão, desapropriei a Casa de Saúde Nossa Senhora de Fátima. Na época foi pago, depositado em juízo. E, como já estávamos dentro da Casa de Saúde, em aluguel, conseguimos dinheiro para desapropriar quando vendemos a conta dos servidores para o Santander. Quando desapropriamos, foi debitado todo o valor pago com o aluguel, toda a dívida com a Prefeitura, depositada a diferença em juízo porque havia guerra de sócios e ninguém sabia quem era o dono. Como estávamos lá dentro, não se preocupou em fazer a imissão de posse e acabou que passou para o governo seguinte esse ato, que por questão política eles pegaram o dinheiro de volta e não fizeram a posse só para não dizer que foi o Roberto Petto quem comprou a Casa de Saúde.

DÍVIDA COM OS HOSPITAIS

“É até aceitável que se acumulem algumas dívidas no governo, como essas que existem com os hospitais. Mas é inaceitável que o prefeito não reconheça as dívidas, mesmo que sejam de governos passados. Então, o prefeito tem que sentar com o hospital, renegociar o que deve, e atrelar serviços e atendimentos que são realmente necessários ao teresopolitano.

VENDA DA ÁGUA

“Realmente, tinha que ser feita a concessão, porque havia uma determinação da Justiça nesse sentido, de que o contrato antigo havia expirado. O problema é a maneira como foi feita essa concessão. Foi totalmente irregular, feita por debaixo dos panos, com cartas marcadas, acintosamente. Todos viram, a imprensa denunciou, e foram muito bem expostas as irregularidades. Lamentavelmente, o erro teve amparo e apoio de quem deveria fiscaliza-lo. Quem fiscaliza? Primeiro Câmara e depois o Ministério Público. E teve ainda o apoio da justiça, que fez o que bem quis e deu no que deu”.

LIXÃO

Tínhamos em Teresópolis um aterro sanitário, obra de vulto que foi quase toda feita em meu governo, e inaugurada em 2009, no governo seguinte. Tudo isso se perdeu, e voltamos a ter lixão por incompetência administrativa. Hoje, o lixo que trazia dinheiro para a cidade e tinha um tratamento correto, é transportado para outros municípios, a um custo elevadíssimo. O que dizer de governos que não conseguem dar destinação correta ao lixo, que inviabilizam o serviço para conseguir recursos do governo do estado, que não se preocupam com os catadores que viviam da reciclagem? È triste a realidade de Teresópolis.

SANEAMENTO

“Do saneamento básico vamos ter mesmo é a conta, que será um custo próximo ao da conta de água que cada um já paga. Ou seja, vamos pagar duas contas para essa empresa todo mês, quando disserem que implantaram o esgoto, que nada mais vai ser além da utilização da rede existente, de galerias de chuvas, e recolher tudo na beira do rio, em três ou quatro intervenções, e fazer centrais tratamento esgoto, e jogar água tratada de novo no rio.

A NOVA E A VELHA POLÍTICA

“Veio o Novo e nunca havíamos visto tanta incompetência antes. Se essa é a nova política, vamos mudar o mais rápido possível, por isso é muito ruim e não funciona, a não ser a mentira. Tinha discurso do ‘dinheiro tem, falta é gestão’, e agora, cadê a gestão se o dinheiro tem em dobro, afinal esse governo assumiu a Prefeitura com um orçamento inferior a R$ 500 milhões e já chegou a R$ 1 bilhão.
Agora, essa politicagem nova do prefeito, dizendo que a velha política quer o derrubar. É tudo enganação. Quem da Câmara é da velha política?”

FUTURO POLÍTICO

“Dizem que se entra na política pela mão dos amigos e não sai por causa dos inimigos. Hoje, sou pré-candidato, como todo mundo é. Tenho muita vontade de voltar à Prefeitura para fazer as coisas que a cidade precisa, e a vida me preparou bem para a coisa pública. Mas acho que, antes das ambições pessoais, por estarmos passando por um momento tão delicado e com os problemas da cidade tão grandes, temos que buscar a união para o bom resultado eleitoral. A gente sabe que é difícil essa União, que na política é açúcar apenas, infelizmente. Mas temos que deixar a vaidade de lado e achar o melhor caminho para encontrar a solução que a cidade pede, porque Teresópolis não aguenta mais ser tratada como vem sendo”.

Edição 01/05/2024
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