Marcello Medeiros
De acordo com o Mapa da Segurança Pública, do Ministério da Justiça e Segurança Pública, o Brasil registrou em média 225 desaparecimentos por dia em 2023. Foram 82.287 ocorrências, um aumento de 2% em relação ao ano anterior, que fechou com 80.675 casos. Ainda segundo o documento, a Região Sudeste concentra a maior parte das notificações do país, com 40,9% dos registros. Para tentar diminuir esse número, promovendo o encontro de famílias ou a identificação de pessoas que tenham sido assassinadas, por exemplo, promovendo assim o esclarecimento de um sumiço, está sendo realizada uma campanha de mobilização de identificação de desaparecidos com a coleta de DNA de famílias que estejam vivendo esse drama. “Existem familiares procurando muitos desaparecidos em todo o país, então essa campanha é voltada para a coleta de DNA de parentes em primeiro grau para que, caso se encontre uma pessoa desconhecida, viva ou morta, se possa fazer confronto DNA, e devolver essa pessoa à família”, explicou ao Diário o Perito Criminal e Diretor do Posto Regional de Polícia Técnico Científica de Teresópolis, Luiz Augustus Gonçalves.
A coleta pode ser feita a partir de células da mucosa oral por meio de um suabe (cotonete), que é passado no interior da bochecha. Também pode ser realizada a partir da coleta de uma gota de sangue do dedo da mão. A coleta de DNA pode ser feita por familiares de pessoas desaparecidas que não fizeram essa coleta em nenhum outro momento e as informações vão para um banco de dados nacional, administrado por peritos oficiais. Nesse sistema são cadastrados continuamente c DNA de pessoas de identidade desconhecida, vivas e mortas, e DNA de familiares de pessoas desaparecidas. Quando há coleta de amostras para exame dos familiares da pessoa desaparecida elas são processadas nos laboratórios de genética forense e os DNAs obtidos são então inseridos nos bancos de pesquisa. Esses perfis são comparados continuamente com o material e pessoas de identidade desconhecida, vivas ou mortas, visando sua identificação.
“Sendo um trabalho a nível nacional, aumentam bastante as chances de identificação. São coletados não só de familiares, mas também quando uma pessoa é encontrada viva ou morta e não tem identidade confirmada, é feita a coleta de DNA e alimentado banco de dados, sendo constantemente feito esse confronto com DNA de familiares que procuram pessoas desaparecidas e encontradas vivas ou mortas”, pontua Luiz Augustus.
Quem pode doar
É melhor que a coleta seja de familiares de primeiro grau da pessoa desaparecida. Se possível, é recomendado que ao menos dois familiares façam a coleta. A ordem de preferência é: 1 – genitores da pessoa desaparecida (mãe e/ou pai biológicos); 2 – filhos(as) biológicos(as) da pessoa desaparecida e o outro genitor desses filhos(as); 3 – irmãos biológicos da pessoa desaparecida (filhos do mesmo pai e da mesma mãe). Dependendo da disponibilidade de familiares da pessoa desaparecida e o contexto do caso, poderão ser coletadas amostras a partir da composição possível das alternativas acima.
A campanha
“A campanha de coleta será realizada entre os dias 26 e 30 de agosto. Nós vamos fazer nos postos de coleta da Região Serrana, aqui Teresópolis e em Petrópolis. Se a pessoa for de municípios vizinhos, pode procurar qualquer um dos postos durante todo o dia. Importante destacar que se já cederam DNA em algum momento na investigação, não é necessário retornar para fazer coleta”, explica o Perito Criminal. Os endereços dos locais de atendimento são: – Posto Regional de Polícia Técnico Científica de Teresópolis – Avenida Alberto Torres, 531, Alto. – Posto Regional de Polícia Técnico Científica de Petrópolis – Rua Vigário Correas, 1345, Corrêas.
Conforto para as famílias
Números divulgados pelo Instituto de Segurança Pública (ISP) mostram que o estado do Rio registrou no passado 5.815 desaparecimentos, uma média de 16 por dia. O aumento foi de 11% na comparação de 2022 com 2023. Por isso, campanhas como a que será realizada no fim do mês são fundamentais para tentar diminuir a dor das famílias que não sabem sobre o paradeiro de pais, filhos, mães… “A perícia, nesse momento, realiza um trabalho solidário. Quando recebemos um corpo sem identificação, nós esgotamos todas as possibilidades para tentar encontrar familiares daquela pessoa, para dar um nome e devolver o ente querido para a família. A Polícia Civil, de modo geral, tem ferramentas de buscas de pessoas desaparecidas e a perícia é um braço que muitas vezes promove esse encontro, infelizmente em uma hora ruim, mas trabalhamos para devolver esse ente para a família”, enfatiza Luiz Augustus.