Marcello Medeiros
Grande parte dos teresopolitanos já esteve na Trilha Mozart Catão, que leva até o Mirante Alexandre Oliveira, de onde se tem uma vista linda para o município a partir da sede Teresópolis do Parque Nacional da Serra dos Órgãos. A Praça de Esportes Radicais Alexandre Oliveira, ao lado do terminal rodoviário, é outro ambiente “comum” ao morador local – mesmo que não tenha se aventurado a andar de skate ou patinar por lá. Mas, infelizmente, a maioria das pessoas que conhece um lugar ou outro não sabe de quem se trata o homenageado com o nome do espaço público e a trilha na unidade de conservação ambiental. Alexandre Oliveira, também conhecido como “Ice Wall” ou “Dentinho” foi um grande atleta teresopolitano. Criado na Barra do Imbuí, era apaixonado por esportes radicais e se destacou principalmente em duas modalidades que estão relacionadas e têm tudo a ver com o nosso município, montanhismo e escalada. Era visto como um dos principais nomes para representar o Brasil em grandes expedições mundo a fora quando morreu em 03 de fevereiro de 1998, em avalanche na Face Sul do monte Aconcágua, na Argentina. Escalava ao lado do brasiliense Othon Leonardos e o também teresopolitano Mozart Catão, este mais conhecido e que já havia colocado o nome do município e do Brasil no Guinness Book algumas vezes. Vinte anos após a sua morte, pouco restou das homenagens prestadas pelo município naquela ocasião ou nos anos seguintes. No Museu do Esporte, no Ginásio Poliesportivo Pedro Rage Jahara, o Pedrão, por exemplo, não há mais nada que remeta ao determinado atleta que fazia muito mais do que subir montanhas – inspirava outros jovens a conquistarem seus sonhos, além de representar muito bem nossa Teresópolis em qualquer atividade que realizasse.
Neuza Oliveira, mãe do montanhista, mantém uma página em sua lembrança na rede social Facebook, onde denunciou o descaso dos últimos governos com a memória daquele tão bem carregou o nome do município. “Estive na secretaria de Esportes quatro vezes e ninguém soube me informar onde está o banner em homenagem ao Alexandre. Da última vez, já com a atual gestão, sugeriram que eu custeasse um novo banner se quisesse recolocar lá”, relata Neuza. “Me sinto uma pedinte para eles poderem consertar o erro deles”, completa, lembrando que o outro ponto que remete ao atleta na região central está completamente abandonado, alvo de vandalismo da população e descaso dos administradores.
Além disso, apesar de levar o nome de um grande atleta do montanhismo e escalada, a Praça de Esportes Radicais Alexandre Oliveira, bem ao lado do principal ponto de entrada dos turistas que utilizam o transporte coletivo, não oferece nenhum tipo de atrativo que se relacione a tais esportes. Nem um banner sequer com a imagem dos feitos de Alexandre, por exemplo.
Posicionamento da PMT
Em nota divulgada pela Assessoria de Comunicação nesta quinta-feira, a secretaria municipal de Esportes e Lazer informou “que o banner que continha imagens do alpinista Alexandre Oliveira e que ficava na Praça de Esportes Radicais Alexandre Oliveira (próxima a rodoviária) sofreu deterioração com o tempo e foi retirado em governos anteriores. O mesmo aconteceu com banner que estava exposto no Museu do Esporte (no Ginásio Pedrão)”. Além disso, se justificou que “Como a Secretaria não possui material fotográfico do alpinista Alexandre Oliveira, em conversa entre a senhora Neuza Oliveira e a subsecretária de Esportes e Lazer, Érika Marra, solicitou que a mãe do alpinista encaminhasse fotos para a pasta para uma possível fabricação de um novo banner com o apoio de empresários da cidade”.
A Secretaria de Esportes e Lazer informa ainda que, conforme conversado com a senhora Neuza Oliveira, assim que as fotos estiverem em poder da pasta será colocada em pauta a elaboração de um novo material para o Museu do Esporte, com a colaboração de empresários locais. Também contatamos o secretário do governo anterior, Luiz Otávio, o Luizinho, que por telefone informou “que tais materiais em homenagem ao atleta já haviam desaparecido quando assumiu a pasta”.
Mais sobre o “Paredão de Gelo”
Aos 24 anos, Alexandre Oliveira também era especialista em equipamentos para montanhismo – tanto que muitos materiais duram até hoje e são vistos como verdadeiras relíquias por aqueles que compraram diretamente com o atleta e os mantém hoje com uma grande lembrança. “Ice Wall” praticava montanhismo e escalada desde 1988, era referência na cidade e se destacava a nível nacional, não só em rocha, como em alta montanha, devido à sua excelente capacidade de aclimatação. Foi campeão em diversas competições de mountain bike e realizou escaladas nas mais diferentes regiões do Brasil, Argentina e Estados Unidos.
Determinação e técnica eram suas marcas. Iniciou sua carreira nas montanhas mais acessíveis da Serra dos Órgãos aos 15 anos de idade. Logo depois começou a investir em ascensões cada vez mais difíceis em formações rochosas como o Dedo de Deus e Verruga do Frade. Em 1995, chegou ao cume do Aconcágua pela primeira vez, em expedição em solitário pela rota normal. Em 1996, repetiu o feito. No ano seguinte, já em parceria com Mozart, conquistou o monte Denali (McKinley), a montanha mais alta da América do Norte e que se eleva a 6.190 metros acima do nível do mar. A vitória serviria de treinamento para o grande feito que se proporia a realizar em 1998, vencer o Aconcágua pela sua rota mais difícil. Porém, ele, Catão e Othon foram surpreendidos por uma avalanche que acabaria com o sonho dos dedicados escaladores, deixaria uma saudade enorme para os familiares e uma grande lacuna no esporte.
O acidente
“Passava pouco das oito horas da noite do dia 03 de fevereiro de 1998. Além dos dois alpinistas, não havia mais ninguém em Plaza Francia, o acampamento – base para quem vai escalar a Parede Sul do Aconcágua. Mozart Catão, Alexandre Oliveira e Othon Leonardos estavam há quatro dias na parede, incomunicáveis desde o fim da tarde daquela terça-feira. Dálio reconheceu a voz de Othon no pedido de ajuda, e alcançou o rádio. – Otinho o que aconteceu? Uma avalanche pegou a gente, e nos levou montanha a baixo. – Dalinho pendurado na corda, com fêmur e tíbia quebrados. – E o que aconteceu com o Mozart?, perguntou Dálio. – Ele não estava ancorado. Caiu seiscentos metros e não consigo achar o corpo em lugar nenhum. Acho que morreu. – E o Alexandre? – Não posso vê-lo daqui, mas ouço sua voz e ele diz que está bem". O trecho acima é do livro “Montanha em Fúria", de Marcus Vinicius Gasques, publicado em 2002. Os outros dois montanhistas citados são Ronaldo Franzen Júnior, o Nativo, e Dálio Zippin Neto, que também faziam parte da expedição brasileira, mas que ficaram no acampamento base.
Alexandre "Ice Wall" Oliveira, grande referência do esporte teresopolitanos, na Face Oculta do Dedo de Deus