Marcello Medeiros
Dados do Instituto de Segurança Pública do Estado do Rio de Janeiro mostram que o crime de furto é um dos que maior número de registros no setor de plantão da 110ª Delegacia de Polícia. Entre janeiro e outubro deste ano, foram 1.141 comunicações. Também segundo o ISP, no mesmo período foram registrados 100 assaltos – quando há algum tipo de ato violento contra a vida da vítima para lhe tomar algum bem. Quando se analisa os números frios, fica difícil ampliar a discussão sobre os motivadores desse tipo de delito. Porém, mesmo empiricamente é possível compreender que um dos problemas de responsabilidade do governo municipal reclamado há anos pode estar contribuindo para facilitar a vida da bandidagem: A falta de iluminação pública em diversas ruas, mesmo com altíssimas taxas cobradas nas contas mensalmente. Um dos muitos exemplos para referenciar essa situação aconteceu no início da noite da última quinta-feira na Rua Nilza Chiapetta Fadigas, antiga Cotinguiba, na Várzea. Estacionado em local ermo por conta da ausência de lâmpadas em vários postes seguidos, um veículo teve um vidro traseiro quebrado para que um bandido furtasse uma bolsa onde estavam dinheiro, documentos e outros objetos.
Escondidos na sombra da irresponsabilidade do poder público municipal, que arrecada milhões mensalmente através da Enel e não mantém um serviço de forma satisfatória na maioria dos bairros, os ladrões causaram grande prejuízo financeiro para a vítima. Além do custo de um vidro novo, que pode chegar a R$ 300, ela vai ter que desembolsar aproximadamente R$ 200 para obter segunda via da Carteira Nacional de Habilitação e Identidade – isso sem contar os objetos pessoais levados na ação criminosa. Os suspeitos são dois jovens que circulavam usando uma mochila momentos antes, indo e vindo na mesma via várias vezes, provavelmente procurando um veículo que tivesse algo de valor à mostra. Também segundo apurado no local, este não foi o primeiro ataque do tipo na Nilza Chiapetta. “Foi muito rápido, menos de 10 minutos. Deixei o carro e quando voltei o susto de encontrar o vidro quebrado”, relata a vítima, uma professora que comunicou o caso à Polícia Civil.
Pelas sombras
Nos últimos meses O DIÁRIO também teve conhecimento de outros casos bastante semelhantes, registrados em vias onde falta iluminação pública e sobram desculpas da prefeitura. Na Rua Augusto do Amaral Peixoto, nas proximidades da Vila St. Gallen e não muito longe da própria delegacia, no bairro do Alto, o dono de um veículo se ausentou entre 21h45 e 23h20, tempo suficiente para que o bandido jogasse uma pedra no vidro lateral direito e assim pudesse acessar o interior do Ford. “Como havia esquecido de tirar a minha carteira do console, o objeto chamou a atenção do ladrão, que aproveitou o meu descuido e cometeu o furto. Peço a atenção de todos ao estacionarem em Araras, Alto e redondezas. Segundo informações da polícia, o meu caso foi o sexto somente neste mês. Se alguém achar a minha carteira, por favor, entre em contato comigo visto que a mesma continha minha CNH e carteira de registro do CREA e cartões de banco. Fiquem atentos e por favor compartilhem este post com seus amigos. Teresópolis já foi uma cidade tranquila!”, relatou a vítima em sua página na rede social Facebook. Na própria publicação outras pessoas relataram casos parecidos e também naquela região. “Aconteceu o mesmo comigo. Meu carro estava na avenida principal no Alto, em frente ao restaurante Figaro. Na delegacia me disseram que eu era a quarta da noite. Desde aquele dia venho prestando atenção. Sempre no Alto ou em Araras. Já passou da hora da polícia pegar”, comentou a professora Vanessa.
Vítimas devem comunicar
O número de casos pode ser ainda maior do que o registrado e os relatos encontrados em redes sociais, visto que muitas pessoas preferem não fazer a comunicação no setor de plantão da 110ª DP. Porém, é de extrema importância que os arrombamentos e furtos sejam reclamados. Dessa forma, as polícias Civil e Militar podem montar esquemas de investigação para tentar chegar aos autores ou mudar o sistema de patrulhamento para buscar diminuir a incidência desse tipo de crime. Além disso, caso algum produto de furto seja recuperado, com o autor ou terceiro, aumenta a chance da vítima reaver seus bens com a comparação dos dados.
Bandidos e seus comparsas
Há bastante tempo o número de furtos é grande em Teresópolis. Mas para onde vão parar produtos de todo o tipo retirados de residências e estabelecimentos comerciais, por exemplo? Os ladrões utilizam para mobiliar ou decorar suas residências? Não. Geralmente, tais criminosos revendem esses produtos com preço bem abaixo do mercado. E, mesmo sendo implícito o ato ilícito, muitas pessoas acham estar levando vantagem ao adquirir uma televisão que custa R$ 2 mil por R$ 100… Na verdade, quem comete tal ato é tão bandido quanto aquele que se deu ao trabalho de tomar o bem de outra pessoa. Aliás, a pena prevista no Código Penal Brasileiro para os receptadores é a mesma dos ladrões, de três anos de cadeia.
E ainda se baseando no que prevê a Lei, os que compram produtos de crime ainda podem terminar atrás das grades primeiro do que aqueles que praticaram o furto ou roubo. Caso o ladrão seja identificado fora do período de flagrante, prazo que depende do andamento da ocorrência, mas geralmente é curto, vai continuar em liberdade até julgamento. Já os que forem flagrados portando qualquer objeto de origem ilícita é levado imediatamente para o xadrez da 110ª Delegacia de Polícia, sendo posteriormente encaminhado para unidade prisional da Polinter, no Rio de Janeiro. Outro ponto importante a ser observado é que a própria pessoa que incentivou a criminalidade comprando um produto de roubo ou furto amanhã pode ser vítima do mesmo ladrão. É um ciclo criminoso onde todos acabam perdendo, não somente a vítima daqueles que insistem em “ganhar a vida” sem precisar trabalhar.