Wanderley Peres
Ameaçados de serem enquadrados pelo Conselho Administrativo de Defesa Econômica, que pediu providências à Polícia Federal para investigar as pesquisas eleitorais, não durou um dia o risco, saindo o ministro presidente do Tribunal Superior Eleitoral, Alexandre de Moraes em defesa do Ipespe, Ipec e Datafolha após os supostos erros de prognósticos durante o primeiro turno das eleições deste ano, tornando sem efeito as investigações abertas pelo CADE e pela PF, observando que houve “usurpação de competência” da Justiça Eleitoral.
A denúncia era um arranjo, porque o presidente do CADE está no cercado, irmão da chefe de gabinete do ministro Ciro Nogueira, que disse terem sido verificados indícios de que “os erros não sejam casuísticos e sim intencionais por meio de uma ação orquestradas dos institutos de pesquisa na forma de cartel para manipular em conjunto o mercado e, em última instância, as eleições”, disse, afirmando que, “quando há uma grande quantidade de pesquisas que falham simultaneamente e no mesmo sentido, é pouco provável que este tipo de erro seja fruto de mero acaso”.
Passada a ameaça, e corrigida algumas distorções na elaboração das pesquisas, na semana de véspera do pleito os institutos mostraram as suas pesquisas, quase todas elas dando a mesma direção, de que Lula ganharia, mais ou menos apertado, o que de fato aconteceu, acertando o resultado, por aproximação, quase todas elas, afinal a pesquisa é um retrato do momento, e o momento da pesquisa foram os dias que antecederam o pleito, diferente das pesquisas de boca de urna, que é a vontade explicita do eleitor no dia do pleito.
Mas, os institutos erraram mesmo, ou não?
O resultado da eleição foi 51 a 49. O Ipec disse que seria 54,0% a 46,0%; o instituto Atlas, 53,4 a 46,6; PoderData, 53,0 a 47,0; Ipespe, 53,0 a 47,0; Datafolha, 52,0 a 48,0; Quaest, 52,0 a 48,0; MDA/CNT, 51,1 a 48,9% e Paraná Pesquisas, a que chegou mais próximo, 50,4 a 49,6.
Segundo a Associação Brasileira de Empresas de Pesquisas, as pesquisas de intenção de voto são “diagnósticos, não projeções dos resultados apurados nas urnas”. Portanto, apontam “tendências”, não podendo antecipar como os eleitores se comportarão no dia da votação, “de forma que discrepâncias entre os resultados das pesquisas” e a apuração oficial das urnas “são possíveis”. Além do mais, “as pesquisas têm o papel de apresentar à sociedade um retrato do momento [em que são realizadas]”, continua acrescentando que o comportamento dos eleitores está sujeito a diversos fatores até o momento definitivo da votação, e que as empresas filiadas seguem à risca normas internacionais, previstas no Código de Conduta da entidade e no Guia de Boas Práticas para Divulgação de Pesquisas, sendo supervisionada pelo Conselho de Auto-regulamentação da própria associação.