Luiz Bandeira
O uso da bicicleta como ferramenta de trabalho para entregadores de aplicativo vem ganhando espaço nas ruas de Teresópolis. Jovens com capacetes, mochilas térmicas e muita disposição têm se tornado parte cada vez mais presente na paisagem urbana da cidade, enfrentando ladeiras, trânsito e até chuva para garantir o sustento. Um desses rostos é o de Davi Luiz Zimbrão de Melo, de 26 anos, conhecido nas ruas como “Super Sonic” ou “Flash”. “Faço entrega com a bicicleta na cidade toda aí há algum tempo, desde 2023. Quando tenho de encarar uma subida forte é jogar na marcha leve e pra cima, filho! Morro de Pinheiro, Vila Muqui… tá pagando, nós vamos subir no morro. Não nego pedido não”, conta Davi, com orgulho de quem encara qualquer rota para não deixar de trabalhar.
Davi, que hoje atua exclusivamente pelo iFood, já experimentou outras plataformas como a Uber Eats, mas acabou voltando para a empresa que concentra a maior parte da demanda. Ele estima que tira, em média, “mil reais por mês”, valor que contribui diretamente para as despesas da casa — e para manter em dia seu “Mustang”, como apelidou carinhosamente sua bicicleta de trabalho. “Ajuda bastante. Paga as contas, ajuda na casa e ainda dá pra trocar uma peça da bike. Isso aqui é minha ferramentinha de trabalho. Aonde eu vou, ela vai”, afirma.

Suor e preparo físico
Além das entregas, Davi também é ciclista fora do trabalho. Ele realiza treinos de longa distância que chegam a durar até quatro horas, com percursos que o levam para municípios distantes como Arraial do Cabo e Búzios. Essa rotina de pedal ajuda não só na resistência física para as entregas diárias, mas também revela sua paixão pelas duas rodas. “Faço um treinozinho de uma hora, três horas, quatro horas. Vou pra longe mesmo. É o que me dá preparo pra subir morro o dia inteiro”, diz sorrindo.
Desafios no trânsito
Com o aumento da circulação de entregadores ciclistas na cidade, o trânsito se tornou um capítulo à parte na rotina desses profissionais. Davi afirma que, embora enfrente situações complicadas, também percebe maior conscientização por parte dos motoristas. “No trânsito tem gente que me respeita. Nós vamos na ciclofaixa, e às vezes eu vou buzinando pra abrir caminho. Muita gente respeita o ciclista, principalmente na Reta. Eu paro no sinal, respeito certinho, e vamos embora”, relata.
O cenário em Teresópolis
Embora não existam dados oficiais sobre o número de entregadores que utilizam bicicletas em Teresópolis, a movimentação crescente é visível nas ruas e praças da cidade. Estima-se que, no estado do Rio de Janeiro, haja a maior concentração de entregadores ciclistas do país, segundo levantamentos extraoficiais de associações e coletivos ligados à mobilidade urbana. A topografia desafiadora de Teresópolis, marcada por subidas íngremes e ruas sinuosas, não impede que ciclistas como Davi encarem a rotina com leveza e persistência.

Padronização e seguridade no iFood
Desde janeiro de 2025, o iFood passou a padronizar as entregas feitas por bicicleta em até quatro quilômetros. A empresa também ampliou o seguro para ciclistas, cobrindo casos de ferimento grave ou falecimento. Segundo o iFood, apesar da média estabelecida, as distâncias podem variar conforme as particularidades de cada cidade — e Teresópolis, com sua geografia peculiar, certamente impõe esses desafios.
Ainda assim, Davi garante que trabalho não falta. E mesmo sob sol forte ou chuvas torrenciais, ele segue firme no pedal: “Mais agora no verão, eu vou fazer um dinheirinho bom. Nós pegamos muitos pedidos, de dia, de noite, pode tá alagado que eu tô fazendo entrega. É isso aí.”

Cidades preparadas
Em entrevista ao site da Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel), Beatriz Rodrigues, urbanista da iniciativa Bloomberg, afirmou que a implementação de malhas cicloviárias nas cidades estimula as economias locais por meio do uso de transportes sustentáveis. “Muitos estudos comprovam que preparar uma cidade para isso — o uso de transportes sustentáveis — incentiva o comércio local. Isso traz um ganho para a cidade como um todo, porque, além da questão ambiental, temos também a questão da mobilidade por outros meios”, avalia a urbanista.
Segundo ela, o uso da bicicleta e de outros meios de transporte ativo pode representar uma alternativa econômica para os negócios. “As empresas podem priorizar o transporte por bicicleta, pois é mais barato e não polui. Então, ter a cidade preparada para isso incentiva o uso da mobilidade ativa, em que o ser humano precisa se movimentar para se deslocar”, comenta.