Marcello Medeiros
Primeira do conjunto de montanhas visto a partir do Mirante do Soberbo, quase vizinha ao Dedo de Deus, o Escalavrado é uma das formações rochosas mais imponentes e desafiadoras da Serra dos Órgãos. Por isso – e pela divulgação muitas vezes errônea sobre a real dificuldade para se chegar ao seu cume – frequentemente têm sido registrados problemas com grupos que não conseguem retornar com segurança à rodovia BR-116, onde tem início a trilha. O último incidente ocorreu neste domingo (24), quando dez ‘trilheiros’ precisaram da ajuda do Corpo de Bombeiros para concluir a atividade. Foi o terceiro caso do tipo somente este ano.
Segundo informações da corporação, devido às circunstâncias encontradas pelo grupo – dificuldade de orientação por conta da neblina densa e o cair da noite, além da falta de material adequado – uma equipe do 16º GBM (Teresópolis) foi acionada para auxiliar na descida. O resgate teve início no final da noite do domingo e terminou somente nas primeiras horas da manhã de segunda (25). Apesar da situação, ninguém se feriu. Após a lenta descida, visto que a cerração deixou escorregadias as lajes do Escalavrado, sendo utilizado material de escalada pelo Corpo de Bombeiros, o grupo chegou à BR-116 sem a necessidade de atendimento médico em unidade hospitalar.

Escalavrado não é caminhada
Um dos motivos que têm levado muita gente a se complicar no Escalavrado é o fato de serem divulgadas, principalmente em redes sociais, informações falsas ou pelo menos errôneas sobre a trilha. Visualmente é fácil perceber que não se trata de uma ‘simples caminhada’, mas há quem venda essa ideia e acabe colocando muita gente em risco. Trata-se de uma ‘escalaminhada’, literalmente uma misturada de escalada com caminhada, com trechos bastante íngremes que requerem a utilização de material de segurança – principalmente para quem não tem experiência no assunto. Para um escalador, por exemplo, trata-se de uma subida e descidas até fáceis. Mas, para quem não está acostumado a essa prática, o Escalavrado pode significar risco de morte. Há vários trechos onde um escorregão pode representar um acidente fatal, como no ‘lombo do burro’, onde há uma passagem de menos de dois metros e grandes abismos em ambos os lados.
No caso de uma mudança climática, como ocorreu domingo, fica tudo ainda mais difícil nas inclinadas lajes, que nessas condições ficam ainda escorregadias. Por isso, antes de entrar na trilha do Escalavrado, ou qualquer outra, por mais simples que pareça, procure se capacitar para tal. Ou, se necessário, contrate um guia credenciado na unidade de conservação do seu interesse para evitar problemas.

Dificuldade de controle
Em março passado, quando outro grupo passou pela mesma situação, o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade, responsável pela administração do Parque Nacional da Serra dos Órgãos, enviou nota ao Diário onde confirmou que a visitação em algumas montanhas por pessoas despreparadas teve um crescimento significativo nos últimos anos devido às redes sociais, o que representa um desafio para a gestão. “Recentemente foram publicadas as novas normas para acesso às trilhas do PARNASO. É obrigatório o envio antecipado do termo de conhecimento de riscos e normas para acessar qualquer montanha do Parque. A contratação de guias ou condutores não é obrigatória, mas o Parque recomenda que, ao contratar um guia, as pessoas verifiquem se ele está habilitado e qualificado para a atividade pretendida. Também não é recomendável que um único guia conduza grupos com mais de cinco pessoas”, destacou o ICMBio.
DICAS PARA EVITAR PROBLEMAS NAS TRILHAS
- Conheça o local: Antes de iniciar qualquer trilha, informe-se sobre o percurso, nível de dificuldade e condições climáticas. Respeite os limites do seu preparo físico.
- Cuidados essenciais: Leve itens básicos, como água, lanche, kit de primeiros socorros, lanterna, agasalho e celular com bateria carregada.
- Não acenda fogueiras: Evite acender fogueiras em áreas naturais. Use fogareiros portáteis e siga as normas de segurança.
- Descarte responsável: Leve seu lixo de volta. Não deixe resíduos na trilha ou na montanha.
- Comunique-se: Informe a alguém sobre sua trilha planejada e o horário estimado de retorno.
- Em caso de emergência, ligue para o Corpo de Bombeiros (193).