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O DIÁRIO DE TERESÓPOLIS
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Câmara Municipal estuda o tombamento do Teresópolis Futebol Clube

Câmara Municipal recebe e encaminha às comissões laudo histórico sobre o clube

Wanderley Peres

Colaborando com o debate para o tombamento do Teresópolis Futebol Clube, o Pró-Memória Teresópolis encaminhou para apreciação dos vereadores breve apanhado da história do importante Patrimônio Histórico Municipal, lido na sessão da Câmara Municipal da terça-feira, da semana passada, e encaminhado às comissões que estudam o projeto para encaminhamento ao plenário. “Apontando para o interesse histórico do nome do clube, suas cores, o gramado, a arquibancada e a propriedade em si, o estudo observou o interesse histórico, social, esportivo e de lazer do clube”, agradeceu a contribuição o vereador autor do projeto de lei de tombamento, Paulinho Nogueira, que já havia feito pedido, ao prefeito, uma semana antes, para que a Vigilância Sanitária fiscalizasse o clube, afim de averiguar as condições de salubridade do lugar.

Sítio histórico do município, e inegável patrimônio cultural, o Teresópolis Futebol Clube existe a partir de diversas iniciativas cidadãs, todas de invejável arrojo político e de incomum desprendimento de interesses pessoais pelo bem comum. Templo do futebol, a valiosa área foi doada ao município, e este, em nosso nome, doou a propriedade para quem se dedicava à prática do futebol e enchia o teresopolitano de orgulho com um sem número de títulos. Porém, visando proteger os interesses do esporte e o resguardo do patrimônio concedido, a escritura de doação do terreno previu que ele não poderia ter outra utilização, mesmo em caso de extinção do clube, quando a municipalidade deverá, então, assumir a responsabilidade de manter viva a prática do futebol, objetivo que será melhor alcançado com a proteção pretendida.

O TÍTULO

O tombamento do título do Teresópolis Futebol Clube não se deve apenas por ser ele um clube centenário, figurando ao lado das grandes agremiações do futebol brasileiro, e por ter surgido próximo ao mesmo período, quase todos do início do século passado. Mas, especialmente, por ostentar o nome do nosso município, que se tornou a maior referência de futebol no país a partir da criação da concentração da Confederação Brasileira de Futebol na Granja Comary, daí o título teresopolitano de sede do futebol pentacampeão do mundo.

AS CORES DO TFC

Criado no bairro do Alto, com campo na rua Alfredo Rebello Filho, pomposamente denominado estádio Jorge Pereira da Silva, havia nos anos 1920 em Teresópolis um time de futebol chamado “União”, que usava camisa azul. Por causa de uma tragédia ocorrida na cidade, em 9 de março de 1930, quando o trem da Estrada de Ferro Therezopolis, conduzindo ao Rio de Janeiro o time do Fluminense, descarrilhou na serra morrendo no acidente oito passageiros, entre eles o jogador Py, esse União adotou as cores do tricolor carioca, atitude que levou os jogadores do bairro do Alto, dispersos em dois times – o outro era o Teresópolis – a repensar a rivalidade que havia entre eles, quando decidiram se juntar, dando um as cores da camisa e o outro o campo, desde 1915 na rua Ernesto Silveira, 10.

O GRAMADO

A grama do Teresópolis Futebol Clube, que se alastra e cresce no mesmo lugar há mais de 100 anos, brotando da terra batida pelos pés daqueles que fazem do gramado campo de batalha, é a mesma desde os áureos tempos de seu surgimento em agosto de 1915. E das raízes primitivas da gramínea no verde campo que deslumbra os olhos dos amantes do futebol, a ramagem macia que brotou no inverno de 1966 serviu para amortecer os pés de Garrinha e Pelé, e dos outros craques da Seleção Brasileira naquele mês de maio. Que outra cidade do mundo tem esse privilégio, que outro clube de futebol pode escrever em seus anais algo tão cândido e de relevância histórica tão grande?

A ARQUIBANCADA

O União fez a força do Teresópolis, dando ao Alto um time de futebol à altura do bairro, e da cidade. E a união dos desportistas de meados do século passado em Teresópolis viabilizou outro sítio histórico do Teresópolis Futebol Clube: a sua arquibancada. Erguida sobre a estrutura dos vestiários feitos pela empresa Enarc, contratada pela direção do TFC em 1961, assim que ocorreu a doação do terreno ao clube pela Prefeitura, a construção da arquibancada aconteceu por empenho de Heleno de Barros Nunes, ilustre morador da nossa cidade, no bairro do Fischer, personagem que dá nome à concentração da Seleção Brasileira na Granja Comary, propriedade que adquiriu quando foi presidente da CBF, à época chamada CBD.

Deputado eleito com boa votação em Teresópolis, Heleno era secretário de Energia Elétrica do Estado e viu a possibilidade de a Seleção Brasileira treinar em nossa cidade, daí promovendo uma reunião, no Bar Fluminense, na esquina ao lado da Prefeitura, onde foi decidido o providencial melhoramento no clube. “Presidente do Conselho Nacional dos Desportos, CND, outro apaixonado por Teresópolis, o brigadeiro Gerônimo Bastos conseguiu 10 milhões, em moeda da época. O prefeito Flávio Bortoluzzi deu a mão de obra, da Prefeitura; Valinhos, que era gerente da empresa que fazia a construção do trecho Teresópolis-Além Paraíba da BR-116, deu toda a pedra e a areia; o Heleno arranjou o cimento com a fábrica que conhecia o dono e, na mesma semana, foi iniciada a obra, ficando pronta para o jogo amistoso da Seleção Brasileira com o América, do Rio de Janeiro, jogando no gramado do Teresópolis os maiores ídolos do futebol da época, e de todos os tempos: Pelé e Garrincha”, lembra o radialista Ayrton Rebello, repórter do antigo de Teresópolis que ajudou a organizar a reunião.

Naquele tempo não havia fartura de dinheiro no futebol e tudo era feito com muito sacrifício. Os jogos treinos da Seleção Brasileira, que ocorreram também em Nova Friburgo e Niterói, tiveram a renda de portaria revertida para o Teresópolis, recursos que serviram, também, para pagar a estada dos jogadores no hotel Pinheiros, custeando ainda o hotel Várzea, onde ficaram hospedados por conta dos organizadores do evento da concentração os órgãos de imprensa. “Com tanta gente ajudando ainda sobrou dinheiro e os 6 milhões que não foi gasto serviu para a construção da cobertura da arquibancada, feita depois”, completa o radialista, que foi dono da rádio Teresópolis, período em que a emissora que fez 76 anos no último dia 1 de junho se chamava “Jovem Tê”.

A PROPRIEDADE

No período 1959-1962, em que foi prefeito Omar Magalhães, o bairro do Alto tinha quatro vereadores. Além de Diogo Ponciano, Luiz Moura, Alfredo Rebello e Wilson Martins, surgiu na Câmara um quinto vereador do Alto, o empresário e desportista José Pimentel, segundo suplente que alcançou o mandato com a providencial licença dos vereadores Roberto Péricles e Juel Teixeira, aliados do prefeito.

A ascensão de empresário Zeca Pimentel à Câmara se deu, especificamente, para o projeto de doação ao Teresópolis Futebol Clube do terreno no bairro do Alto, que havia sido recebido em doação do latifundiário urbano Joaquim Rollas, somando forças para a realização os demais vereadores do bairro. A União, mais uma vez se fazia presente no time que tem a palavra na origem de seu nome.

Edição 22/11/2024
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