Luiz Bandeira
O decreto da Prefeitura de Teresópolis que considera algumas propriedades da Cascata do Imbuí como adequadas para a construção de uma Estação de Tratamento de Esgoto, pela concessionária Águas da Imperatriz, está sendo amplamente contestado pelos proprietários e outros moradores da região. Segundo um dos afetados, Carlos Henrique Estevam Junior, proprietário de um terreno visto como principal acesso da futura ETE, a área escolhida não é imprescindível para o projeto e há áreas alternativas disponíveis, como um antigo areal na Tabatinga, a apenas 300 metros de distância, que está à venda e não afetaria os moradores.
“A área do meu terreno seria usada apenas para fins administrativos da concessionária, não para a estação em si. Isso reforça que o local não é indispensável”, afirma Estevam. Ele ressalta que não é contra a construção da estação, mas questiona a falta de critérios técnicos na escolha do local, que resultaria em impactos significativos para a comunidade.
Impacto social e ambiental preocupa
Carlos faz um apelo ao novo prefeito, Leonardo Vasconcellos, para que reveja o decreto e priorize alternativas que não prejudiquem os moradores. “Acredito que o novo prefeito pode reverter essa situação. Essa área está muito abandonada, e a comunidade precisa de atenção. Contamos com ele para parar esse processo e olhar pela nossa região”, declara.
Ainda segundo ele, o terreno em questão é utilizado por crianças da comunidade para brincar e esperar o transporte escolar. Além disso, há um projeto do à DIRRAM do INEA, vinculado ao “Novo PAC”, que prevê a construção de uma praça no local.
A substituição desse espaço por uma estação de tratamento tem gerado apreensão entre os moradores da Cascata do Imbuí, que já se sentem abandonados pelo poder público desde a tragédia de 2011, que devastou a região. “A gente não é contra, os moradores da Cascata não são contra, não somos contra a estação em momento algum, sabemos que isso faz parte, é necessário para o saneamento básico, só que não tem o porquê de ser ali”, argumenta Carlos Henrique.
Erros no processo
Carlos também denuncia irregularidades no processo. Ele relata ter recebido uma notificação da empresa Água da Imperatriz com erros de português e inconsistências documentais, exigindo resposta em 15 dias, sob pena de o caso seguir judicialmente à revelia. Contudo, o decreto estipula que a procuradoria deveria ser responsável por esse contato, o que não aconteceu.
“Vamos lutar até o fim”
O proprietário, que luta há seis anos pela regularização do terreno, afirma que a área representa um sonho de vida para ele e sua esposa. “Estamos construindo nossa casa para sair do aluguel. É difícil mensurar o valor de um sonho. Quanto vale sua casa? Quanto vale seu sonho?”, questiona.
Carlos já registrou boletins de ocorrência por invasões ao terreno e relata ter sido assediado por agentes imobiliários. Ele garante que, se necessário, levará o caso ao Superior Tribunal de Justiça (STJ) e ao Supremo Tribunal Federal (STF). “Lutaremos contra esse decreto porque acreditamos que há erros no processo e alternativas viáveis que não prejudicariam os moradores da Cascata do Imbuí. Não vamos aceitar essa injustiça”, conclui.
Prejuízo para o turismo
Além de atentar para a grande área residencial e turística, os moradores da Cascata do Imbuí questionam o necessário estudo técnico para a implantação de um empreendimento desse tipo e que tal obra já foi rejeitada pelo bairro vizinho, o Golfe. “Essa é uma pergunta que todos nos fazemos. Não nos foi apresentado nenhum estudo de impacto de vizinhança e ficamos preocupados. Como é que vai ser se vier a ser instalada essa ETE? Tem que se fazer esse estudo ambiental e qual impacto moradores vão ter, tanto visual como sonoro. Temos que questionar. Não podemos ficar simplesmente tem fazer nada. Até o momento não tem nenhuma justificativa. Inicialmente seria no Caleme, depois passaria para o Golfe e agora repassado para a Cascata. Queremos resposta, não nos foi apresentado nada”, pontua o morador Diego Avila.
Desvalorização do bairro
Outro ponto observado pelos moradores da Cascata do Imbuí é a desvalorização dos imóveis vizinhos à Estação de Tratamento de Esgoto. “Sabemos da necessidade de haver estação uma estação de tratamento, ninguém é contra. Só que ela não deve ser colocada em um bairro extremamente residencial. Quem é que vai querer comprar casa ou morando local pagando IPTU com todos os problemas gerados por uma construção dessas? O ideal é procurar um local mais adequado, inabitado, mas talvez aqui seja mais fácil, melhor para desapropriar, muito mais cômodo para a Águas da Imperatriz do que um local mais distante, com custo mais caro”, frisou o aposentado Délio Couto.