Luiz Bandeira
Quem viveu a infância em Teresópolis nos anos 60, 70 ou 80, provavelmente tem na memória uma lembrança do período de Verão de um dos locais mais bonitos e de fácil acesso do município, a Cascata dos Amores. Uma grande laje de pedra, que permitia escorregar no sentido da água do rio que nasce no Alto da Serra dos Órgãos, terminando dentro de um bonito poço. Hoje, infelizmente, muito pouco sobrou do que já foi um balneário público. O antigo atrativo turístico segue abandonado e tem sido motivo de reclamação não só de visitantes, mas logicamente de quem residente no bairro de mesmo nome.
A primeira imagem, dos anos 80. Nessa época, importância turística e a beleza do local eram valorizadas. Hoje, lixo espalhado, mato tomando conta da pracinha e o poço que já foi ideal para banho está assoreado. Foto: Acervo Pró-Memória e Luiz Bandeira
A Associação de Moradores da Cascata dos Amores (AMCA) manifestou recentemente preocupação e indignação com o estado de abandono do local. A reportagem do Diário de Teresópolis esteve no local e constatou que a cascata formada pelo Córrego das Taboinhas, o Recanto das Pedras, o caramanchão e a praça estão repletos de lixo e tomados pelo mato que cresce há muito tempo, dado o tamanho em que se encontra a vegetação. A condição de balneabilidade da água, muito utilizada por alguns banhistas, que talvez não tenham noção do risco que correm ao entrarem na convidativa piscina natural, porém visivelmente suja, da Cascata dos Amores.
Um dos bairros mais privilegiados do município, devido a sua proximidade com o Parque Nacional da Serra dos Órgãos e onde corre o precioso córrego que nasce nas montanhas da serra, a Cascata dos Amores tem uma associação de moradores muito ativa, que inclusive vem se movimentando por melhorias no bairro, mas tem como principal missão a preservação da natureza, muito presente em todas as ruas do bairro.
Saulo Costa de Carvalho, presidente da AMCA diz que seria muito importante o reconhecimento pela administração pública municipal do decreto municipal que estabelece o local como ponto de interesse turístico de Teresópolis. “A nossa associação já faz um trabalho de manutenção do bairro de limpeza das ruas só que a gente tem limite na nossa atuação e aqui a Cascata dos Amores é um bairro turístico reconhecido inclusive por decreto municipal, que estabelece a Cascata dos Amores, a praça, o Recanto das Pedras como ponto turístico e a gente precisa que a prefeitura cumpra esse decreto e inclua a cascata dos amores no circuito turístico da cidade para que haja manutenção e conservação desse espaço aqui tão é importante pros teresopolitanos e pra quem vem de fora conhecer a nossa cidade”, apela Saulo.
Decepção para turistas
Saulo relata que nos fins de semana muitas pessoas vêm para apreciar a Cascata dos Amores e quando percebem o estado de abandono ficam decepcionados. “A nossa decepção junto com a deles é ver esse espaço como se encontra. Embora a prefeitura um momento ou outro tenha vindo aqui feito alguma melhoria e tal, depois não mantém essa situação de melhoria, de manutenção, para poder ter as pessoas com a gente aqui. O que a gente quer é isso, é ver as pessoas usufruindo aqui e com isso que haja uma maior conscientização dos próprios moradores aqui de que eles moram no espaço que é uma joia da cidade.”, destaca o presidente da AMCA.
Água suspeita
Apesar de parecer limpo, o Córrego das Taboinhas sofre agressões enquanto atravessa o trecho urbano do seu curso, até a piscina natural da Cascata dos Amores, Saulo Costa demonstra preocupação com essa questão, mas diz que se houver o reconhecimento do espaço como sendo de interesse turístico, o monitoramente das condições de balneabilidade pode minimizar o impacto sobre o manancial. “Você vê que está assoreando a nossa piscina, a gente não tem condição de fazer essa limpeza. Embora a gente tenha cuidado aqui do espaço da beleza do espaço, da melhoria aqui, mas tem coisas que só máquinas da prefeitura podem fazer e talvez quem sabe esse programa do estado que tá desassoreando rios de Teresópolis, quer dizer a gente tá pedindo meio que um socorro aqui pra poder dar uma virada e para que a Cascata dos Amores seja mesmo reconhecida definitivamente”.
Quem foi criança décadas atrás aproveitou o grande escorrega, diversão garantida no período de verão. Atualmente, é preciso “confiar” na qualidade da água, driblar o assoreamento e lixo do espaço. Foto: Acervo Pró-Memória e Luiz Bandeira
Fiscalização e parcerias
Clarisse Isnard de Maracajá, que também faz parte da AMCA, diz que a associação é membro é do conselho do PARNASO e também durante muitos anos do COMDENA (Conselho Municipal do Meio Ambiente). “Nós estamos na zona de amortecimento do PARNASO, nós já apresentamos a balneabilidade, as condições do córrego. Foi uma iniciativa dos proprietários de fazer uma análise da água de ponta a ponta e entregamos pro poder público. A questão da fiscalização é importante e acompanhar as mudanças que acontecem em termos de legislação e de fiscalização”, explica.
Ela atenta ainda para a importância da conscientização, informação, a valorização do meio ambiente como um todo, visto que muitas pessoas costumam deixar lixo – de todo o tipo – no importante espaço turístico e público. “Esse é um espaço perfeito pra entrar em contato com a natureza, ouvir esse barulhinho do córrego, não é? Do vento, da vegetação e levar consigo o que trouxe. A ajuda, a colaboração do poder público é muito importante para nós”, frisou Isnard.