Luiz Bandeira
O Conselho Tutelar de Teresópolis recebeu nesta última quarta-feira, 17, uma denúncia de que jovens atletas de uma escolinha de futebol instalada nas dependências do Teresópolis Futebol Clube, no bairro Jardim Cascata, estariam passando por condições precárias em alojamentos onde ficavam instalados enquanto realizavam testes de campo. Após verificação, os agentes do Conselho acionaram a Polícia Militar para fazer o acolhimento destes jovens atletas, como explicou a conselheira Monica Carvalho. “Chegando lá os adolescentes estavam todos do lado de fora e eles contaram que estavam no escuro, pois a luz foi cortada, e tinham péssima alimentação e reclamavam que o local era sujo”, revelou a conselheira, dizendo também que acionou o apoio da Polícia Militar para dar continuidade à cão. Em entrevista ao DIÁRIO, Monica Carvalho relatou ainda que teve que usar uma lanterna para conseguir verificar as péssimas condições do local. “E aí a gente realmente viu que aquelas crianças estavam em risco e acionamos os órgãos competentes, uma rede de acolhimento que nos dá apoio”, detalhou a representante do Conselho Tutelar. Para compreender melhor essa história, nossa reportagem ouviu os representantes do Teresópolis F.C., da escolinha de futebol que recebia os adolescentes e o delegado titular da 110ª DP, Márcio Dubugras.
Versão do Conselho
O outro conselheiro que participou da ocorrência, Thiago Duque, relatou que a secretaria municipal de Desenvolvimento Social e o próprio prefeito Vinicius Claussen se empenharam em resolver a situação dos jovens atletas. “A gente conseguiu fazer o acolhimento desses nove adolescentes e no momento do acolhimento infelizmente alguns choraram por temer encerrar o sonho de ser jogador de futebol”, relatou Duque. Como procedimento adotado normalmente em situações de resgate e acolhimento, o Conselho Tutelar dispôs aos adolescentes atendimento psicológico e manteve a Vara da Infância e do Adolescente e o Ministério Público informados das denúncias, diligências e atos gerados a partir do flagrante de tutela indevida de adolescentes pelo Kaska F.C.
Responsável se defende
Vagner Rangel, responsável por trazer e manter os adolescentes e outros jovens atletas no Teresópolis F.C. para treinar na escolinha Kaska F.C., intitula-se gestor de futebol, mesmo admitindo ter apenas três anos de trabalho com categorias de base do futebol. Ele disse também que não há um contrato entre o Kaska e o Teresópolis F.C. para o uso das dependências do clube, porém tanto o presidente do clube quanto o responsável pela escolinha admitem parceria em torno do projeto.
Ao se defender das acusações de que os jovens não se alimentavam direito, Vagner Rangel explicou que são oferecidas aos atletas três refeições diárias e que os responsáveis tinham conhecimento destas condições. Vagner afirmou ainda para o Diário que todos os menores mantêm um documento de autorização em escrito que estavam de posse dos atletas, porém o responsável pela escolinha afirmou também ter com ele apenas a cópia da autorização de três responsáveis. Apesar dos indícios de condições precárias vividas pelos atletas, Vagner lamenta que o Conselho Tutelar não lhe deu oportunidade de reunir condições e os documentos que permitissem abrigar os jovens nas dependências do clube. “Eu pretendo continuar porque eu não faço nada errado, eu não tenho nada para esconder”, lamenta Vagner Rangel.
Outra questão que chama a atenção nessa situação é a captação destes jovens no estado maranhense, que segundo Vagner é realizado por dois parceiros seus no Nordeste que percorrem escolinhas em busca de jovens talentos para integrar o projeto Kaska F.C. “O nosso captador percorre essas cidades observa potenciais atletas e a gente faz essa parceria”, ele admitiu também que vem trabalhando com meninos de São Luiz e São Vicente Ferrer no estado do Maranhão. De acordo com Vagner após encontrar bons atletas, os pais são abordados pelos seus parceiros e convencidos de investir na carreira dos filhos e os enviar, com recursos próprios, aqui para treinar em Teresópolis.
Versão do T.F.C.
O presidente do Teresópolis, Fred Menezes, diz que acredita na idoneidade do gestor do Kaska F.C. “Eu conheço o Vagner há alguns anos já do futebol, disputando competições, respeitado, bem falado. Eu fiz uma parceria com ele, ele nem me paga nada, não tenho nenhum recebimento disso”, garante Fred. Por algumas vezes durante a entrevista, o presidente do T.F.C. questiona a motivação da denúncia relacionando à motivações políticas, pois segundo seu relato no decorrer de sua gestão, vem sofrendo ataques apenas por assumir a gestão de um dos clubes mais tradicionais da cidade. “A gente não conseguiu jogar o Carioca esse ano, né? Pintou um embargo de atividade da secretaria de Meio Ambiente três dias depois da gente ter divulgado que a gente ter divulgado que a gente iria conseguir o Campeonato Carioca deste ano. As motivações não estão ainda muito claras, pelo menos para mim”, declara Fred, que afirmou ainda que as dependências do clube foram classificadas como a terceira melhor do estado dentre os clubes de futebol profissional com alojamentos, ele só não disse qual instituição fez essa avaliação.
Investigação
A Polícia Civil, em parceria com o Ministério Público, investiga a situação dos jovens abrigados de forma irregular em Teresópolis. “A partir do momento que nós tivemos conhecimento desse fato, nós encaminhamos a perícia, foi feito um exame no local justamente para avaliar a situação, observando a condição que as pessoas adultas e menores estavam residindo. Em decorrência do que foi apurado foi instaurado um inquérito policial para que seja apurados os crimes de maus-tratos e estelionato. Várias pessoas foram ouvidas, os menores foram ouvidos no dia de ontem, já foi autorizado o retorno deles para o estado do Maranhão para que retornem para suas famílias”, garantiu o delegado titular da 110ª DP, Dr. Márcio Dubugras, que disse ainda que o inquérito policial está em andamento e que várias situações estão sendo apuradas para obter o resultado final para a investigação ter o devido êxito.
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