Anderson Duarte
Eles já estavam fazendo parte da rotina de Guapimirim e tinham conquistado a simpatia da população e de alguns municípios vizinhos, mas, os peculiares Tuk-tuks que circulavam pelas ruas e avenidas da cidade estão proibidos de prestarem o serviço desde o último dia 12 de março, quando a licença concedida pela Prefeitura foi cassada por irregularidades na prestação do serviço. Os triciclos que mesclam motocicletas e veículos, foram liberados pela Prefeitura de Guapimirim para o transporte de passageiros em linhas voltadas apenas para o turismo, e segundo o governo, não teriam sido respeitados esses aspectos do licenciamento. A comoção pelas redes sociais e o apelo dos condutores e de alguns usuários, fez nossa reportagem descer a serra para conhecer de perto a problemática. O medo do desemprego para os condutores, a demanda criada com o surgimento do serviço, a repercussão nas redes sociais e a necessidade de regulamentação para uma atuação além-atrativos turísticos, faz do problema complexo, mas de necessária resolução para a população guapiense.
Ao pé da serra, com uma paisagem de cinema e envolto a inúmeras belezas oferecidas pela região, estavam dois Tuk-tuks da empresa “Guapi Tuk Tour”, agora sem a rotina de viagens atrás de viagens que se via recentemente. Melancolicamente parados em uma garagem, os dois modelos Motocar, antes circulavam entre dez estações de embarque e desembarque de passageiros que ligavam a restaurantes, cachoeiras, turismo rural e cervejeiro. Cada veículo transporta confortavelmente dois passageiros, equipados com cintos de segurança individuais, sistema de som, itens de segurança e até bagageiros, tornaram rapidamente uma solução para a falta de alternativas ao mercado de transporte de passageiros e carga em determinadas comunidades, que nunca tiveram tais opções. Nesta demanda criada, segundo o Secretário de Segurança, Ordem Pública e Defesa Civil do município, Leonardo Rodrigues, é que se deu a mais grave das faltas do serviço, ou seja, não atuar exclusivamente para o Turismo.
“Essa foi uma necessidade que percebemos durante o curso do trabalho. As pessoas sabiam que o serviço era seguro, com um preço justo, rápido e disponível em diversos horários. Nem fomos nós que criamos essa variação, os próprios usuários destes locais sem o serviço de transporte oferecido decentemente é que acabaram por nos pedir para fazer as viagens fora dos pontos de referência. Agora nós não somos um transporte clandestino, pelo contrário, trabalhos de forma legalizada, com os itens de segurança em dia, com conforto, e o melhor, com a atuação onde o transporte convencional não consegue ir”, explica o condutor Renan Rodrigues, que ao lado do seu companheiro de trabalho Juvenil Dias ainda recebem ligações pedindo o serviço, mas que hoje lamentam o desemprego batendo a porta. “É uma fonte de renda, todos nós temos família para sustentar e estamos dentro da legalidade, só queremos ter o direito de trabalhar e ajudar a população, também nos ajudando, claro. Nós somos trabalhadores honestos e a população sabe disso”, enaltece Juvenil.
Segundo o Secretário de Segurança, Ordem Pública e Defesa Civil do município, Leonardo Rodrigues, a mais grave das faltas do serviço foi justamente não atuar exclusivamente para o setor do turismo como pedia sua lei
Assim que o serviço foi cancelado, muitos usuários foram pegos de surpresa, como Simone Inácio, que além de não concordar com a paralização do serviço, ainda usou as redes sociais para demonstrar seu descontentamento. “Eu liguei para o Juvenil, pois tinha um compromisso médico e precisava do atendimento do Tuk-tuk, mas fui surpreendida pela informação de que eles estavam impedidos de circular. Onde eu moro não há condições de se contar com o transporte público e as opções alternativas ou são inexistentes ou são inviáveis pelo seu custo, como é o caso dos táxis, que são caríssimos em Guapimirim. Indignada por não conseguir chegar ao meu compromisso como precisava, e também com aquilo que eu considero arbitrário, eu fui para o Facebook e fiz uma postagem que logo em seguida ganhou uma repercussão inacreditável, com quase mil compartilhamentos. A população está a favor do serviço e nós esperamos que seja feita uma adequação ou que se reveja essa decisão, pois não é justo para o usuário, depois de ter um serviço tão bacana assim, ter que deixar de lado e voltar a passar por privação”, lamenta Simone, que também concorda com a necessidade da volta do serviço para o município.
Entre suas muitas funcionalidades está o fato do veiculo reunir em um só produto, o baixíssimo custos de manutenção e consumo de combustível, com a agilidade para se chegar onde não há possibilidade do transporte convencional alcançar. Segundo nossa reportagem apurou na cidade, muitas são as comunidades no município, que padecem de um serviço de transporte público eficiente e confiável, talvez por isso, tanta repercussão e necessidade de buscar soluções para o retorno dos veículos a circulação. Para Tânia Ferreira, empresária que investiu no negócio, e trouxe a novidade para Guapimirim depois de inspirações de viagens ao exterior, além dessa lacuna preenchida, é preciso que se enxergue a novidade como uma ferramenta, ou seja, para agregar qualitativamente no trânsito da cidade. E esse uso além dos pontos turísticos, que nós entendemos ser uma necessidade apontada pela própria população, também precisa ser levado em consideração, e foi um processo espontâneo. Como ele tem um bagageiro avantajado, é claro que a população já encontrou uma funcionalidade que nós não havíamos percebido de início. O visual do Tuk-tuk é bem simpático para os turistas, mas a possibilidade de acessar ruas estreitas, por exemplo, acabou sendo uma finalidade que a própria população alcançou. Sem contar que é fundamental pensar em alternativas mais acessíveis para a população no setor de transporte público”, lembra Tânia que espera que sua reunião marcada para a próxima semana com o Prefeito Zelito Tringuelê seja para resolver o problema e voltar a circular com os veículos simpáticos e práticos.
Considerado um agente público de medidas enérgicas e produtivas, o Secretário de Segurança, Ordem Pública e Defesa Civil do município, Leonardo Rodrigues, gentilmente nos recebeu na sede da Nova Prefeitura de Guapimirim, e nos explicou que além do desvio de atividade, que está previsto na própria norma que autoriza o funcionamento do transporte, outras irregularidades foram verificadas. “Desde que iniciamos o trabalho no setor de Ordenamento de Trânsito, no início deste ano, estamos pegando todas as denúncias apresentadas sobre a área e averiguando. Além do problema dos Tuk-tuks, também averiguamos outras possibilidades de regularização de serviços de transporte alternativo, como os táxis, por exemplo. Mas depois de uma verificação de campo, inclusive com amplo material comprobatório do desvio da atividade, ferindo o próprio Artigo 4º, da Lei 1019, de dezembro de 2017, e que regulamenta a atividade no município, decidimos pela cassação do serviço, algo previsto no próprio artigo citado. Mas, para além disso, entendemos que outros aspectos como a qualificação dos condutores, os antecedentes documentais deles, a própria documentação da empresa responsável pelo serviço e composição tarifária, por exemplo, precisam ficar mais claras, com vistas a segurança dos usurários. Não estamos negando a dificuldade de acesso e capilaridade do transporte público em determinadas regiões do municípios, mas estamos buscando a regulamentação de serviços alternativos justamente para dar mais segurança aos usuários guapienses. No caso dos táxis, por exemplo, a instituição dos taxímetros, da bandeira tarifaria como a mais barata da região e o recadastramento das licenças concedidas a este tipo de serviço, acreditamos que já teremos um impacto positivo no setor”, explicou Leonardo.
Para Tânia Ferreira, empresária que investiu no negócio, e trouxe a novidade para Guapimirim depois de inspirações de viagens ao exterior, além dessa lacuna preenchida, é preciso que se enxergue a novidade como uma ferramenta positiva para a cidade