Luiz Bandeira
Lojistas da cidade vêm enfrentando um crescimento preocupante de pequenos furtos em seus estabelecimentos, nos mais diversos horários e situações. Apesar da atuação das forças de segurança — como a Guarda Municipal e a Polícia Militar — comerciantes apontam que a reincidência de crimes e a sensação de impunidade têm dificultado o enfrentamento do problema e aumentado os custos operacionais dos negócios, o que no final das contas pode ser ruim para o consumidor.
O empresário Odenir Cardoso, conhecido como Quincas, relata que há casos de furtadores que são levados duas vezes à delegacia no mesmo dia. “Tem pessoas que furtam, vão na delegacia duas vezes no mesmo dia. E o pior: depois passam aqui na frente do nosso comércio com a maior cara de deboche”, diz. Para ele, o problema central está na legislação atual, considerada branda demais. “A gente solicita a ação policial e tem resposta, mas infelizmente hoje eu acho que a legislação é muito branda em nosso país e permite essa liberação dos ladrões”.

Impacto direto no consumidor
Para conter os prejuízos, comerciantes têm investido em sistemas de segurança, treinamento de funcionários e até modificado a disposição de mercadorias — principalmente itens de maior interesse dos ladrões, como fraldas, leite, produtos de higiene e cosméticos. “Cada vez há mais interesse em fralda, no leite… Então os comerciantes têm que ficar mudando o local dos produtos pra tentar diminuir esse ataque”, explica Quincas, citando ainda que há grupos diferentes para cada tipo de produto.
Além do investimento em equipamentos de monitoramento, que podem ser bastante caros, muitos empresários estão formando redes de apoio entre si, como grupos de WhatsApp, para alertar outros estabelecimentos sobre suspeitos. “Se uma pessoa tenta furtar em uma loja e é reconhecida, já avisamos os outros. É uma forma de nos protegermos, já que muitas vezes os criminosos agem em sequência em vários pontos”, diz o empresário.
Funcionários estressados e vigilância constante
A rotina de trabalho também tem sido afetada. “Os nossos funcionários já ficam nervosos quando veem alguém suspeito entrando. Estão trabalhando sob tensão o tempo todo”, relata Quincas. Para evitar abordagens constrangedoras ou perigosas, algumas lojas estão usando códigos internos para alertar sobre comportamentos suspeitos, mantendo discrição e agilidade na comunicação entre os funcionários.

Relato direto da linha de frente
Gerente da loja Terê Pão, Alcinei Cunha confirma o aumento expressivo nos casos de furto e compartilha a mesma percepção de impunidade. “O furto aumentou bastante. A gente tem observado aí de uns tempos pra cá. Quer dizer, o cara vem aqui, ele furta, a gente vai pra delegacia com ele, perde tempo lá, ele tem um monte de passagens… E daqui a pouco ele sai na nossa frente. A gente fica lá ‘preso’ fazendo registro e ele sai”, desabafa. Alcinei destaca ainda os investimentos que a loja tem feito para enfrentar a situação. “Implantamos um sistema de monitoramento. Qualquer suspeita, se o cliente colocar algo dentro da bolsa ou do casaco, vai detectar. Já estamos cientes e preparados. Também treinamos nossa equipe constantemente.”

Importância da união
Alcinei defende o trabalho em rede entre comerciantes: “Criamos um grupo de WhatsApp entre os lojistas. Se alguém tenta furtar aqui, já avisamos os outros. Assim evitamos que o crime se repita em outra loja.”
O que diz a lei
O Código Penal Brasileiro estabelece pena de 1 a 4 anos de reclusão e multa para o crime de furto. No entanto, quando o valor do bem furtado é considerado pequeno, o criminoso pode receber uma pena reduzida ou até ser punido apenas com multa, no chamado ‘furto privilegiado’, havendo a liberação para responder em liberdade ao processo. Esse abrandamento, embora previsto em lei, tem gerado críticas entre comerciantes, que veem na impunidade um dos principais incentivos à repetição dos delitos. Assim, enquanto não há uma revisão legislativa ou mudança de postura judicial em relação ao tema, os lojistas seguem buscando alternativas para tentar reduzir os prejuízos — e manter as portas abertas.
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Uma grávida não se intimidou com o monitoramento por câmeras. Ela foi identificada e detida dias depois. Foto: Reprodução