Anderson Duarte
Com o dinheiro que a prefeitura espera gastar em passagens aéreas até o final do curto mandato do Prefeito Vinícius Claussen dava para ir e voltar, com todas as taxas incluídas, para Orlando, na Flórida por 120 vezes, ou então, se deslocar para Brasília por mais de quinhentas vezes, e se a viagem for mais curta, do tipo ponte aérea Rio São Paulo, são 735 idas e voltas. Mesmo com uma previsão orçamentária deficitária na casa de mais de R$ 100 milhões este ano, e com o discurso da carga negativa deixada por gestões anteriores, o governo Claussen espera conseguir em processo licitatório marcado para amanhã, 29, a aquisição de cerca de 350 mil reais com passagens aéreas e hospedagens pelo período de um ano. O discurso da contenção de despesas, que inclusive forçou a mudança de horário de trabalho das repartições públicas municipais e promoveu outras medidas de contenção para estar superado de vez.
Economizar não parece mesmo ser o lema da gestão nesta segunda etapa de seu mandato. Depois da compra dispendiosa de ovo “orgânico” caipira, bem acima da tabela de mercado e outras extravagâncias, chegou e vez de viajar um pouco para espairecer. Mas, segundo especialistas em Direito Público consultados por nossa reportagem, apesar de não se tratar de ato ilícito, já que obedece a todos os trâmites da disputa de preços e garante a participação de muitas empresas, teoricamente, o tema de aquisição de passagens aéreas pela administração pública continua sendo um problema recorrente em muitas cidades e fonte de diversos questionamentos éticos, sobretudo quando se pesa a alegação de crise financeira e de arrecadação para questões de aplicação de percentuais mínimos e investimentos em áreas fundamentais, comumente aplicado em proposições da gestão pública.
“Acho no mínimo desproporcional essa medida. O município não está com problemas financeiros? Não foi divulgado um déficit milionário este ano? Só queria entender como uma gestão que quer racionalizar o uso do dinheiro público faz uma compra desse tipo. E agora vem sempre alguém dizendo que não é para usar tudo isso, que é apenas para ter o valor reservado caso seja necessário, acho sinceramente que essa mesma organização toda e empenho do governo deveria ser aplicada em áreas mais importantes. Tá faltando remédio na saúde, não se consegue licitar compras elementares como a de pneus e coisas do tipo, mas ainda assim se pensa em transporte aéreo. Sinceramente só posso entender uma medida como essa como sendo mesmo desproporcional com o discurso de alteridade nos custos”, lamenta um seguidor das redes sociais do Grupo DIÁRIO ao comentar o assunto em uma de nossas publicações.
Vale ressaltar que gestores públicos, principalmente os prefeitos, vão frequentemente a Brasília, em viagens de avião, em busca de recursos nos ministérios ou de emendas parlamentares de deputados e senadores. Ao contratar a empresa para a compra das passagens, a Prefeitura garante as eventuais viagens do prefeito e de seus secretários ou assessores, quando for necessário, bem como as hospedagens de todos os respectivos usuários definidos pela gestão. Mesmo em tempos difíceis como sustenta o discurso do prefeito, uma viagem aqui, ou acolá, não dá para abrir mão. O prefeito e o vice assumiram na Justiça o compromisso de doarem os seus proventos enquanto ocupassem os respectivos cargos, entretanto neste tipo de casos, a preocupação com os gastos da prefeitura não parece estar presente.
Legenda:
A compra de passagens áreas supera o valor total empenhado em muitas secretarias. Com viagens de avião e hospedagens pelos próximos meses de mandato, o governo Claussen espera gastar R$ 350 mil