Luiz Bandeira
Marcello Medeiros
Nesta quinta-feira, 28, o titular da 110ª Delegacia de Polícia, Dr. Márcio Mendonça Dubugras, recebeu equipe do jornal O Diário de Teresópolis e Diário TV para detalhar o crime bárbaro cometido por um casal natural de Nova Friburgo em um hotel no centro da cidade, onde estava residindo nas últimas semanas. De acordo com a Autoridade Policial, na última terça-feira a DP recebeu uma denúncia sobre o suposto aborto de um feto, que teria sido expelido em um vaso sanitário da suíte ocupada pelo casal. Ao averiguar a situação, o Dr. Márcio achou a história muito estranha e tratou de aprofundar a investigação. “Como é que houve um aborto em que o feto estaria dentro de um vaso? Isso nos chamou atenção e nós fomos para o local junto com a perícia e lá encontramos o quê aparentava ser um feto, mas que na verdade era uma criança de aproximadamente sete ou oito meses de uma gestação que estava com todos os órgãos, tinha cabelo e estava pronta para o nascimento”, relata o delegado.
Ainda segundo ele, o depoimento do casal apresentava várias contradições com informações desencontradas. Hóspedes vizinhos ao quarto do casal e funcionários do hotel também foram ouvidos e relataram à polícia que foram acordados na madrugada pelo homem, que dizia que sua mulher estava passando mal. Uma das pessoas que prestou a informação foi justamente quem tirou o corpo do bebê de dentro do vaso sanitário e colocou na cama. “Quando ocorre um aborto espontâneo é considerada uma morte natural e aquele corpo não é levado nem para o IML (Instituto Médico Legal), porque você só encaminha para o IML quando existe uma suspeita de morte violenta, mas nós achamos por bem mandar para fazer a necropsia e o perito, de uma forma muito profissional, se dedicou bem àquela situação. Uma das coisas que eu queria saber era se aquele ser tinha nascido com vida. Isso foi comprovado através do exame pericial na necropsia, de que aquele ser respirou, teve vida extra uterina, ela nasceu com vida e respirou, se tratando não de um feto mas de uma criança que nasceu com vida e por isso nós entendemos se tratar de um homicídio qualificado e prendemos o casal”, detalha, indignado o Dr. Márcio.
Condições da morte
O Delegado acrescenta que possivelmente a causa da morte da criança foi o fato de ela ter sido expelida naquele local. “Estamos tentando comprovar afogamento, mas existe notícia de que pode ter sido utilizada uma substância abortiva, produto que contribuiu justamente com o fato dela ter um parto antecipado e a criança ser expelida dentro de um vazo”, denuncia. No interrogatório, a polícia descobriu que a mãe da criança morta havia tomado recentemente substâncias químicas ainda não definidas, através de quatro injeções compradas de uma pessoa que está sendo investigada por vender e aplicar medicamento não recomendado para gestantes e sem indicação médica.
“Sem condições”
O Delegado Titular da 110 DP explicou ainda que no depoimento o casal afirmou que não tinha condições de criar a criança, aumentando assim a suspeita do aborto e na continuidade o homicídio. As investigações buscam mais detalhes sobre a vida do casal, que morava temporariamente no hotel. “Eles estavam residindo algum tempo aqui em Teresópolis e nós estamos verificando o motivo de estarem aqui. Nós não temos notícia ainda de que eles trabalhavam aqui, a gente está analisando essa questão”, explica o Dr. Márcio. Após a prisão, foram colhidos os depoimentos e o casal foi encaminhado para o sistema penitenciário, no Rio de Janeiro, onde irão responder pelo crime de homicídio qualificado – cuja pena que varia entre 12 e 30 anos de reclusão.
Como encaminhar um bebê para a adoção
O que leva uma mãe a cometer tal ato? É possível encaminhar uma criança para adoção ainda durante o processo de gestação? Quantas pessoas em Teresópolis estão na fila de espera por uma criança como a que foi deixada em via pública? Sobre o tema, no ano passado conversamos com a Psicóloga Eliana Bayer e a Assistente Social Cátia Regina, da Vara da Infância e Juventude em Teresópolis, profissionais que acompanhavam o caso de um bebê abandonado em Agriões e já auxiliaram no desenrolar de outras histórias semelhantes nos últimos anos – sempre buscando garantir os direitos dos principais afetados nesses casos, as crianças. Na ocasião, Cátia Regina lembrou que há um caminho melhor tanto para a gestante quanto para o bebê, o encaminhamento para a adoção legal. “Não é crime você vir na Vara da Infância e entregar filho em adoção, muito pelo contrário. Você está dando para uma entrega segura. Se não pode cuidar, procure a Vara da Infância e haja com responsabilidade. Quando se deixa na rua exposto, pode vir um cachorro, um rato e morder, o bebê não pode se defender. Isso sim é um crime. Procure a Vara da Infância. Vamos deixar você falar. Sabemos que a pessoa pode estar em estado de sofrimento muito grande e quando procura a gente a família acaba amparando de alguma forma. Se ainda assim optar em doar, temos várias pessoas que ficam na fila quatro, cinco anos, esperando para adotar porque não temos um bebê. Sabemos que mães como essa ficam numa solidão muito grande e que ninguém está questionando sobre o pai, só sobre a mãe. Ela é muito sobrecarregada de culpas e estamos aqui para ouvir e dar direção na vida dessa criança”, destaca a Assistente Social.
É grande a fila de espera para poder dar um lar para uma criança em Teresópolis. “Temos o cadastro local e o cadastro nacional. Que é controlado pela CNJ. Quando entra uma criança para adoção, primeiro vamos ao cadastro local, para qualquer idade. Se fala muito em bebês, mas qualquer criança até 18 anos incompletos é problema nosso, buscamos famílias para todo mundo que não tem uma família. Os bebês, sabemos que imediatamente são colocados em um lar, mas temos também crianças mais velhas que também querem, adolescentes disponíveis para adoção”, lembra a Psicóloga Eliana. A Vara da Infância e Juventude de Teresópolis funciona no segundo andar do Fórum Ivo Carvalho Werneck, na Rua Carmela Dutra, 678, Agriões. Os telefones para contato são 3644-7929 e 3644-7931. O e-mail é o terjij@tjrj.jus.br