Luiz Bandeira
O flagrante de invasão de um prédio público por um mulher em situação de vulnerabilidade social mobilizou a Secretaria Municipal de Desenvolvimento Social neste último fim de semana. O fato foi destaque na edição de sábado do jornal O Diário, quando mostramos que, além de ter sido abandonado pela prefeitura e depredado por vândalos e ladrões ao longo dos últimos anos, o local que era para ser a Escola Municipal Aluízio de Souza Silva, em Providência, no Segundo Distrito, passou a servir de moradia para uma pessoa. Antes mesmo da divulgação da reportagem, entramos em contato com o responsável pela pasta, Valdeck Amaral, que garantiu estar sensível à situação da moradora. Nesta segunda-feira, realizamos entrevista com o secretário para detalhar o apoio prestado a essa teresopolitana – que após ser obrigada a deixar o lugar onde morava, e estar sem trabalho, se viu obrigada a ocupar o prédio público.
Essa triste história teve início quando nossa equipe de reportagem recebeu a incumbência de cobrir a pauta do dia, vistoriar e relatar o estado de abandono da escola municipal, às margens do quilômetro 62 da rodovia BR-116. A intenção era traçar um paralelo entre como é aplicado e o quanto se investe de recursos atualmente na Secretaria de Educação e o quê realmente seria de grande valia para estudantes, pais e responsáveis – como a recuperação desse importante espaço público. Nossa pauta já estava municiada de material midiático e evidências para a produção de uma matéria para o jornal O Diário e Diário TV, em forma de denúncia, cobrando das autoridades providências em prol dos moradores de Providência. Porém o inusitado reservou uma lastimável surpresa para a nossa equipe. Enquanto registrávamos a depredação do prédio, uma mulher apareceu, chegou até nós e revelou que morava no que restou da escola. Muito falante Denise Silveira, agricultora, sem precisar ser questionada, disse que foi despejada de onde morava e quando viu a escola, achou que poderia ocupar o espaço abandonado pelo município. Seus móveis estão arrumados, divididos em espaços que para ela são a sua sala, com sofás e uma geladeira, uma cozinha com armário, fogão e panelas e um quarto com uma cama de casal, arrumada com lençóis e travesseiros.
A senhora se disse doente, apresentou exames e receitas e garantiu ainda que já havia dado entrada no pedido pelo Aluguel Social. “Com a assistente social, Dra. Daniele. Ela me deu uma cesta básica”, disse. Durante inauguração do CRAS Bonsucesso, no Terceiro Distrito, Valdeck Amaral detalhou o trabalho da secretaria nesse caso específico. “O caso da dona Denise, ela está sendo acompanhada desde novembro do ano passado quando ela teve um problema com o esposo, ele abandonou ela e na época ela procurou a Secretaria da Mulher e ali já iniciou um processo de cuidado da Secretaria de Desenvolvimento Social. Depois ela achou aquela escola e ficou ali residindo, ela necessitou, nós fomos lá, não podia ficar lá, encaminhamos ela para o conselho tutelar por causa da criança, encaminhamos ela para a Secretaria da Mulher e iniciamos o processo do aluguel social”, garantiu o Secretário de Desenvolvimento Social.
Quando encontramos dona Denise na escola abandonada ela estava só, sem criança e sem o esposo, e ela admitiu que mora sozinha. O secretário disse que está sensível ao problema pelo que passa a agricultora. “Nós chamamos ela lá e iniciamos esse processo, está em andamento, o processo está em andamento para que a gente possa verificar a possibilidade de dar a ela o aluguel social”. Valdeck esclareceu ainda que a questão da invasão da escola não está sob sua competência, que a equipe se concentra sempre em sanar questões de cunho social, o acompanhar a pessoa atendida, coibir a violência, evitar um risco que ela possa estar correndo ou ainda, atender uma necessidade primária como alimentação. O secretário disse que vai acompanhar diretamente o caso da agricultora dona Denise.
De escola moderna a prédio fantasma
A escola em questão tem um projeto arquitetônico inteligente, uma obra ampla, feita com os melhores materiais e construída no final governo do prefeito Roberto Petto, às vésperas da eleição de 2008. O equipamento público atenderia uma demanda até hoje não sanada, de carência de vagas em escolas públicas no Segundo Distrito. Porém não houve um estudo de viabilidade para garantir a segurança de estudantes e responsáveis, em circulação no acostamento da movimentada estrada. A concessionária que administra a rodovia (CRT), alertou à época “sobre a falta de apresentação de um projeto de viabilidade para construções às margens de rodovias federais”, o quê não permitiu a liberação de funcionamento da referida escola. Em 30 de setembro deste ano, a Escola Aluízio de Souza Silva fará 14 anos sem nunca ter recebido um aluno se quer, sem que nenhuma aula tenha sido ministrada nas modernas salas. O descaso e o abandono de seguidos governos municipais facilitaram o furto de partes do prédio, a depredação e o desgaste. Hoje apenas as paredes e parte do teto ainda resistem a evidente depredação.
Fotos: Luiz Bandeira